Em diversas cidades do país, o mês de janeiro foi marcado por protestos contra o aumento das passagens de ônibus. A juventude foi às ruas e enfrentou corajosamente as forças de repressão exigindo a redução do preço das passagens e o passe livre para todos os estudantes.
Manifestantes enfrentam a repressão policial nas ruas de Recife, PE
Ao todo, sete capitais brasileiras tiveram aumento nas passagens de ônibus municipais desde dezembro de 2011. O preço da tarifa do transporte público ficou mais caro no Rio de Janeiro (10%), em Belo Horizonte (8%), Cuiabá (8%), Vitória (6,8%), João Pessoa (4,7%), Recife (6,5%) e Teresina (10,5%). Outras quatro capitais devem ter aumento da tarifa ainda no primeiro semestre de 2012. Em Palmas, a tarifa deve chegar a R$ 2,50, um reajuste de 13,6%.
Não aceitando mais os criminosos aumentos, em todo o país milhares de pessoas participam das manifestações exigindo a redução das tarifas e contra a péssima qualidade dos transportes públicos.
Teresina – PI
Em Teresina, o ano começou com vários dias consecutivos de combativos protestos. O preço da passagem de ônibus na capital piauiense aumentou de R$ 1,90 para R$ 2,10. Nos dias 5 e 10 de janeiro, milhares de estudantes e trabalhadores enfrentaram a tropa de choque da PM nas ruas do Centro da cidade. Na manifestação do dia 5, em resposta a repressão desencadeada pela PM, os manifestantes incendiaram um ônibus.
No dia 10, um aparato repressivo com mais de 500 policiais foi enviado para impedir o protesto. Não temendo a repressão policial, os jovens responderam a agressão bloqueando a Avenida Frei Serafim, no Centro, e atirando paus e pedras contra a polícia. Pelo menos 17 pessoas foram presas. Três manifestantes ficaram feridos pelos disparos da tropa de choque da PM e outros tantos ficaram sufocados com as bombas de efeito moral. O estudante de filosofia Hudson Christh Silva Teixeira, 21 anos, perdeu a visão do olho direito após ser atingido por estilhaços de uma bomba atirada pela tropa de choque.
— “De repente, uma bomba explodiu nos meus pés e os estilhaços atingiram o meu rosto, principalmente o nariz e o olho direito. Quando virei para correr, recebi tiro nas costas e na perna”, afirmou Hudson.
Buscando criminalizar o movimento, o delegado Antônio Marques Filho deu declarações dizendo que os manifestantes irão responder pelos crimes de “desobediência”, “incitação ao crime”, “resistência” e “atentado contra a segurança dos meios de transportes”. A polícia está cobrando uma fiança de 10 salários mínimos (R$ 6.220) para cada preso liberado.
Em 13 de janeiro, oito dos manifestantes que foram presos durante os protestos, um dia após serem soltos, deram uma entrevista coletiva aos órgãos de imprensa e denunciaram as agressões físicas e o terror psicológico que sofreram na Casa de Custódia e na penitenciária feminina. Eles contaram que, ao chegarem na prisão, foram recebidos pelos policiais com as seguintes frases: “Bem-vindos ao inferno… Se olhar pra mim apanha!”.
— “Durante a vistoria, alguns PMs encapuzados entraram na cela e nos agrediram. Eu mesmo levei um chute nas costas. Um outro estudante, levou um tapa na cara. As agressões foram muitas, tivemos nossas roupas rasgadas”, disse o estudante Álamo Sousa, um dos presos.
Mesmo com as tentativas de intimidação e a repressão policial, a juventude de Teresina continua mobilizada e disposta para a luta até que a passagem seja reduzida.“Eu não tenho medo, vou até o fim. O movimento não vai se intimidar”, afirmou a funcionária pública Socorro Santana, uma das manifestantes presas.
Vitória – ES
A tarifa do Sistema Transcol passou de R$ 2,30 para R$ 2,45 e, em Vitória, a passagem subiu de R$ 2,20 para R$ 2,35.
Ônibus incendiado durante protesto em Vitória, ES
No protesto contra o aumento da passagem realizado no dia 11 de janeiro, os manifestantes bloquearam as avenidas Getúlio Vargas e Princesa Isabel, no Centro de cidade. A tropa de choque foi enviada para reprimir o protesto e chegou lançando bombas e balas de borracha. Os jovens enfrentaram a polícia e queimaram um ônibus. Ao menos 17 manifestantes foram detidos.
A polícia prendeu um estudante de física da Universidade Federal do Espírito Santo acusando-o de incendiar um ônibus e quer indiciá-lo por “tentativa de homicídio”. O jovem foi rastreado através de redes sociais, usadas por ele para apoiar movimentos populares e as manifestações contra o aumento acontecendo atualmente no Brasil.
Recife – PE
Na manhã de 20 de janeiro, centenas de estudantes e trabalhadores foram às ruas protestar contra o aumento de 6,5% nas passagens. A decisão do aumento ocorreu durante reunião do Conselho Superior de Transporte Metropolitano realizada a portas fechadas nesse mesmo dia.
A manifestação marchava no Centro da cidade em direção a sede do Grande Recife Consórcio de Transportes, no Cais de Santa Rita, quando a tropa de choque da PM atacou os manifestantes. O confronto começou em frente ao Fórum Tomás de Aquino. Os manifestantes não se intimidaram e enfrentaram os soldados da tropa de choque, que tentaram em vão conter o protesto, lançando bombas de gás e balas de borracha e ferindo algumas pessoas.
Depois de o protesto ter sido disperso, os manifestantes se reuniram na Faculdade de Direito, na Boa Vista. Após a assembleia, eles resolveram novamente sair em passeata. Os policias se aproximaram mais uma vez lançando mais bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. As pessoas que participavam da passeata responderam lançando pedras contra os policiais.
No dia 23 de janeiro, centenas de pessoas voltaram a protestar e a enfrentar a repressão policial que, novamente, usou da truculência contra a manifestação. Algumas pessoas passaram mal com as bombas lançadas pela tropa de choque. Uma delas explodiu próxima a uma mulher grávida, que teve de ser socorrida aos prantos. Comerciantes do Centro de Recife também foram atingidos.
Em entrevista ao portal G1, a comerciante Edijane Conceição, que trabalha há dez anos na Avenida Conde da Boa Vista, disse: “Eu tava trabalhando, não tinha nada a ver com isso. Jogaram pimenta nos meus olhos, está ardendo muito”. E o comerciante Rafael Azevedo afirmou que foi uma “Covardia, os estudantes estavam desarmados e eles [policiais do choque] já chegaram com escudos levantados”.
Belo Horizonte – MG
Na capital mineira as passagens do transporte metropolitano aumentaram de R$2,45 para R$2,65. Há ainda passagens para outras localidades cujos preços ultrapassam os R$3,50.
Um protesto organizado por um comando composto por diversas organizações estudantis mobilizou estudantes e trabalhadores numa manifestação no Centro de Belo Horizonte no dia 12 de janeiro. Cerca de 200 pessoas participaram da passeata, que foi apelidada de ‘Porrada no Busão’, numa referência à luta contra o aumento da passagem travada pelos estudantes de Rondônia no ano passado, com o mesmo nome.
Joinville – SC
No dia 13 de janeiro, dezenas de jovens fizeram uma manifestação em solidariedade à luta dos estudantes de Vitória e Teresina. No vídeo postado no Youtube os manifestantes aparecem cantando a palavra de ordem: “Luta em Vitória, luta em Teresina, se em Joinville não baixar, a luta não termina!”. Na cidade, a maior de Santa Catarina, a passagem aumentou para R$ 2,70 no início do ano.
Rio de Janeiro
No dia 4 de janeiro, ocorreu a primeira manifestação na capital fluminense. O protesto percorreu a Av. Presidente Vargas, no Centro da cidade, contra o aumento da passagem que passou de R$ 2,50 para R$ 2,75. Nos dias 13, 18 e 25, centenas de trabalhadores e estudantes realizaram novas manifestações que foram da Candelária até a Central do Brasil, onde os manifestantes pularam as catracas dos ônibus (o famoso ‘pulão’ ou ‘catracaço’) e abriram as portas de trás dos coletivos, liberando o acesso à população.
Nos dias que antecederam os protestos, o Comitê Contra o Aumento das Passagens, criado pelos manifestantes para organizar a luta, distribuiu mais de 10 mil panfletos convidando a população a participar dos protestos, que estão marcados para acontecer todas as quartas-feiras. Uma ampla divulgação foi feita nas redes sociais na internet. Cartazes foram colados e pichações contra o aumento foram feitas no Centro da cidade.
A reportagem de A Nova Democracia esteve presente nas passeatas e conversou, no dia 18, com vários trabalhadores que passavam pela Av. Pres. Vargas na hora da manifestação e não pouparam críticas ao reajuste da tarifa, o segundo em um ano.
— Se eu vim de Manilha, do outro lado da ponte [Rio-Niterói], para cá, e agora eu vou daqui para Botafogo, já dá R$ 1,50 a mais. Isso todo dia, durante o mês, quando somar… É quase uma cesta básica ou um botijão de gás, que é R$ 32 – disse um trabalhador.
—O aumento que a gente tem de salário é o mínimo possível, e a passagem que eles aumentam não dizem nem a porcentagem que é. Para mim é um gasto altíssimo, porque eu pago uma passagem de R$ 13,00. A metade do dinheiro que eu ganho é só de passagem – relatou outro trabalhador que demonstrou apoio à passeata.
Os vídeos feitos por AND com as imagens das manifestações e as entrevistas podem ser vistos no blog da redação do jornal: anovademocracia.com.br/blog.
Aumento do salário mínimo é para inglês ver
Recentemente os marqueteiros do gerenciamento Rousseff anunciaram um “reajuste” do salário mínimo que passou dos R$ 545 para R$ 622 como se isso se tratasse de um feito heroico. Mas nem toda maquiagem de “crescimento” gasta pelo oportunismo é capaz de esconder que isso representa muito pouco ou quase nada para os trabalhadores brasileiros.
Ademais, é bom lembrar que o reajuste se aplica apenas ao salário mínimo. Ou seja, nem mesmo os aposentados que recebem mais que um salário mínimo receberão esse aumento, que será menor para eles. Da mesma maneira, as diferentes categorias profissionais se verão às voltas com reajustes miseráveis, prosseguindo com o achatamento dos salários gerais, apesar da apologia do salário mínimo.
Um relatório da Organização Internacional do Trabalho – OIT apontou que, comparando o período de janeiro a outubro dos anos de 2010 e 2011, o reajuste do mínimo foi de apenas 1,4%, enquanto que nos demais países da América Latina, o reajuste foi de 7,1%. Entre as semicolônias latino-americanas, o Brasil só não ficou atrás da Colômbia, onde o salário foi reajustado em 0,2%, e do que do Panamá, que registrou queda de 5%.
O último cálculo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese do que chamam de “salário mínimo necessário” foi de R$ 2.349,26. Esse cálculo é orientado pelo artigo 7º da constituição que considera:
“Direito dos trabalhadores, urbanos e rurais, salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família (4 pessoas), como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim.”
Com base nessa informação, o salário inconstitucional, insuficiente e degradante estabelecido pelo gerenciamento do velho Estado aos trabalhadores brasileiros, recentemente “reajustado” para R$ 622, representa apenas 26,4%, pouco mais de uma quarta parte do que seria “necessário” para um trabalhador sustentar sua família.
E bastou que se anunciasse o dito “reajuste” para que os preços dos itens básicos para o consumo aumentassem absurdamente. Se tomarmos como exemplo o Rio de Janeiro, com o aumento da passagem de ônibus de R$ 2,50 para R$ 2,75, uma pessoa que utilize o transporte público pelo menos duas vezes todos os dias, gastará, ao fim de um mês, em média R$ 165,00, valor que equivale a 30% do salário mínimo.