Barcelona: milhares de massas em protesto nas ruas
O monopólio internacional dos meios de comunicação anda apregoando por aí que os acampamentos rebeldes erguidos pela juventude da Espanha nas principais praças das maiores cidades do país são só protestos de ocasião contra a crise econômica e contra o desemprego, chaga capitalista que castiga quase a metade dos espanhóis com até 25 anos de idade.
Alguns mais demagogos arriscaram dizer que está acontecendo na Espanha uma “primavera europeia”, em alusão à chamada “primavera árabe”, esta espécie de slogan fanfarrão que as potências e os propagandistas do imperialismo ora tentam colar não aos legítimos protestos no mundo árabe por uma democracia verdadeiramente popular, mas sim à reestruturação dos velhos Estados reacionários e de seus pactos com o USA e a Europa em meio à lacuna deixada pela ausência de lideranças mais consequentes que poderiam dirigir aqueles levantes na direção de reais conquistas para as massas trabalhadoras.
Mas, na verdade, os protestos da juventude espanhola se tratam de um movimento com um elemento a mais de politização, além das lutas por emprego e contra a precariedade generalizada das condições de vida agravada pela crise, porque denuncia a farsa eleitoreira e a “democracia” burguesa parlamentar, a do tipo picareta, que garante a liberdade para os ricos enriquecerem ainda mais e assegura – ou tenta assegurar – controle social para manter as massas na rédea curta.
O movimento classista e anti-eleitoreiro da juventude espanhola, batizado de movimento dos “indignados”, surgiu com a proximidade das eleições regionais na Espanha. Fartos de tanta demagogia e de tanta enganação, eles ergueram acampamentos de protesto nos centros de 43 cidades espanholas, como na Praça Catalunha, em Barcelona, na Porta do Sol, em Madri, e na praça da Encarnação, em Sevilla. As praças permaneceram ocupadas mesmo com a proibição a manifestações às vésperas da abertura das urnas. Depois, os “indignados” voltaram a desafiar as autoridades e as forças de repressão, resistindo a tentativas de removê-los.
‘Democracia com marionetes no poder’
A ascensão dos “indignados” na Espanha se dá na sequência de sucessivos recordes de abstenção registrados nas últimas farsas eleitoreiras armadas nos países da Europa, pelo que se supõe que os bravos jovens dos acampamentos rebeldes espanhóis não são os únicos fartos da ladainha de que é com os sufrágios burgueses e a democracia parlamentar que o povo irá ver seus interesses materializados.
No dia 21 de maio, cerca de 250 jovens se reuniram na praça da Bastilha, em Paris, em uma manifestação de solidariedade e apoio ao movimento da juventude espanhola. Eles sentaram-se na escadaria da Opera Bastille exibindo um grande cartaz com os dizeres: “Revolução Espanhola, povos da Europa se levantam”.
Um dos líderes da manifestação vociferou para os microfones do monopólio da imprensa: “Denunciamos o bipartidarismo e a corrupção. Queremos uma verdadeira democracia, não uma democracia com marionetes no poder como existe na França e na Espanha”.
No dia 29 de maio, a praça da Bastilha foi palco de uma manifestação ainda maior. Cerca de 800 jovens ocuparam o local empunhando faixas com os dizeres “Paris acorda” e “democracia real agora” e gritando palavras de ordem.
Na Espanha, passadas as eleições, a maior prova do caráter anti-eleitoreiro dos acampamentos foi o fato de que mesmo com a esmagadora derrota do governo nas eleições regionais, os manifestantes não arredaram pé dos acampamentos de protesto, como que dizendo que a vitória da oposição nas urnas ou de quaisquer agremiações eleitoreiras nada tem a ver com os anseios das massas nas ruas.
No início de junho, representantes dos acampamentos de toda a Espanha se reuniram em Madri para discutir a sequência das ações. Discutiu-se a realização de uma marcha unificada na capital espanhola e a realização de atos anti-eleitoreiros na frente de dezenas de prefeituras, trazendo um novo sopro político à Europa, apesar da infiltração dos anarquistas e dos oportunistas de sempre.