Gerolino cultivava a roça, lutava com seus companheiros.
Gerolino é um brasileiro, um camponês de Rondônia, da Amazônia Ocidental.
E como tantos camponeses, Gerolino se aproximou e empunhou uma bandeira.
A bandeira da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia.
Foi em um 9 de setembro, no ano de 2007, um bando de policiais e pistoleiros invadiu suas terras, a terra dos camponeses.
Presos e torturados, tratados como bandidos, seus companheiros foram levados para a masmorra semifeudal, o famigerado Presídio Urso Branco, em Porto Velho, capital de Rondônia.
Queriam saber quem era o líder, mas na Liga não há delator.
Os delatores são traidores, morrem mil vezes antes de morrer.
Com a saúde debilitada, Gerolino vai para o hospital.
Sete dias internado, acorrentado em uma cadeira, sob constante vigilância de policiais.
Disso tudo a justiça do latifúndio é capaz.
Pneumonia, hepatite, erisipela e anemia, todas elas enfrentou, sem poder ser visitado.
Depois também para o Urso Branco, uma sequência de crimes e desmandos.
Disseram que iam soltá-lo, mas transportaram para o Incra.
Novos interrogatórios. Queriam saber de armas.
Às perguntas respondia:
— "Quem tem armas são os pistoleiros, comigo só encontraram a foice, a enxada e o machado".
A Liga e apoiadores fizeram um reboliço, uma grande mobilização, o fato se espalhou.
Depois de muita injustiça, luta e resistência, libertaram Gerolino.
Livre das algemas e novamente junto aos seus, Gerolino foi tratar da saúde, se restabelecer para a luta.
Contou sua história em congressos, reuniões e seminários.
Contou do seu calvário, da tortura e da cadeia, da resistência dos camponeses.
Contou de sua roça, destruída por seis vezes.
Relatou que na sua prisão tomaram suas ferramentas, ameaçaram de morte.
Afirmava convicto:
— "Somente morto mesmo, para sair de minha terra".
Assim passaram-se os dias, as semanas e os meses.
Ficou acolhido pelos operários, que tanto apóiam os camponeses.
Seu tratamento encerrou, a saúde recuperada.
Aprontou-se para a viagem, de volta pra terra amada.
Mas antes de se despedir, pensou: "Como voltar para a luta?".
Numa reunião de operários, decidiu pedir um apoio para voltar à labuta.
Explicou suas necessidades, nada de mais, apenas o necessário para recomeçar a vida.
Um companheiro pediu: "Podemos ajudar, faça uma lista".
Lona para barraco, foice, enxada e um machado.
Rede para dormir e uma cesta básica.
Vasilhames para cozinha e sementes de verduras.
Tudo o que um camponês precisa, para lutar, plantar e colher.
Pois lá ele tem a Liga, e o básico para viver.
Tem aos operários, os seus aliados, e tantos outros amigos.
Companheiros de luta, com quem não teme perigos.
Que pensaria uma madame, um latifundiário ou um burguês?
Se tudo perdesse na vida e se visse sem nada de vez?
Eis uma lição de um homem do povo, simples e sem mesquinhez.
A lição de uma nova moral.
Um enxoval de camponês.