A Revolução Agrária avança de norte a sul, tomando as terras do latifúndio, distribuindo-as entre os camponeses sem terra ou com pouca terra, revolucionando as formas de produção, liquidando a semifeudalidade e enfrentando mil dificuldades. Em cada nova edição de AND, noticiamos a luta titânica dos camponeses em nosso país, cada problema enfrentado, cada combate, cada conquista. E é com redobrada atenção e satisfação que tornamos públicos os êxitos da Revolução Agrária, que entrega o título das terras para os camponeses de mais duas áreas, dessa vez no estado de Rondônia. São as áreas Raio do Sol e Canaã.
O 22 de fevereiro jamais será esquecido pelos camponeses de Raio do Sol e Canaã. A partir dessa data eles já podem afirmar para quem quisesse ver e ouvir: "Essa terra é nossa!".
Na abertura da Assembléia do Poder Popular que realizou a entrega dos títulos da terra, um dos coordenadores da área Raio do Sol recordou os anos de luta e resistência contra os ataques de pistoleiros, despejos onde as famílias perderam tudo o que tinham, e a decisão de recomeçar e lutar até a conquista da terra. Foi lembrado o episódio em que as famílias tiveram que derrubar uma ponte e interditar as estradas de acesso enquanto mantiveram-se na mata protegendo-se da ação de policiais e pistoleiros.
Em nome da Canaã falou em primeiro lugar um dos camponeses mais antigos da área, seguido dos coordenadores. Todos lembraram os enfrentamentos com pistoleiros, despejos, as direções oportunistas anteriores que mantinham os camponeses acampados, dificultando de todas as formas cada um de entrar em seu lote, enquanto negociavam parcelas de terra na segurança da cidade.
Após a abertura da Assembléia, cada família foi chamada para receber seu Certificado de Posse das Terras. Após a entrega dos lotes, as famílias do Raio do Sol e da Canaã realizaram uma grande confraternização. O relato de cada camponês naquela memorável data deixou a marca da resistência e luta.
A terra se conquista
— A área mudou muito desde quando chegamos aqui, era só mata e capim. Hoje está cheia de roça e criação — Sr. Manoel, proprietário de um lote em Canaã.
— Na cidade você tem que comprar de tudo e nem sempre você tem condições e acaba passando necessidade. É triste ver um filho te pedir uma coisa que é de precisão e você não poder dar. Aqui não, temos de tudo e com fartura — D. Leonice, proprietária de um lote em Raio do Sol.
— Antes da Liga chegar aqui no Canaã a direção que tinha tratava a gente mal, com grosseria e não queria que entrássemos pros lotes. A gente ficava ‘furando rede’ em acampamento e eles viviam na cidade comendo o dinheiro de venda de lote. Vendiam o mesmo lote duas, três vezes, expulsavam famílias, era só falcatrua… Agora não, está todo mundo em sua terra produzindo. Em apenas um ano fizemos tudo isto aí que você pode ver se andar por nossas linhas. E é só o começo! — Leonardo, satisfeito junto de seu filho com o Certificado de Posse nas mãos.
— Conseguimos tudo isto graças a união do povo e à Liga que só veio trazer coisas boas pra nós — antigo morador da Canaã durante a Assembléia do Poder Popular.
— Estávamos na Assembléia, o companheiro queria marcar um dia para puxar a madeira pro barracão da Assembléia, aí uma companheira propôs puxarmos no dia mesmo. Achei certo porque já estávamos todos lá, se fosse pra eu voltar outro dia seria mais difícil, moro há 4 km. Eu, estes meus dois meninos, todos ajudaram a puxar as tábuas. O que o homem faz que a mulher não pode fazer? Nada! — D. Solange, moradora da área.