Estudantes falam ao A Nova Democracia

Estudantes falam ao A Nova Democracia

A Nova Democracia entrevistou as estudantes Flávia Portugal Braga (História) e Carolina Figueiredo de Sá (Pedagogia), ambas alunas da Universidade Federal de Minas Gerais, e membros da organização Estudantes do Povo, sobre a atitude da reitoria da universidade e o processo de privatização do ensino público. Carolina é uma das alunas que tiveram suas matrículas canceladas pelo não pagamento da taxa de matrícula.

AND – Como vocês classificam a atitude da reitoria da Universidade?

Carolina – Foi uma atitude antidemocrática. Uma posição política da reitoria em repressão a um movimento organizado e combativo em defesa do ensino público gratuito. Não esperou a decisão da Justiça para cancelar nossas matrículas. Totalmente burocrática e arbitrária.

AND – Como se posicionaram as outras entidades estudantis, como o Diretório Acadêmico, o Diretório Central dos Estudantes etc.?

Carolina – Não apoiaram os estudantes. Ficaram escondidos porque não queriam se “queimar” com a reitoria. Isso, quando não passavam nas salas para convencer os alunos a pagarem a taxa de matrícula. Eles têm um conchavo com a reitoria. Fizemos uma manifestação com a entrega do abaixo-assinado em favor das alunas e não tivemos o apoio de nenhuma dessas entidades.

AND – E os demais alunos da faculdade, o que acharam?

Carolina – Ficaram todos indignados. Apesar de muitos terem pago a taxa, não significa que concordem com isso. Alguns foram pressionados a pagar. Os estudantes nos apoiaram aderindo o abaixo-assinado que entregamos à Pró-reitoria de Graduação e participaram da manifestação.

AND – Um dos argumentos usados pela reitoria e pelos membros do Diretório Acadêmico é que vocês são contra a assistência estudantil. Isso é verdade?

Carolina – De jeito nenhum. A assistência estudantil tem que ser ampliada, mas tem que vir dos cofres públicos. O governo diz que não tem dinheiro para a educação, mas toda hora dá dinheiro aos banqueiros “carentes”, aos latifundiários “carentes” e, recentemente, às empresas de aviação “carentes”. Esta história de que somos contra a assistência estudantil é ridícula, mas nós acreditamos que ela não é responsabilidade dos próprios estudantes.

AND – Como se dá o processo de privatização da universidade?

Flávia – O ensino público é garantido por lei. Na impossibilidade de privatizar escolas e universidades de uma só vez, o governo impõe cortes cada vez maiores nas verbas para a educação, fazendo com que as instituições de ensino busquem recursos de vários meios. Um deles é ir aos bolsos dos alunos e fazer com que paguemos as taxas (matrícula, multa da biblioteca, inscrição para o vestibular). Outra forma é deixar que empresas, na maioria multinacionais, invistam em pesquisas nas universidades, o que permite que elas usem os resultados dessas pesquisas, ou seja, a universidade pública produz para o capital privado e externo. Está tramitando no Congresso um projeto que dará, entre outras coisas, “autonomia” financeira às universidades, ou seja, essas terão que buscar os recursos de que necessitam na chamada iniciativa privada, o que desobrigaria o governo de investir na universidade.

Essas são apenas algumas das ações promovidas pelo governo, com o apoio dos reitores, diretores e toda a burocracia na universidade para acabar com ensino público.

AND – Quais serão as próximas atividades do movimento quanto a essa situação?

Flávia – Estamos preparando uma grande campanha nacional nas universidades e escolas contra a atitude da reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais, exigindo a validação das matrículas das alunas da Faculdade de Educação desta universidade.

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