O discurso de Assange foi visto por milhares de pessoas no mundo
No dia 19 de agosto, domingo, a cidade de Londres foi palco de um discurso muito mais empolgante do que os discursos “para boi dormir” da cerimônia de encerramento das olimpíadas, no domingo anterior. O ativista australiano Julian Assange, 41, fundador da organização Wikileaks, discursou1 em uma das janelas da embaixada do Equador seu agradecimento pelo asilo político oferecido pelo governo equatoriano e disparou, em frente às câmeras da imprensa de todo o mundo, contra a perseguição ao site wikileaks.org levada a cabo pelo USA.
O governo da Suécia acusa Assange de abuso sexual contra duas mulheres, mas por traz disso estaria um plano de sua extradição para o USA, país onde ele responde por 22 “crimes” derivados do Wikileaks. Assange está na Inglaterra desde o início das acusações e chegou a ser preso por alguns dias em dezembro de 2010. Em novembro de 2011, diante de pedido da justiça sueca, a Alta Corte britânica decidiu pela extradição de Julian para a Suécia. Ele recorreu à Suprema Corte que, em maio de 2012, reafirmou sua extradição. Logo, como forma de evitar extradição, em meados de junho deste ano Assange se refugiou na embaixada do Equador em Londres e pediu asilo político ao país. Já no dia 16 de agosto, após o governo britânico ameaçar invadir a embaixada, o Equador aceitou o pedido e rebateu a ameaça de invasão. Esses acontecimentos foram estampados pela imprensa do mundo inteiro.
Wikileaks volta a cena
O Wikileaks foi criado por Julian Assange em 2006 e ficou mundialmente conhecido em 2010 quando publicou o vídeo de um ataque de helicóptero ianque contra 18 civis iraquianos e duas crianças dentro de uma van2. De lá pra cá o site cresceu e se transformou em uma biblioteca livre com milhares de documentos que deveriam ser secretos, contendo relatórios de guerra, diários, milhões de e-mails sigilosos, descrição de ações militares, etc. Mesmo com os incansáveis esforços da inteligência ianque, o site nunca foi fechado e hoje é hospedado na internet de maneira que é praticamente impossível localizar seus servidores.
Documentos que provam crimes de guerra praticados pelo USA no Iraque e no Afeganistão, assim como as maquinações envolvendo os atentados do 11 de setembro, tiveram uma enorme repercussão internacional. O governo ianque precisou “se explicar” inúmeras vezes, mas nunca tentou desmascarar a originalidade dos documentos publicados pelo Wikileaks.
Durante seu discurso do dia 19 de agosto, Assange se solidarizou com os soldados ianques presos por fornecerem documentos ao Wikileaks. Assange destacou o soldado Bradley Manning, que disponibilizou ao Wikileaks documentos militares das guerras do Iraque e Afeganistão e também milhares de telegramas do Departamento de Estado. Bradley Manning é acusado de traição à pátria e pode ser condenado à prisão perpétua, mas nas palavras de Assange: “Se Bradley Manning realmente fez o que ele é acusado de ter feito, ele é um herói, um exemplo para todos nós e um dos mais importantes prisioneiros políticos do mundo. Bradley Manning deve ser libertado”.
Impasse diplomático
O governo britânico não esperava pelo asilo político do Equador, mas diante disso vai fazer de tudo para evitar o rótulo de “perseguidor de ativistas”. O ano de 2012 é considerado histórico para a imagem do Reino Unido, onde os holofotes dos monopólios de imprensa do mundo inteiro centram foco em grandes eventos como as Olimpíadas, Paraolimpíadas e o Jubileu de 60 anos de “reinado” da rainha. O governo britânico já afirmou que não vai permitir passagem de Assange em território britânico, já o governo do Equador ofereceu espaço à justiça sueca para interrogá-lo dentro da embaixada. O Equador também afirmou que, caso a Suécia garanta que não vai extraditar Assange para o USA, eles iriam cooperar com sua ida à Suécia. Enquanto isso, Julian Assange continua refugiado na embaixada.
Todos esses acontecimentos desmascaram a forte unidade dos governos britânico e sueco com os ianques. O Reino Unido enviou tropas para o Iraque e é também responsável direto pelos crimes ocorridos por lá. Alguns desses crimes seguem documentados no Wikileaks para o mundo inteiro ver.