Passado o êxtase do grande "espetáculo" que monopolizou as atenções da maior parte do povo norte-americano, a morte e quase santificação de Michael Jackson, a dura realidade dos fatos volta a cena principal no estado da Califórnia, o Eldorado cantado em prosa e verso, capital mundial da frivolidade fabricada pela usina de sonhos que se chama Hollywood, cuja indústria cinematográfica massivamente se encarrega de mostrar mundo afora uma imagem totalmente fantasiosa do "sonho americano", hoje (felizmente) já completamente desacreditado em boa parte do mundo.
Vale lembrar que, enquanto os acontecimentos mundiais são altamente preocupantes, como a crise econômico-financeira, as hecatombes naturais provocados pela sanha do imperialismo, a fome, as doenças, as guerras de rapina (cujos grandes patrocinadores são justamente os norte-americanos), o estado da Califórnia protagonizou com o "enterro" de Michael Jackson, uma tragicômica farsa de "honra fúnebre", transformando o ato num espetáculo comercial no qual rolou muito dinheiro, enchendo os bolsos de produtores, gravadoras, estúdios, monopólio da comunicação, gigolôs do "show business", de familiares do artista e picaretas em geral, que tiraram o proveito que puderam desse verdadeiro "show".
E enquanto exploravam a morte do quando vivo execrado artista e centenas de milhões de pessoas estavam hipnotizadas pregadas à TV, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzeneger, ator medíocre levado a conduzir a Califórnia pelos que acreditavam que ele iria repetir na vida real suas proezas cinematográficas, dava tratos a bola para tentar resolver um problema que parece não ter solução: evitar a quebra econômica total do estado, que avança no ritmo do agravamento da crise geral do sistema.
O Secretário do Tesouro daquele estado acaba de declarar que já alertou o governador que o caixa (dos cofres públicos) deverá zerar no mais curto prazo, e prevê que esta seja a pior crise de liquidez financeira desde a Grande Depressão das décadas 20/30.
A Califórnia, que já vinha enfrentando sérios problemas anteriores, teve a sua situação bastante agravada quando se instalou a crise imobiliária (sub-prime) por ter os financiamentos imobiliários altos demais (supervalorizados), com prestações altíssimas, o que levou milhões de prestamistas a suspender os pagamentos e ter de entregar suas casas aos bancos e financeiras, causando por consequência uma queda brutal na receita de taxas e impostos do estado. O rombo no orçamento do estado levou o governo a fazer um acordo com os legisladores anti-povo para determinar profundos cortes nos serviços públicos que eram proporcionados a população, mais especialmente a terceira idade e pessoas de menores recursos. O jornal Los Angeles Times informa que milhares de adultos e crianças perderão a cobertura médica e as administrações dos municípios da Califórnia perderão milhões de dólares de assistência estatal e deixarão de receber os cheques do Seguro Social.
No setor de educação está previsto um corte de quase 6 bilhões de dólares de escolas básicas e institutos de formação técnica, além de quase 3 bilhões no sistema universitário estatal. Cerca de 1 milhão de crianças pobres (em especial latino-americanas) ficarão sem escola e perderão seu seguro-saúde, além da merenda que recebiam diariamente. O sistema de transporte escolar também foi prejudicado com o corte das linhas de ônibus escolares, único meio possível para os alunos chegarem às aulas, principalmente nos grandes centros, como Mercedes e Sacramento. A situação das escolas públicas, segundo o Secretário de Instrução Pública, é "cada vez mais precária e deverá piorar nos próximos anos se continuarem os cortes orçamentários destinados a Educação”.
No distrito de Hayward, existe a previsão para despedir centenas de professores, assim como em Los Angeles milhares de professores poderiam enfrentar a mesma situação.
Além do problema na Educação, praticamente todos os setores da administração pública foram atingidos pela crise. A Califórnia enfrenta um "déficit" de mais de 40 bilhões de dólares e suas reservas estão muito perto de esgotar-se por falta de arrecadação, o que está levando ao corte do pagamento das empresas prestadoras de serviços, fornecedores e funcionários públicos já a partir das próximas semanas.
A narco-lavoura de Schwarzeneger
Mas — após a quebra da sua indústria madeireira, que foi seu baluarte econômico durante os bons tempos da enxurrada de construções residenciais e industriais que abarrotaram o mercado imobiliário e explodiram em função da crise de inadimplência — parece que a Califórnia vai mesmo encontrar a solução dos seus problemas dentro da ‘agricultura’.
Só que, por incrível que possa parecer, a agricultura que pode "salvar" a economia da Califórnia é justamente aquela com que o governo ianque gasta milhões de dólares para pretensamente combater e utilizar como justificativa para sua política de Guerra de Baixa Intensidade e agressões na América Latina e outros países: a cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha.
Isso mesmo, a cultura da maconha na Califórnia não é crime, assim como seu consumo quando acompanhado de receita médica. A maconha hoje já movimenta milhões de dólares, (não há, obviamente, estatísticas a respeito) nos extensos cultivos ao norte de São Francisco, aos pés das Montanhas Rochosas, com um gigantesco consumo de toneladas de fertilizantes, adubos e pesado equipamento agrícola. As plantações já se estendem por milhares de acres de parques e florestas e as autoridades do setor agrícola afirmam que "as empresas que dão certo atualmente são as que trabalham com esse setor".
Os Estados Unidos gastam verdadeiras fortunas numa suposta campanha de erradicação da coca e da maconha na América Latina, mas que na realidade é (mais) uma estratégia para a ingerência e dominação, uma desculpa para a infiltração estadunidense através de bases militares e a desestabilização sistemática daqueles países.
Mas na realidade o combate às drogas fica num segundo plano, até porque se a preocupação dos ianques com as drogas fosse prioridade, não estariam plantando essas áreas imensas em seu próprio território, do contrário estariam concentrados em combater o tráfico e consumo de drogas em seu país (que sustenta o maior índice em todo o mundo), assim como o ‘narcotráfico’.