Com trabalho artístico de cunho social, o Teatro de Expressão Sol (Tesol) vem há 38 anos divulgando essa arte em Taboão da Serra, SP, sendo precursor na cidade. Fundado e dirigido pelo peruano Daniel Diez, o grupo luta contra falta de verbas e prepara a estreia de mais um espetáculo.
— Cheguei no Brasil em 1964 e comecei fazer teatro na Escola de Artes Dramáticas, do Alfredo Mesquita. Me juntei com o grupo Tuca de teatro da PUC-SP. Montamos Morte e Vida Severina, com a trilha sonora de Chico Buarque — conta Daniel.
— A repressão da ditadura militar era muito forte, muita perseguição. Eles vinham atrás de nós mesmo para nos prender. Por causa disso tive que fugir em 1967, voltar para o Peru. Dois anos depois decidi voltar e continuar fazendo teatro político social, mesmo correndo riscos.
— Cursava agronomia lá no Peru, mas preferi o teatro e especificamente no Brasil. Me matriculei na Faap [Fundação Armando Álvares Penteado], e voltei a participar de montagens, entre elas Macunaíma, de Mário de Andrade, e O Diletante, de Martins Pena — acrescenta.
Com a esposa e atores que se juntaram a ele, Daniel começou o movimento de teatro em Taboão da Serra, grande São Paulo.
— Vim para Taboão porque havia comprado um terreno aqui, de 400 metros mais ou menos, com uma casa pequena no fundo. Então comecei a construir o espaço que temos hoje, a sede do grupo.
— Muitas vezes ensaiava as peças na sala da minha casa. Depois comecei a rodar com os espetáculos e o dinheiro arrecado era dividido entre os atores, e uma parte ficava para comprar cimento, pedra, areia — continua.
— Assim fui construindo o anfiteatro, que, pela pouca verba, até hoje ainda não está terminado. Mas tem um palco, saguão, plateia e um camarim ainda inacabado.
O nome do grupo veio da ideia que o ator e diretor Eugênio Kusnet tem sobre teatro.
— Fiz um curso com o Eugênio, uma figura muito importante para o teatro brasileiro, e ele falava que o ator era o sol, o centro. Todo o resto da cena, que são figurino, cenário etc., eram os planetas — explica.
— Por eu ser peruano, todo mundo achava que como os incas adoravam o sol eu havia colocado Tesol, mas foi só por causa desse pensamento do Eugênio Kusnet. A princípio significava Teatro Experimental Sol, porque nas décadas de 60 e 70 todos formavam grupos experimentais.
— Depois tirei o experimental e coloquei de expressão, porque uni a dança ao teatro. Já montei muitas peças de teatro, dança, porque essa é uma arte que também aprecio muito — acrescenta.
Cumprindo seu papel
— São 38 anos que o grupo cumpre, com dificuldades, um papel artístico social em Taboão. Hoje existem muitos grupos trabalhando teatro com a comunidade daqui. Porém, quando cheguei não tinha nada disso, não havia movimento teatral em Taboão — diz Daniel.
— Trouxe um ator profissional e professor para divulgar teatro aqui, e começamos a montar dramaturgias que me renderam prêmios inclusive. Ele veio para o Tesol, mas depois abri mão dele para todo o grupo teatral da cidade, e criaram outros.
— Continuei fazendo meu trabalho, interagindo com a comunidade, e ganhei mais prêmios. Também abri a sede para oficinas-teatro e outras formas de arte, dando aulas e encaminhando jovens para a profissão de ator, além de atuar, dirigir e produzir minhas peças — acrescenta.
Segundo conta, Daniel tem se desdobrado em favor da arte para sobreviver todo esse tempo sem apoios.
— Já fiz muitos bicos em contabilidade, vendedor, e consegui alguma verba temporária para um determinado projeto. Também alugo a sede para outros grupos montarem e ensaiarem.
— Um tempo atrás a prefeitura daqui manteve um liceu de artes com aulas para crianças e adultos que eram ministradas aqui por mim e minha esposa. Na mudança de governo interromperam o projeto, com a promessa de voltar um dia — fala.
— O resultado é que ficamos desempregados como professores, e a coisa vai por aí. Porém, continuamos a ministrar as nossas oficinas, e, no momento, estou dando aula de teatro para uns alunos da faculdade Anhanguera.
Para esse ano Daniel avisa que o Tesol iniciará oficinas de violão e capoeira.
— Gostaríamos de fazer mais, trazer mais coisas para a comunidade, mas isso nos acarreta gastos que não podemos arcar. Com uma oficina acontece uma movimentação de pessoas que gera aumento das contas de luz, água, tudo aumenta e nós não temos condição de segurar esses gastos — explica.
— Mas continuamos na luta! Estamos sempre tentando verba para movimentar o nosso teatro comunitário. Há pouco, por exemplo, conseguimos fazer umas esquetes, que nós mesmo escrevemos, voltada para as crianças, reunindo umas 40 crianças aqui na sede, de quinze em quinze dias.
— No final do espetáculo distribuíamos caramelo, bola, brinquedo para a criançada, sem cobrar nada. Também fiz oficina de declamação de poemas, e montamos várias peças de cunho político, sobre a comunidade, o meio ambiente e outros assuntos que tem a ver com o povo.
O foco do trabalho desenvolvido pelo Tesol é a comunidade que na qual está inserido.
— Sempre ficamos mais em Taboão mesmo, desenvolvendo oficinas e nos apresentando na sede e outros lugares daqui. Isso para mim é bom, porque meu objetivo é divulgar a arte na região, já que abracei essa cidade como um país meu — declara Daniel.
— Nesse momento estamos montando a peça Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Acredito que deve estrear ainda no primeiro semestre desse ano. Apesar de já ter trabalhado com essa peça há 40 anos, vejo que a questão da reforma agrária não mudou.
— O objetivo continua sendo dar um grito sobre a reforma agrária. Também estou começando a montar uma peça que fala alguma coisa sobre o hospício Juqueri. Paralelo, tenho participado de uns improvisos em praças de Taboão, dentro de um projeto que acontece aqui — conta.
Para montar suas peças o Tesol chama alunos e ex-alunos das oficinas e atores que simpatizam com o grupo.
— Em Morte e Vida Severina, por exemplo, estamos contando com 15 atores. Os figurinos são confeccionados por eles mesmos, muitas vezes com material reciclado etc. Nessa peça não estou atuando como ator, somente dirijo — conclui Daniel Diez.
ciatesol.blogspot.com.br é contato do grupo.