Comemorando vinte anos de carreira, Carmem Queiroz, paranaense radicada em São Paulo, lança seu quarto disco, no qual presta homenagem a algumas das mais importantes vozes femininas da história da música popular brasileira, que influenciaram sua vida e carreira. Com uma agenda cheia e anos de experiência em bares noturnos paulistanos, é ainda relativamente pouco conhecida do grande público, assim como muitos outros bons companheiros.
— Sou a mais nova de seis irmãs e um irmão, em uma família onde a música imperava. Minha mãe cantava e tocava seu bandolim. Meu pai gostava de dançar e comprar instrumentos musicais para nós. Queria sempre nos ver em rodas de músicas e levava os amigos para tocar lá em casa. Todas as minhas irmãs cantavam e se apresentavam em festas e outros eventos, contudo, nunca pensei que seria cantora, por ser muito tímida. Acabei me formando professora, mas chegou um momento em que a música falou mais alto — conta Carmem.
— Comecei fazendo a voz principal de um coral, depois vieram os bares noturnos, isso tudo em Sorocaba, onde morava. Meus pais eram paulistas, mas todos os filhos paranaenses. Nasci em Cornélio Procópio e, durante a infância e adolescência, morei em várias cidades, entre elas Santa Rita do Sapucaí, MG, Porangaba, SP. Vim para São Paulo procurando mais campo de trabalho, isso já no final da década de 1980 — continua, sempre alegre.
— Aqui na capital, o Bom Motivo Bar foi extremamente importante para mim, porque lá cantava e contava a história da música popular brasileira. O dono, Roberto Lapicirella, é um pesquisador da nossa música e tinha todo o capricho de fazer um caderninho com todas as letras que iríamos cantar. O bar ficava cheio, todo mundo recebia um caderninho e nos acompanhava, muitas vezes, nas músicas desconhecidas — comenta, acrescentando que o bar ainda existe, mas tem outro dono e segue outra linha.
Carmem revela que, através desse trabalho, obteve o repertório antigo que canta até hoje, obras de Ataúlfo Alves, Erivelto Martins, Nélson Cavaquinho, Dorival Caymmi, Noel Rosa, e muitos outros.
— Depois desse tempo tão rico, lancei meu primeiro disco, o Flor da Paz, um registro das coisas que gostava de cantar. E também podia se notar um pouco da música de raiz, porque gravei compositores regionais como Vidal França e João Bá, juntamente com a MPB do Geraldo Vandré e Cartola — explica.
— Nessa época, paralelamente à carreira solo, participava de um grupo folclórico, o Bando Flor do Mato, divulgador da música regional. Também participei do grupo Bando da Rua e, todo o tempo, mesmo já fazendo meus shows, continuei me apresentando nos bares noturnos, algo que realmente gosto — confessa.
Em 2000, Carmem gravou Leite preto, partindo para o lado do samba cadenciado, tipo que gosta muito. Em 2004, lançou seu terceiro disco, Do meu jeito. Paralelamente, participou de projetos como: Samba em Sampa; Seis no Samba; Damas do Samba; Viva Zumbi dos Palmares; e Natal Brasileiro e Mulheres do Sol, junto à Dona Ivone Lara, Nei Lopes, Luiz Carlos da Vila, Martinho da Vila e Inezita Barroso.
Voltando às raízes
E depois de um longo período de afastamento dos discos, Carmem lançou em abril/maio o CD Enquanto eu fizer canção.
— É uma retomada do meu começo, homenageando as cantoras que sempre gostei de cantar e que, de certa forma, me influenciaram com o seu repertório, postura de palco, timbre. Selecionei onze dessas cantoras especiais: Carmem Miranda, Elizete Cardoso, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Aracy de Almeida, Gal Costa, Elis Regina, Nana Caymmi, Maria Bethânia, Clara Nunes e Beth Carvalho — expõe Carmem.
Na hora de escolher o repertório, segundo afirma, Carmem Queiroz foi buscar em sua memória afetiva sua ligação particular com as cantoras que admira. Além delas, buscou no fundo de suas recordações uma canção que remete a si própria: Estrada do Sertão, do violonista João Pernambuco. Com essa amplitude e variedade, o disco vai além das homenagens às cantoras, tornando-se um tributo à canção popular brasileira.
— Homenageio as cantoras através de suas canções, mas sigo meu estilo. Somente Ângela Maria divide o palco comigo, em determinado momento do show. Inclusive, dedico o CD a ela, que considero um marco entre as artistas que presto tributo. Ela começou sua carreira inspirada em Dalva de Oliveira e foi a principal referência de Elis Regina. Acredito que pode ser considerada uma síntese do que somos todas nós — declara.
— Comemorando meus vinte anos de carreira, também canto canções de outros discos nesses show. Estou apostando muito nesse trabalho e pretendo correr o interior do estado com ele, levando o espetáculo para quem não tem oportunidade de sair de sua cidade — continua.
Enquanto trabalha os shows do seu disco atual, Carmem continua cantando nas noites paulistanas. Por exemplo, se apresenta toda segunda sexta-feira do mês a partir das 23:00hs no bar Ó do Borogodó.
— Lá, temos um público muito jovem, uma garotada universitária ligadíssima em música popular brasileira. É um prazer enorme cantar para esse pessoal. O bar é bastante conhecido aqui em São Paulo e muito frequentado também por músicos, jornalistas, e outros formadores de opinião. É um ambiente muito agradável, descontraído, alegre, que está sempre lotado — diz.
— Os donos do bar dão verdadeiramente muita importância à música de qualidade. A programação de lá é muito bacana e inclui samba, choro, forró e MPB. Gosto de dizer que me considero privilegiada porque, tanto nos discos como nos palcos, tenho um enorme prazer de conviver com músicos talentosíssimos — conclui.
O endereço do Ó do Borogodó é: Rua Horácio Lane, 21, Pinheiros/Vila Madalena — São Paulo, capital. Para entrar em contato com Carmem: www.carmemqueiroz.com.br