Fortalecer a Frente Única para derrotar o inimigo comum
Traduzido por Beatriz Torres
Trechos da entrevista realizada por Jan Myrdal e Gautam Navlakha com Ganapathy, Secretário Geral do PCI – maoísta
Hoje, nenhum partido, nem nenhuma organização é suficientemente capaz de ser o centro para reunir todas as forças revolucionárias, democráticas, progressistas e patrióticas e também a população. Nosso partido pode ter um papel significativo na assembléia de todas as forças revolucionárias, democráticas, progressistas e patrióticas e da população. Nosso Partido tem um caráter comum com a Índia, uma boa base política militante em muitos Estados, um Exército Guerrilheiro de Libertação Popular (EGLP) combatendo o inimigo em muitos Estados e uma poderosa Nova Democracia Popular emergindo em Dandakaranya [uma região no centro da Índia que compreende os distritos com predominância tribal de cinco Estados indianos, a saber: Andhra Pradesh, Chhattisgarth, Madhya Pradesh, Maharashtra e Orissa] a Jhakhand e outras partes da Índia. Nossa Nova Frente Única Democrática consiste em quatro classes democráticas, a saber: os operários, os camponeses, a pequena-burguesia urbana e a burguesia nacional. Se soubermos formar uma Frente Única forte, devemos ter sob a nossa direção o proletariado baseando-nos na aliança operário-camponesa. Se quisermos formar uma Frente Única forte, ela deve ser sustentada e defendida pelo Exército Popular. Sem o Exército Popular o povo não tem nada a atingir e nada a defender.
Hoje, o principal obstáculo no caminho da Revolução indiana é a guerra total desfechada pelo inimigo. Esta guerra é principalmente montada contra o maoísmo, mas não se limita a este movimento, e tem visado todos os movimentos revolucionários, democráticos, progressistas e patrióticos, assim como os movimentos das comunidades oprimidas de nossa sociedade incluindo as minorias nacionais.
Esta guerra é destinada a destruir a revolução que está gradualmente emergindo como uma força política alternativa à poderosa política reacionária existente em nosso país e à pilhagem massiva dos minerais e de outras riquezas naturais das imensas regiões do povo adivasi e de outras populações locais de Lalgarh à Surjagarh.
A população irá se unir e responder a esta guerra injusta com uma guerra justa. Em toda a história da sociedade de classe, o povo jamais tolerou qualquer tipo de guerra injusta e mais, ele combateu todas as guerras injustas pagando o preço com seu próprio sangue e, finalmente, ele as venceu. O objetivo imediato desta guerra justa é de vencer completamente a guerra injusta e em seguida avançar para a mudança das condições sociais atuais que ocasionam as guerras injustas.
Há 3 anos o exército indiano expôs sua nova política (Doctrine of Sub-Conventionel Warfare — Doutrina de Guerra Sub-Convencional) para tratar da segurança interna e dos novos recursos de guerra. Em virtude deste projeto de reestruturação, o exército indiano forma um grande número de suas forças em função das necessidades das operações de contra-insurreição.
A comunidade mais oprimida da sociedade indiana, os adivasi, e a população local, são objetos de uma grande ameaça. É evidente que sem a emancipação desta população nós não podemos avançar, nem a revolução indiana progredir. Há uma nova esperança de que se a revolução maoísta avançar ela acelerará também as lutas de libertação nacional. Neste contexto, conforme o marxismo-leninismo-maoísmo, o Partido sempre manteve a posição do direito à autodeterminação, incluindo a secessão das nacionalidades oprimidas. Elas (as nacionalidades oprimidas) compartilham desta política e seu combate deve ser reforçado.
Nós estamos relativamente sólidos em muitas regiões rurais do país. Mas atualmente, nossas forças são frágeis, estamos fracos nas zonas urbanas e também frágeis entre os operários e a pequena-burguesia. O exército popular é igualmente frágil e suas armas são inferiores às dos inimigos. Em geral, essas são as nossas fraquezas. Reforçar o exército popular e trabalhar nas zonas urbanas, eis algumas das tarefas urgentes mais importantes.
Estamos cheios de esperança a respeito da criação de uma frente única. Nesta nova situação, esta é uma das principais tarefas da revolução indiana. Sentimos fortemente que esta tarefa não é unicamente nossa, mas de todas as forças revolucionárias, democráticas e progressistas. Ao lado disto, as contradições no seio das classes inimigas tornam-se cada vez mais agudas. Demos um impulso no sentido da unidade do povo, da construção de uma frente estratégica unida e de frentes táticas. Esta frente estratégica comum será a arma do povo oprimido contra o imperialismo, o feudalismo e o capitalismo burocrático comprador.
Nós não trabalhamos por uma reforma parcial do sistema de exploração. Nós nos batemos pelas exigências sócio-econômicas do povo assim como pela transformação qualitativa da própria estrutura básica da sociedade. Se conseguirmos explicar claramente à população, iremos mobilizar e organizar a guerra e a ganharemos. Cada vez que uma guerra popular prolongada, assim como uma guerra de libertação nacional, é conduzida, a experiência mostra que sem uma base de massa, um exército, uma região libertada, o povo não conseguirá formar uma frente comum forte. Durante a luta revolucionária, formando um exército e estabilizando as nossas bases, poderemos formar várias frentes táticas, mesmo frentes táticas frágeis. Devemos nos esforçar duramente à mobilizar as massas na guerra contra seus inimigos, à construir seu próprio exército, à estabelecer bases regionais estáveis e avançar para construir uma frente comum sólida.
Não podemos dar um passo sectário a respeito dos amigos da Revolução de Nova Democracia. Atualmente, muitas forças estão alinhadas contra o inimigo. Não podemos exigir delas que se juntem a nossas fileiras, este é um longo caminho a percorrer. No momento atual, nós temos necessidade de ficar firmemente fiéis aos nossos objetivos estratégicos, e por isso, taticamente, temos a necessidade de permanecer flexíveis.
Cada classe tem seu interesse de classe e uma visão de mundo peculiar. Esta frente comum em certo sentido é também uma frente de luta. Mas em geral, se a luta é contra o inimigo principal, então esta luta torna-se secundária, daí que primeiramente vem a unidade. A verdadeira questão é de saber como esta luta e esta unidade podem se equilibrar e eficazmente ser utilizada.
Devemos crescer. Para isto, devemos utilizar as táticas corretas, tudo em face da repressão inimiga. A nosso ver, o inimigo está se preparando para uma guerra total. Porém ele está criando sua própria derrota. Se pudermos compreender isso e preparar eficazmente nossa guerrilha, venceremos.
Há as contradições das classe dominantes: existem velhas contradições na sociedade e novas contradições que emergem no meio das classes dominantes que devem e deverão ser utilizadas em favor da população. Não somente para vencer o inimigo e obter ganhos imediatos, mas dentro de uma meta revolucionária mais adiante, isto será uma necessidade. Devemos reforçar nossa base de massa e nossa frente que são os principais escudos de nosso poder. O camarada Mao disse que, para desenvolver o exército e a guerra, a população é decisiva. Devemos mobilizar as vastas massas contra o inimigo e utilizar suas contradições, uma após a outra, para esmagá-lo.
Devemos conservar o espírito da importância estratégica da guerrilha. Eles são capazes de convocar 100 mil soldados. Eles decidiram trazer e desdobrar os “Rashtriya Rifles” (um regimento especial da força armada da contra-revolução indiana) de Jammu e da Caxemira. Mas de Lalgarh à Surjagarh, sempre existiram dezenas de milhões de pessoas. Se pudermos mobilizar ativamente as massas para combater as forças inimigas, então poderemos transformar esta mesma guerra em uma base para mudanças revolucionárias. Este, sem nenhuma dúvida, é um desafio diante de nós que não pode ser obtido num curto período, porém estamos seguros de que é uma vantagem à longo prazo. Porém, contrariamente ao que quer o inimigo, terminar em pouco tempo, podemos estender esta guerra e tornar a situação vantajosa para nós, favorável à revolução.
Atualmente, o Estado gasta obstinadamente nas despesas militares, mas como a guerra se estende e se desenvolve em novas regiões, ele gastará muito por muito tempo, provavelmente irá ao fracasso. Conduzimos nossa guerra com este plano estratégico.
Os da oposição são inimigos do povo e mais de 95% da população oprimida estarão contra eles. Mas mesmo 5% é um grande número no contexto indiano. Nosso Partido acredita que durante a guerra popular prolongada, haverá oportunidade de destruir o poder político do inimigo, tanto diretamente quanto culturalmente, visto que muitos discípulos estão ajudando na transformação. Na China, a senhora Sun Yet Sen1 ficou no poder até o último dia, sendo que ela nunca foi membro do Partido. Eles podem ficar enquanto estiverem servindo ao povo, enquanto tiverem o seu apoio. Quando se tornarem social e politicamente impróprios, eles desaparecerão automaticamente. É possível que possam ganhar as eleições se o partido tiver o apoio da população. Esta disposição encontra-se também em nosso Programa Político dos Comitês Populares Revolucionários para que outras pessoas que pertencem a outros Partidos/Organizações possam se juntar os Comitês, podendo votar e tendo o direito de ser eleitos pelos Comitês Populares Revolucionários. Sendo assim, nossa compreensão deve ser igualmente aplicada na prática, em todo terreno.
O povo continuará na luta. Enquanto o governo poupa suas munições, o povo jamais deixou as armas e não se rende nunca. Todas as forças democráticas, progressistas e patrióticas devem se unir e lutar contra a guerra total do governo central e do Estado sobre a população. Para mostrar de maneira precisa as principais exigências que o Partido colocou perante o governo, exigências previstas para todo tipo de negociações: 1) A guerra total deve ser rejeitada. 2) Por todo tipo de trabalho democrático, a interdição do Partido e das Organizações de massa devem ser rejeitados. 3) A prisão ilegal e a tortura dos camaradas deve ser suspensa e eles devem ser soltos imediatamente. Se estas exigências forem cumpridas, aqueles líderes que forem liberados das prisões dirigirão e representarão o Partido nas conferências.
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1 Esposa do dr. Sun Yat Sen, proeminente dirigente do partido nacionalista da China (Kuomintang), líder da primeira revolução democrática burguesa daquele país, que pôs fim à monarquia e fundou o governo republicano de Cantão.
2 Sabedor de sua derrota, o Estado indiano propõe estas conferências, que seriam uma saída acordista para tentar impedir o avanço da guerra popular prolongada.
Novas ações da Guerra Popular Em 21 de março combatentes do Exército Guerrilheiro Popular de Libertação — dirigido pelo Partido Comunista da Índia (maoísta) explodiram uma ponte em uma rodovia em Ghatshila, Bengala Ocidental. A explosão ocorreu na véspera da greve geral de 48 horas convocada pelo PCI (maoísta) em protesto contra a Operação “Caçada Verde”. A greve geral de 48 horas foi convocada para o dia 22 de março em Bihar, Jharkhand, Orissa, Bengala Ocidental, Chhattisgarh, Andhra Pradesh e três municípios de Maharashtra. Greve Geral contra “Caçada Verde” Uma greve geral de 48 horas foi convocada Partido Comunista da Índia (maoísta) no último dia 21 de março. Durante a greve, que se expandiu por sete estados, o embarque de minério de ferro extraído pela maior mineradora do país, a National Mineral Development Company Ltd — NMDC Ltd, em Chhattisgarh, foi totalmente interrompido. As ferrovias paralisaram a circulação de trens e vários setores produtivos foram paralisados total ou parcialmente. A greve repercutiu em todo o campo com grande adesão popular. |