Dízimo diferente: o ego é ‘purificado’ pela cabeça
Para aqueles que carecem de qualquer tipo de restrição moral ou ética, trabalhar no ramo da religião é uma ótima opção. Além dos lucros próprios do empreendimento, totalmente livres de impostos, é possível integrar esta atividade com a política, as artes etc. potencializando os benefícios.
Na maioria das vezes os empreendedores deste setor procuram se focar em um público alvo. Alguns preferem abrir as portas dos seus templos somente para emergentes e celebridades. Outros se especializam no segmento gay, na “classe média” etc. Em geral, o mais importante é assegurar as contribuições do chamado dízimo por meio de um carnê, e depois tentar arrecadar algum extra.
Aos trabalhadores mais pobres, a primeira diretiva dada é no sentido de que deixem de ir a os estádios de futebol e que parem de tomar uma cerveja com os amigos aos finais de semana. Ao desistir desses momentos de lazer, espertamente qualificados de pecado, a vítima recebe a segunda diretiva: doar o dinheiro que não gastou na sua diversão para o empreendedor.
Em linhas gerais, estes são os parâmetros com que se trabalha no mercado brasileiro.
Mas, imaginem um lugarejo paupérrimo, onde os miseráveis quase não têm o que comer, e nem forças para trabalhar direito. É possível tirar daqueles que não têm nada? Seria como extrair água das pedras. Certamente os nossos midiáticos pastores desistiriam de tal desafio, nenhum padreco metido a cantor veria futuro na empreitada. Porém, a resposta é sim. É viável ganhar muito dinheiro com um templo dedicado aos miseráveis e a prova disto vem da Índia.
E que ninguém imagine que o negócio consiste em pedir contribuições ao exterior para ajudar aos pobres e depois apossar-se dos donativos. Isso seria baixo, mesquinho. A idéia é mais sofisticada, requer certa logística, mas funciona.
Entre os indianos a religião os leva a cumprir com o ritual de visitar o templo de Tirumala algumas vezes na vida. O apelo é tamanho que os que moram distante não duvidam em percorrer centenas de quilômetros. Todos os anos chegam milhares de pessoas. Cada peregrino, ao entrar no templo, tem a cabeça raspada. Doando o cabelo à deidade (deus) se estaria renunciando ao ego; esse seria o pecado local a ser combatido. São 650 cabeleireiros 24 horas por dia. Menino ou adulto, mulher ou homem todos entram cabeludos e saem carecas. Sem mais, satisfeitos por terem cumprido com a missão sagrada, já podem iniciar o caminho de volta.
São colhidos 400 kg de cabelo diariamente. Ali mesmo no templo é lavado, secado e logo depois leiloado.
Pouco tempo depois, com essa matéria prima de alta qualidade são confeccionadas as perucas, apliques e mega hair mais caros do mundo. Assim, quando vemos as famosas, as divas da música, atrizes internacionais e endinheiradas em geral, luzindo longas e volumosas madeixas, devemos lembrar que é bem possível que esses cabelos tenham pertencido a uma miserável moça indiana.
Não existem valores oficiais sobre o lucro auferido pelos administradores do templo. Especialistas do ramo o estimam de 4,7 e até 20 milhões de dólares por ano só com o cabelo.
Quem quiser saber mais um pouco sobre o dia-a-dia do templo de Tirumala e com respeito ao mercado internacional do cabelo pode conferir no documentário The Human Hair Trade (O mercado do cabelo humano) dirigido por Adrian Fisk.