Uma sucessão de greves e protestos de rechaço às medidas de “austeridade” contra o mundo do trabalho exigidas pelos industriais e banqueiros da Europa do capital está varrendo o continente europeu nos últimos meses, da Península Ibérica aos países do Leste pauperizado e ora sob a mira do FMI, passando pelas potências imperialistas e pela Grécia em chamas. O mês de outubro registrou um agigantamento desses levantes classistas das massas proletárias europeias.
Paris: 3,5 milhões de pessoas protestam contra
as medidas antipovo da reforma da previdência
Na França, a greve e os protestos do dia 12 de outubro contra a draconiana contra-reforma da previdência, proposta por Nicolas Sarkozy e aprovada no Senado francês no dia 8 do mesmo mês, levaram às ruas um recorde de manifestantes: 3,5 milhões de pessoas em luta inquebrantável contra as medidas antipovo do capital em crise.
O número é maior até do que as multidões que tomaram as cidades francesas em 1995 para obrigar o então primeiro-ministro Alain Juppé a recuar em sua tentativa de destruir os direitos previdenciários historicamente conquistados pelo bravo povo francês – a última ofensiva do Estado francês sobre as regras para a aposentadoria antes do atual esforço dos poderosos da França para aumentar a idade-base de 60 para 62 anos. O número é maior também do que as marchas de 1996 que escorraçaram do cargo um outro primeiro-ministro, Dominique de Villepin. Mobilizaram-se os ferroviários, motoristas de ônibus, professores, carteiros, trabalhadores do setor gráfico, funcionários públicos, estivadores e operários do setor petrolífero de 11 das 12 refinarias do país.
Os grevistas ganharam o apoio nas manifestações de estudantes de mais de 300 liceus, que tomaram as ruas em protestos radicalizados. Sarkozy tentou qualificar as lideranças dos protestos de “irresponsáveis” por incitarem a “evasão escolar” de jovens de 15 anos de idade, como se o povo da França, com sua longa tradição de luta, desconhecesse o papel fundamental reservado à juventude nos embates contra as classes dominantes.
Grécia: manifestantes do ministério da Cultura
enfrentam a polícia na entrada de Acrópole em Atenas
No dia 19 de outubro, aproximadamente o mesmo número de pessoas do dia 12 (3,5 milhões) voltou a ocupar as ruas da França, com uma nova jornada de greves contra o avanço sobre a previdência e a realização de mais de 200 marchas em diversas partes do país. Barricadas foram erguidas pelos trabalhdores franceses em grandes depósitos de combustíveis, forçando o cancelamento de cerca de 50% dos voos que partiriam dos principais aeroportos do país, impondo severos contratempos à economia burguesa.
No dia 20, o jornal Le Monde, uma das principais tribunas das classes reacionárias francesas, deixou de circular devido às greves. As oligarquias gaulesas acenderam o sinal de alerta e exigiram uma resposta do gerente Sarkozy, que prometeu “garantir a ordem” e evitar “distúrbios”. A polícia foi orientada a atacar o povo nas ruas e vários estudantes foram parar em hospitais. Pesquisas indicam, entretanto, que a extraordinária mobilização tem o apoio de mais de 70% da população.
Europa convulsionada
No dia 14 de outubro, trabalhadores enfrentaram a polícia e suas bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e sprays de pimenta com paus, pedras e barricadas em Atenas, na Grécia, sob gritos de “a polícia e a violência não irão terminar a greve”. Funcionários do ministério da Cultura trancaram os portões de acesso à Acrópole, a parte antiga da capital grega, principal ponto turístico da cidade, com seus templos de mármore de 2.500 anos.
Eles reclamavam mais de 22 meses de salários atrasados, infâmia amealhada pelos banqueiros da França, Alemanha e Grã-Bretanha e pelo FMI junto à gerência da Grécia como parte dos “ajustes” impostos ao país na sequência do estouro da “crise de liquidez” do país – ajustes em meio aos quais os funcionários públicos são os alvos dos maiores arrochos.
Alguns dias antes das barricadas na Acrópole, mais precisamente na quinta-feira, 7 de outubro, milhares de trabalhadores gregos tomaram as ruas das principais cidades do país em solidariedade aos funcionários públicos, que naquela data cumpriram uma greve de quatro horas contra a manutenção dos cortes em seus salários no orçamento de 2011, um objetivo da gerência de Georgios Papandreu.
Outro país europeu onde os estudantes saíram às ruas em massa no mês de outubro foi a Itália. Na capital do país, Roma, 30 mil jovens universitários e secundaristas se concentraram no dia 8 em frente ao ministério italiano da Educação para exigirem a demissão do titular da pasta e protestar contra os cortes orçamentários promovidos pela administração do magnata Silvio Berlusconi, que pretende tirar nove bilhões de euros da educação e demitir 130 mil profissionais que trabalham nesta área.
No dia seguinte à manifestação dos estudantes, foi a vez de os trabalhadores saírem às ruas da Itália em protesto contra a versão local do arrocho generalizado de salários e depredação dos direitos trabalhistas que os gerentes da União Europeia vêm tentando empurrar goela abaixo do proletariado, que por sua vez não esmorece, não se dobra, resiste, e irá vencer.