Falar em verdade sem punir os torturadores é farsa

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Falar em verdade sem punir os torturadores é farsa

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Painel da LCP durante audiência da Comissão em Belo Horizonte

No dia 22 de outubro ocorreu mais uma audiência pública da Comissão Nacional da Verdade. Essa audiência aconteceu no auditório da reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e teve como tema Universidade, estudantes e ditadura.

A audiência tinha como objetivo cumprir apenas mais uma entre as formalidades atribuídas à comissão instituída pelo gerenciamento Rousseff e assim o fez. O microfone foi aberto para algumas pessoas darem o depoimento sobre o regime militar e o movimento estudantil. Não por acaso, com raríssimas exceções, foram convidados para dar esses depoimentos pessoas que, ou não foram torturadas, ou não participaram da luta armada, ou que renegaram completamente a luta armada e aproveitaram-se da tribuna para fazer propaganda reacionária.

Após os depoimentos da abertura, um dos presentes muito bem observou que aquela audiência exalava um ar de concordância “muito mais pelo seu caráter elitista do que pelo seu caráter democrático”.

E somente quando os jovens, militantes do movimento popular e alguns poucos sobreviventes do regime militar tomaram a palavra pôde-se fazer a defesa dos que tombaram e denunciar o caráter dessa comissão da verdade que não tem objetivo de punir e não tem poderes para nada, sequer para abrir os arquivos dos militares.

Representantes da Liga dos Camponeses Pobres abriram um grande painel com os dizeres “O Estado brasileiro sob a gerência Lula/Dilma/PT assassina, tortura e criminaliza os camponeses em luta pela terra”, estampado com fotos de camponeses assassinados e torturados entre os anos de 2008 e 2012.

 Um panfleto assinado pelo MFP e MEPR distribuído durante a audiência demarcava campo: “Nem esquecimento, nem perdão nem reconciliação: punição para os criminosos do regime militar” – e denunciava: “Para dar ares de solenidade, essa sessão da comissão pretende ‘homenagear’ estudantes torturados e assassinados pelo regime militar, esses jovens revolucionários que lutaram contra o velho Estado pela construção do socialismo no Brasil, e que até os dias atuais detêm a inaceitável condição de ‘desaparecidos’”.

Após o depoimento marcante de Ângela Pezzuti, familiar de militantes presos e torturados e ativista da luta contra o regime militar, uma dos poucos que defendeu a necessidade e a importância da luta, ativistas do MEPR gritaram: “Não passará o crime hediondo do regime militar” e arrancaram aplausos. Quando os nomes de militantes torturados e assassinados foram citados, um grupo de ativistas do movimento Levante Popular da Juventude respondia de punhos erguidos “Presente, presente, presente!”.

Estudantes da UFMG tomaram a palavra e denunciaram que, naquele momento em que se evocava a luta por democracia, a reitoria da universidade, na pessoa do reitor Clélio Campolina, que presidia aquela audiência, havia ordenado o fechamento do Restaurante Universitário do campus em represália aos estudantes que protestavam contra o aumento do preço das alimentações pulando as catracas do “bandejão”.

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O MFP denunciou acordo feito entre os militares e os governos posteriores

Heloisa Greco, a “Bizoca”, filha e continuadora da luta de Dona Helena Greco contra os crimes do regime militar, leu um manifesto denunciando a tentativa do governo de impor a reconciliação e o silêncio.

Uma ativista do MFP tomou a palavra e afirmou que falar em verdade e não falar em justiça e punição para os torturadores não passa de farsa. Denunciou o acordo feito entre os militares e os governos os sucederam para que os criminosos, militares e civis, mandantes e executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados não fossem punidos. Conclamou os presentes a se unirem à luta pela punição dos criminosos do regime militar.

Em seguida, um representante do MEPR exaltou a participação da juventude na luta armada no período do gerenciamento militar, afirmou que aquela não era apenas uma luta “contra a ditadura” como muitos dizem, mas era uma luta contra o sistema de exploração e opressão, pelo socialismo, e que se alguns renegaram essa luta, a juventude deveria assumir a linha de frente em sua defesa.

Uma faixa com letras vermelhas com os dizeres “Cadeia para os torturadores do regime militar”, segurada por jovens, percorreu o plenário sob aplausos da plateia.

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