O desemprego e a precariedade seguem castigando impiedosamente o mundo do trabalho na Europa em crise. Na Espanha, o desemprego voltou a bater recorde, chegando pela primeira vez à casa dos 26%, porcentagem relativa ao último trimestre do ano passado. Em dezembro de 2012 quase seis milhões de espanhóis procuravam e não conseguiam encontrar emprego, cerca de 200 mil pessoas a mais do que no trimestre anterior.
O desemprego galopa na Espanha ao passo que a gerência fascista de Mariano Rajoy não se cansa de anunciar uma medida antipovo após a outra, atestando que a chamada “austeridade” apresentada como inevitável e os “sacrifícios” exigidos às massas trabalhadoras servem apenas para garantir sobrevida às empresas capitalistas, e não para resolver a crise a médio/longo prazo, como cacarejam os gerentes políticos europeus – e como se a crise geral e estrutural dos monopólios tivesse uma solução burguesa, por assim dizer. O melhor que conseguem é empurrar a crise um pouco mais para frente, agravando seus efeitos quando de uma nova onda.
Agora, no mesmo instante em que é anunciado mais um recorde de desemprego na Espanha, o executivo-chefe da transnacional fabricante de carros Renault, o brasileiro Carlos Ghosn, está pressionando a administração “socialista” de François Hollande na França, onde fica a matriz da empresa, a adotar as draconianas regras trabalhistas ora em vigor na Renault espanhola, apresentadas pelo capataz a serviço dos acionistas da montadora como “exemplo” a ser seguido.
O “exemplo” festejado por Carlos Ghosn é um “acordo” imposto por ele aos operários da companhia na Espanha, com a cumplicidade de Rajoy, que prevê a permissão para contratar novos operários temporários com salários mais baixos e aumentos salariais abaixo da inflação.
“Se chegamos a esse tipo de acordo em um país da Europa, vamos tentar obter o mesmo resultado de uma forma diferente em outro país”, disse Ghosn recentemente, mandando recado para os sindicatos franceses e “formalizando” sua requisição junto à administração Hollande.
Na França, demissões por ‘razões pessoais’
Ghosn vem chantageando os trabalhadores da Renault dizendo que a única maneira de manter as fábricas da companhia abertas na França é aumentando a exploração, ou seja, passando de uma produção média de 12 carros por trabalhador a cada ano para 17 carros por trabalhador/ano já em 2016, o que permitiria à empresa colocar 7.500 operários no olho da rua.
Por falar em sindicatos, no último dia 11 de janeiro, na própria França, o patronato e três centrais pelegas assinaram um outro “acordo”, porém da mesma estirpe do “acordo” na Espanha (mais um sob o pretexto de “facilitar a competitividade das empresas e garantir o emprego”).
Pelos termos de mais este “acordo” – assinado graças a chantagens e ao peleguismo -, as empresas podem reduzir salários para “evitar demissões”, cortar as indenizações para as demissões sumárias e, o mais infame, colocar um trabalhador no olho da rua por “razões pessoais”, o que significa que ele pode ser demitido caso se recuse a aceitar reduções salariais ou mudar de função ou de lugar de trabalho por decisão unilateral da empresa.
As administrações e gerenciamentos dos Estados europeus tentam criminalizar o único obstáculo que podem enfrentar em sua sanha de arrochos e medidas antipovo de toda sorte: a organização popular e os protestos e ações de classe dos trabalhadores.
Foi assim com os 18 trabalhadores espanhóis que foram indiciados e levados a julgamento por terem esvaziado os pneus de um carro da polícia na cidade de Guernica em janeiro de 2011 durante uma greve. Felizmente um juiz os absolveu no último dia 15 de janeiro, mas os trabalhadores não se furtaram a sair do tribunal denunciando os esforços do podre Estado para, na base da intimidação, desmobilizar as classes trabalhadoras.