A ocupação ilegal por colonos judeus de terras palestinas não é de hoje. Durante trinta e cinco anos, desde a guerra de 1967, quando Israel se apropriou dos territórios da Cisjordânia e da faixa de Gaza, os sucessivos governos sionistas vêm plantando nas terras anexadas uma política de assentamento de suas colônias. Desse modo, mais de 400 mil ricas comunidades judias estão disseminadas. O povo palestino, primeiro, a Autoridade Nacional Palestina depois, nunca deixou de resistir à consolidação dessas colônias de existência opulenta, em meio à pobreza geral e ao redor de seus campos de refugiados. Tanto que resoluções da ONU, a de número 242, em novembro de 1967 e a 338, em 1973, consideram ilegal essa tomada do território palestino e exigem que Israel dali se retire.
A eleição de um governo ultranacionalista do primeiro-ministro, o general Ariel Sharon, agrava ainda mais a situação e provoca uma escalada de violência nessa guerra cruel. Não é porque seus filhos querem um jardim e espaço para brincar, que o israelense compra casa em assentamento de Efrat, a quinze minutos de Jerusalém, onde uma residência pode custar cem mil dólares. Mas sim porque os bancos israelenses facilitam o empréstimo para a expansão das colônias e seu financiamento habitacional. Além disso, a moradia em Efrat é mais em conta que a de Bert Horan, por exemplo, ao norte de Jerusalém, onde 65% dos habitantes são religiosos e que Israel pretende manter sob controle, mesmo após um eventual acordo de paz. No prosseguimento de sua política expansionista, a administração de Ariel Sharon oferece subsídios de 20 a 70 mil dólares a quem quiser comprar imóvel em território ocupado.
Inútil dizer que esses assentamentos em territórios palestinos, a expropriação da terra e a judaização da Palestina, constituem um dos principais obstáculos a um acordo de paz.
Superprotegidas pelo exército israelense, com moradores armados, essas colônias situam-se em pleno território palestino. Mesmo isoladas e rodeadas por terras palestinas, elas têm o controle das estradas de acesso protegidas pelo exército israelense, um dos mais bem equipados do mundo.
Sua existência é a razão pela qual a Autoridade Nacional Palestina administra, agora, menos de 40% da Cisjordânia e 65% somente de Gaza.
Com a ascensão do expansionista Sharon, esse ultradireitista e nacionalista primeiro ministro de Israel, ocorreu duplicação do número de colonos israelenses em terras palestinas. Assim, sabe-se que o assentamento judaico em território ocupado cresceu 90% só no primeiro semestre do ano de 2000, em relação ao mesmo período de 99. Isso representou, no período, 1067 novas unidades residenciais, contra 545 em 1999. Nesse mesmo ano consta que foram construídas 1160 unidades e 1845 em 1998. Desde a assinatura de setembro 1993 até agosto de 2001, mais de 28.000 hectares de terra, foram confiscados. Mais de 280.000 árvores derrubadas só na faixa de Gaza. Na última década, Israel intensificou a colonização em terras da Palestina.
Enquanto isso, os palestinos têm suas casas demolidas pelos tanques judeus. Desde 1967, as autoridades sionistas destruíram, parcial ou totalmente, mais de 6.000 casas nos territórios ocupados e 2.500 casas em Jerusalém habitada por árabes. Deixada à solta, essa política de estabelecer colônias de povoamento nas áreas árabes, indício de que a permanência sionista seria para sempre, tende a ampliar do Nilo ao Eufrates as fronteiras de Israel.
Na resistência contra o expansionismo sionista, que defesa têm os palestinos, senão suas pedras, ou o auto-sacrifício, único recurso tático dos jovens-bomba que sobra aos desesperados, frente a quem detém o monopólio militar. Como viver nos parcos territórios que lhes restam? Não há, até agora, reconhecimento preciso das fronteiras da Palestina e Israel nega a soberania política aos dirigentes palestinos, sem direito de organização administrativa e militar.
Nessas condições, como fica a reivindicação, justa e legítima, de um Estado Palestino reconhecido, como o foi, em 1948, há mais de meio século, o Estado de Israel, se até agora não tem continuidade física e nem soberania territorial. Se não tem, nem mesmo, o controle de seu espaço aéreo?
Nessas condições, o palestino vive seu dia-a- dia bloqueado, sem liberdade de movimento, oprimido e discriminado. Humilhado diariamente em seu próprio país por forças de ocupação. Vinte mil soldados judeus ocupam a Cisjordânia. Sob pretexto de operações contra suspeitos de terrorismo, até a pouco, prendiam palestinos que eram numerados na testa, exatamente como os judeus foram tatuados nos campos de concentração nazistas. Um cativeiro coletivo, com efeitos sociais e econômicos devastadores.
Quatro milhões de refugiados palestinos estão impedidos, há 54 anos, de voltar para casa. O retorno, justo para uma situação difícil, garantido pela Resolução 194 da ONU, é recusado por Israel que invoca preocupações demográficas.
Como pensar o futuro se a criação de um Estado Palestino de pleno direito, prevista nos acordos de Oslo em 1993, está submetida à mediação dos Estados Unidos, com seu voto e veto na ONU? Império hegemônico, juiz e parte, que pouca ou nenhuma importância dá à opinião internacional, pressionado por um lobby judeu conhecidamente dotado de considerável força econômica, de estreitos vínculos com o poder e com a imprensa. O presente, nós sabemos, encontra-se fechado num “catastrófico ciclo de violência que só promete mais derramamento de sangue e medo”, clama Arafat.
A ONU, ao abdicar seu papel de mediadora, não pode agir de acordo com a vontade da maioria das Nações. A paz duradoura e justa na região está assim longe de ser conseguida, após 53 anos de conflito!
Como compartilhar Jerusalém no estatuto de cidade aberta e capital de dois Estados, se Sharon atiça o fogo do descontentamento ao decretar que “Jerusalém é a capital unida e indivisível de Israel”. Esse tradicional slogan da direita nacionalista de Israel põe fim ao sonho palestino de fazer da cidade da paz a capital de dois Estados.