Enchentes no Nordeste: Estado é cúmplice do desastre

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Enchentes no Nordeste: Estado é cúmplice do desastre

Segundo um estudo realizado em 2007 pelo Ministério da Integração Nacional e pela Secretaria Nacional de Defesa Civil, os resultados das chuvas que destruíram várias cidades de Pernambuco e Alagoas entre os dias 16 e 18 de junho eram previsíveis. O documento também criticava os gastos exorbitantes dos gerenciamentos de turno com medidas paliativas, sem se preocupar com a prevenção dos desastres. Mas pelo visto, seu conteúdo foi desprezado por Luiz Inácio, que agora derrama lágrimas de crocodilo diante dos holofotes.

Fotos: Antonio Cruz/ABRi
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Jacuípe (AL): Força Nacional de Segurança é enviada
para reprimir população vitimada pelas enchentes

No texto, o coordenador geral de cursos do Ministério da Integração Nacional, Lélio Bringel, alerta que "na região Nordeste, são inúmeros os rios que sofrem enchentes. Todos os estados da região sofrem também inundações cíclicas, muito frequentes nos estados de Pernambuco e Alagoas. Embora não exista estimativa de quanto poderá representar a perda econômica anual pelos danos materiais, de serviços (essenciais e outros), produção, etc., sabe-se que a soma dos valores obrigatoriamente aplicados no socorro e na assistência aos desastres e calamidades públicas representará uma cifra gigantesca que, normalmente, passa despercebida".

Ele conclui condenando as políticas paliativas e demagógicas dos gerenciamentos de turno para amenizar a dor das vítimas de tragédias como essa. "Continuar atuando, de forma improvisada, depois que os desastres acontecem significa aumentar o sofrimento, as perdas econômicas, paralisar o desenvolvimento e regredir no tempo".

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Branquinha (AL): vítimas da enchente do Rio Mundaú

O descaso dos gerenciamentos de turno é tamanho, que segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), em oito anos, Luiz Inácio gastou apenas 0,74% dos 442,5 milhões em recursos do Orçamento de 2010 "para prevenção e preparação de desastres". Ainda de acordo com o Siafi, apenas 1 milhão de reais foi investido em obras de prevenção de desastres no Nordeste.

Enquanto isso, os reacionários de plantão aproveitam a oportunidade para acirrar a repressão às massas. É o caso de Eduardo Coutinho (PSB), prefeito de Água Preta, cidade com 30 mil habitantes que foi novamente atingida pela chuva no dia 29 de junho, 11 dias após o primeiro temporal. No início de julho, o prefeito disse que irá prender quem quiser voltar para casa para resgatar pertences ou reabitar as regiões atingidas.

— Vamos usar força policial e prender quem resistir. Tem gente que é muito teimosa — esbravejou o político, enquanto os 10 mil desabrigados de Água Preta lutam entre si para repartir meros 500 litros de água, 350 de leite e 800 quilos de alimentos disponibilizados pela prefeitura.

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Barreiros (PE): destruída depois das violentas enxurradas que abalaram a região

Enquanto isso, a população de cidades como Colônia Leopoldina, na região Norte de Alagoas, segue perdendo alimentos e medicamentos por conta da falta de energia. Em Branquinha, a 69 quilômetros de Recife, 150 camponeses pobres foram resgatados de um latifúndio que ocupavam depois de uma semana a espera por socorro. Alguns deles disseram ter se alimentado de barro para sobreviver. Em outras cidades, como Palmares, no interior de Pernambuco, o retrato da barbárie: desabrigados brigando por toneladas de alimentos estragados jogados na lama pelos comerciantes.

Outro problema são as doenças trazidas pela água da chuva misturada ao lixo. Em Maraial, na Zona da Mata Sul, a 133 quilômetros do Recife, 80 pessoas da cidade e de municípios vizinhos procuraram atendimento no Hospital Menino Jesus por causa de vômitos e diarreia. Os casos preocupam os médicos, já que a cólera é endêmica na região da Zona da Mata Sul.

Mesmo com todas as dificuldades, no dia 7 de julho, camponeses de várias regiões atingidas pela chuva no Nordeste bloquearam a BR-101 no Recife, na altura da Cidade Universitária, em protesto exigindo mais agilidade nas ações de ajuda às vítimas das chuvas em Pernambuco e Alagoas.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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