O grupo Batuque na Cozinha tem dez anos de existência, surgiu em Vila Isabel e despontou nas casas da Lapa. Hoje pode ser considerado um dos conjuntos de samba mais respeitados desta nova geração. Isso porque o Batuque na Cozinha resgata o melhor do samba antigo em confluência com o novo jeito de fazer o gênero mais popular do Brasil. A prova da renovação, aliada ao resgate, está no reconhecimento de grandes intérpretes da música brasileira em seus shows e no CD Sorria para o Samba, lançado em 2007.
É também no futuro DVD, com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2009, que estão presentes vozes de Beth Carvalho, Luis Melodia, Délcio Carvalho, Dudu Nobre, Leila Pinheiro, Wilson das Neves e outros jovens talentos como: Rogê, Gabriel Moura, Marcel Powell e Ana Costa.
Composto por André Corrêa (percussão), Ari Júnior (banjo), Paulo Roberto (pandeiro), Domingos Oliveira (cavaquinho), Dennis Santana (tan-tan), Álvaro Lúcio (violão) e Dudu Oliveira (flauta), o Batuque já tem oito anos com a mesma formação. Os sete integrantes são originários de bairros diversos, mas que convergiram sua paixão pelo samba em Vila Isabel, bairro que revelou ao país Noel Rosa, Martinho da Vila e outros.
O Batuque na Cozinha busca se espelhar no que existe de mais emblemático na música brasileira. As principais referências do grupo são os Originais do Samba e o grupo Nosso Samba, que marcaram época — nas décadas de 70 e 80 — sem esquecer do Exporta Samba e, é claro, o Fundo de Quintal.
O Sorria para o samba, de 2007, é o cartão de visitas para quem quer conhecer o trabalho do grupo. Lançado em setembro do ano passado no Teatro Rival, o disco conta com 13 faixas, das quais 11 pertencem ao grupo. A canção Anjo Moreno, de Candeia e Batuque na Cozinha, de João da Baiana, são as exceções num CD praticamente autoral.
A censura ao que é
verdadeiramente popular
existe sim
e os meios de comunicação
são controlados por poucos.
Segundo André Corrêa, percussionista e porta-voz do conjunto, a idéia de dar menos ênfase às regravações se faz pela necessidade do ineditismo das composições:
— A regravação atrapalha a divulgação de novos compositores e também o prazer de gravar músicas inéditas de compositores já consagrados, como foi o caso dos grandes mestres Délcio Carvalho e Monarco. Além disso, fica muito difícil regravar obras que praticamente foram eternizadas nas vozes de alguns intérpretes como Acreditar, de Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara, na voz do querido Roberto Ribeiro e Canto de Areia, de Romildo e Tuninho Nascimento, na voz da saudosa Clara Nunes. Esses são alguns exemplos que indicam que, para se reeditar, tem que ter muito cuidado e carinho. Não podemos esquecer que mesmo os compositores mais consagrados continuam produzindo e precisam gravar — alerta André.
Reduto de bamba
Interessante também é a relação do grupo com o público. Todas as segundas-feiras, o Batuque encontra-se no reduto mais importante para a história do samba: a Pedra do Sal, no Largo João da Baiana, aos pés do morro da Conceição, na Zona Portuária do Rio. A reciprocidade com a Pedra do Sal já começa pelo nome do grupo pois Batuque na Cozinha é composição de João da Baiana, o mais ilustre morador do local e que hoje tem seu nome imortalizado no largo. De acordo com o percussionista, a Pedra tem sua mística própria não só para o samba, mas também na cultura do trabalhador negro escravizado.
— A Pedra do Sal era o local aonde existiam os zungus e o antigo comércio de escravos e depois foi frequentada pelos mais ilustres sambistas, como Donga, João da Baiana, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, dentre outros. Logo, poder tocar neste local e dar continuidade ao que os nossos ancestrais tiveram tanto sofrimento e carinho para cultuar é mais do que um prazer; é uma obrigação nossa e uma forma de demonstrar respeito pela nossa arte — alegra-se o sambista.
A roda de samba corre solta no Largo João da Baiana às 18 horas, e para quem não sabe, o nome surgiu pelo sal que era descarregado no porto há poucos metros do local, que virou ponto de encontro de estivadores e sambistas.
Já o Batuque na Cozinha, além de fazer alusão a lendária canção de João da Baiana, foi uma sugestão de Martinho da Vila porque, na época, tocando num botequim o grupo possuía mais instrumentos de percussão do que harmonia , e entre os sambistas, a percussão é também conhecida como cozinha. Martinho, graças à sugestão, tornou-se o principal padrinho do grupo.
Desapoio ao popular
Os sambistas revelam que as dificuldades são as mesmas de todos que vivem de arte no Brasil, mas com talento, trabalho e muita força de vontade dá para levar. Eles acham que não há política cultural concreta:
— Acho que atualmente existe uma banalização da nossa cultura e falta resgate das nossas tradições. Chega de levarmos o título de país tupiniquim e da bunda — lamenta.
O grupo acredita que a era digital veio atenuar um pouco esse atrelamento disseminado pelas rádios e TVs, mas que estamos muito longe de resolver esse quadro:
— A censura ao que é verdadeiramente popular existe sim e os meios de comunicação são controlados por poucos, onde os mesmos escolhem o que vão tocar, isso é evidente. Em tempos mais remotos o samba já foi perseguido e discriminado, mas sempre tivemos bons “diplomatas" para acalmar essa situação, como Noel Rosa e Paulo da Portela, por isso temos que dar valor ao que eles tanto sofreram para plantar. Como Nelson Sargento faz questão de falar: quando o samba virar moda ele acaba — conclui o percussionista.
Os integrantes já dividiram palco com Walter Alfaiate, Wilson Moreira, Zé Luiz, Nelson Sargento, Arlindo Cruz, Sombrinha, Martnália, Wilson das Neves, Bezerra da Silva, Luiz Carlos da Vila, Délcio Carvalho, Mauro Diniz, Paulinho da Viola, Vó Maria, João de Aquino e Martinho da Vila, dentre outros.
Agenda do grupo em agosto
Além de todas as segundas na Pedra do Sal
Dia 08/08 – Café Cultural Sacrilégio (Lapa)
Dia 09/08 – Teatro Odisséia (Lapa)
Dia 15/08 – Lapa 40° (Lapa)
Dia 16/08 – Parada da Lapa (Lapa)
Dia 22/08 – Fundição Progresso (Lapa)
Dia 28/08 – Traço de União (Pinheiros – SP)