Esquerda, que esquerda?

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Esquerda, que esquerda?

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O candidato do Partido Socialista, François Hollande, venceu as eleições do dia 6 de maio e uma semana depois já tomava posse como presidente da França. Sua campanha eleitoral foi baseada em críticas ao então presidente Nicolas Sarkozy, considerado o paladino dos programas de austeridade implantados na Europa. Após a apuração, afirmou que sua vitória é vista na Europa como “um alívio, uma esperança, a confirmação de que a austeridade não é um chamado do destino” para a região. Prometeu, ainda, que sua missão será “dar à Europa uma dimensão de crescimento, de emprego e prosperidade” para todos.

O alto índice de abstenção, previsto para a casa dos 30%, mostra que grande parte dos franceses se recusou a escolher ente o sujo e o mal lavado. Os franceses têm bem claro na memória os danos causados pelos anteriores governos “socialistas” com suas políticas de privatização e de submissão à oligarquia financeira. Estes mesmos “socialistas”, tendo a frente Zapatero na Espanha, levaram o país à beira do abismo, dentro do qual contribuíram para jogar a Grécia. Mesmo assim uma parcela de iludidos saiu às ruas de Paris a comemorar a vitoria de Hollande que, também, foi saudada com euforia pelo reformismo e pelo oportunismo nos quatro cantos do mundo.

Os reformistas e oportunistas, empulhadores contumazes, logo estarão fazendo a defesa das medidas e políticas desenvolvidas por Hollande contrariando as expectativas geradas por seu discurso de campanha. Quanto aos iludidos, no mais tardar em seis meses, ao se sentirem traídos estarão engrossando as passeatas e manifestações de protestos contra as medidas e políticas de Hollande.

O DNA da traição

Já em 1914, Lenin denunciava a capitulação dos partidos ditos ‘socialistas’ europeus. Mais que capitulação, a adesão aos governos burgueses e suas políticas de escravização dos povos do mundo inteiro significava para Lenin uma verdadeira traição. Em seu manifesto A guerra e a socialdemocracia russa, ao comentar a traição aos postulados do Congresso de Basileia, ocorrido em 1912 e assinado por todos os partidos socialistas, assim se posicionou:

“É preciso constatar com um sentimento da mais profunda amargura que os partidos socialistas dos principais países europeus não cumpriram esta sua tarefa, e a conduta dos dirigentes destes partidos — particularmente do alemão — confina com a traição direta à causa do socialismo. Num momento da maior importância histórica mundial, a maioria dos dirigentes da atual, da segunda (1889-1914) Internacional Socialista tenta substituir o socialismo pelo nacionalismo. Devido à sua conduta, os partidos operários destes países não se opuseram à conduta criminosa dos governos, mas chamaram a classe operária a fundir a sua posição com a posição dos governos imperialistas. Os dirigentes da Internacional cometeram uma traição em relação ao socialismo, votando a favor dos créditos de guerra, repetindo as palavras de ordem chauvinistas (“patrióticas”) da burguesia dos “seus” países, justificando e defendendo a guerra, entrando nos ministérios burgueses dos países beligerantes, etc., etc. Os dirigentes socialistas mais influentes e os órgãos da imprensa socialista mais influente da Europa contemporânea adotam um ponto de vista burguês-chauvinista e liberal, de forma alguma socialista. A responsabilidade por esta desonra do socialismo recai em primeiro lugar sobre os sociais-democratas alemães, que eram o partido mais forte e influente da II Internacional. Mas também não se pode justificar os socialistas franceses, que aceitam cargos ministeriais no governo daquela mesma burguesia que traiu a sua pátria e se aliou a Bismarck para esmagar a Comuna”.

Mudança no discurso e a prática concreta

Mal recebeu as chaves do Eliseu, Hollande seguiu para a Alemanha para ser “coroado” por Angela Merkel sob um clima de conciliação e um discurso de que os objetivos eram comuns.

Sob o pretexto do desconhecimento sobre o verdadeiro estado das contas públicas, Hollande já prepara uma reviravolta que fará com que as suas medidas como presidente em nada irá coincidir com as suas promessas eleitorais. E, como aceno aos defensores da austeridade, como Merkel e a oligarquia financeira, ele já iniciou cortando 30% da sua remuneração e de seus ministros. Provavelmente esta será a baliza que utilizará para realizar os cortes futuros nas aposentadorias e gastos sociais.

Já nos primeiros dias de seu mandato adota o discurso de que o “grande desafio para a governança europeia é de ultrapassar a crise”, mudando assim a prioridade de “crescimento” e rejeição da austeridade para a de “combater a crise”. Começa desde muito cedo, portanto, a traição aos eleitores e a adoção do discurso que vê na austeridade a única saída para a crise da divida pública, como fez o seu correligionário Zapatero na Espanha.

O oportunismo tem lançado mão do falso dilema austeridade versus crescimento para iludir as massas e não perder a confiança e a simpatia dos monopólios imperialistas. Tais políticas se referem às pugnas interburguesas e não apresentam saída para as questões fundamentais do sistema político e econômico. Representam, sim, a reacomodação das classes dominantes no poder do Estado. E isto não significa mudança no caráter do Estado. A resposta que as classes exploradoras dão às crises é a substituição de seus governos desgastados por outros menos desgastados, por isso pintam suas frações de direita e de esquerda.

Aos trabalhadores só resta retomar o caminho do Socialismo Revolucionário, como apontou Lenin ao concluir o seu manifesto O oportunismo e a falência da II Internacional em 1916:

“Basta de frases, basta de ‘marxismo’ prostituído à La Kautsky!… O oportunismo mais do que amadureceu, passou definitivamente para o campo da burguesia, transformando-se em social-chauvinismo: ele rompeu espiritual e politicamente com a socialdemocracia. Romperá com ela também organizativamente. Os operários reclamam já uma imprensa ‘sem censura’ e reuniões ‘não autorizadas’, isto é, organizações clandestinas para apoiar o movimento revolucionário das massas… E a despeito de todas as dificuldades, das derrotas temporárias, dos erros, dos enganos, essa causa levará a humanidade à revolução proletária vitoriosa.”

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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