Na Europa, cada vez mais as farsas eleitorais da burguesia são ignorados pelo povo trabalhador, e cada vez mais o fascismo sem meias palavras, aquele do tipo abertamente antipovo, vem se aproveitando desta recusa das massas para ganhar corpo frente às agremiações partidárias não menos reacionárias, porém disfarçadas com os trajes por vezes enganadores do oportunismo, da conciliação.
Imagem divulgada pelo UDC suíço e copiada em cartazes pelos fascistas europeus
Estas últimas, legendas autodenominadas "socialistas" e "democratas", agora se inquietam com a ascensão da chamada "extrema-direita".
E inquietam-se principalmente porque a maior presença do fascismo sem máscaras nas instâncias burocráticas do Estado burguês — ou nos organismos supranacionais da Europa — traz consigo um enorme constrangimento: mais do que as diferenças, deixa à mostra as semelhanças entre o rosnar barulhento e espumoso dos xenófobos declarados com as políticas que tramitam sob o manto de uma plácida legitimidade, mas que são verdadeiramente escandalosas, porque são políticas de precarização, humilhação e morte.
Trocando em miúdos, o recrudescimento nas urnas da direita mais extremista mostra que, no limite, ela não é tão diferente assim dos outros grupos que se apresentam às massas na forma de diferentes alternativas eleitoreiras, com suas promessas infames, seu esmero para varrer as questões de classe para debaixo do tapete e seus compromissos com os inimigos das classes populares.
Uma das agremiações da extrema-direita que mais se assanha na Europa é o partido húngaro Jobbik. Trata-se de uma sigla que significa Movimento Para Uma Hungria Melhor, nome enganoso bem ao gosto de grupelhos desta estirpe. Na recente farsa eleitoral visando eleger deputados para o Parlamento Europeu, em junho, o povo húngaro rechaçou sonoramente mais uma festa das urnas organizada pela burguesia, que é a festa de auto-validação dos algozes das massas. O índice de abstenção à convocatória eleitoreira bateu nos 74% — neste pleito, realizado em junho, foi registrado o recorde europeu de não-comparecimento às urnas. Dos que atenderam ao berrante do sufrágio burguês, 15% votaram em candidatos do Jobbik, elegendo três eurodeputados abertamente racistas.
Mas este é apenas o braço parlamentar do Movimento Para Uma Hungria Melhor. O verdadeiro orgulho dos fascistas reunidos no Jobbik é a Guarda Húngara, corpo paramilitar formado por 1.300 membros, cuja atividade principal consiste em aterrorizar bairros onde vivem trabalhadores de etnias que odeiam. Seu uniforme é inspirado no do partido fascista húngaro dos tempos dos nazistas. Os ataques promovidos pela "guarda" já mataram mulheres e crianças ciganas, seu alvo preferencial. Recentemente a justiça húngara proibiu sua atuação, condenando-a por incitação ao ódio.
Na Alemanha, os que se auto-arvoram "democratas" também não escondem o constrangimento com a presença dos fascistas assumidos do NPD no Bundestag, o parlamento do país. Esta agremiação costuma promover passeatas de luto nos aniversários da vitória da União Soviética de Stálin sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial, e recentemente o presidente da legenda, Udo Voigt, foi condenado por um tribunal de Berlim por distribuir folhetos racistas durante a Copa do Mundo de futebol de 2006, realizada em solo alemão.
Xenofobia e anticomunismo
A Itália é o país europeu onde o fascismo de peito aberto está nos postos mais altos do Estado burguês opressor, com a administração do magnata Silvio Berlusconi na linha de frente da implementação de políticas xenófobas contra os imigrantes e de precarização das condições de vida das classes populares. A própria neta de Mussolini é deputada pelo partido de Berlusconi. Como na Hungria, as patrulhas étnicas da época de Benito Mussolini voltaram às ruas e à rotina de perseguições. A diferença, até aqui, é que a Itália de Berlusconi já chegou até mesmo a regulamentar a caça xenófoba promovida pelas chamadas "patrulhas voluntárias de cidadãos".
No Reino Unido, o Partido Nacional Britânico, da estirpe do húngaro Jobbik, elegeu dois deputados para o Parlamento Europeu, para falso escândalo dos partidos Trabalhista e Conservador, aqueles que posam de defensores da liberdade. Um desses famigerados políticos se chama Nick Griffin, que também tem uma condenação por incitação ao ódio racial. A Comissão de Igualdade e Direitos Humanos do governo britânico deu um ultimato ao partido para que se alinhe com as leis britânicas, ou seja, para que passe a usar máscara a fim de disfarçar sua natureza antipovo, como fazem seus demais congêneres, sob pena de enfrentar um processo de banimento.
A Guarda Húngara com uniforme fascista
Na Polônia, a extrema-direita fascista está organizada nos partidos Liga das Famílias Polonesas e Samobrona (Autodefesa). Na Espanha, o partido Falange recebe elogios da Igreja Católica, adicionando mais um dado ao seu extenso currículo de colaboração com o fascismo. Na Itália, a controvérsia moralista referente a questões sexuais entre Berlusconi e algumas eminências do Vaticano pode dar a impressão de que fascismo e catolicismo são auto-excludentes, mas assim como a oposição entre "democratas" de sufrágio e partidos orgulhosamente fascistas é mais de veemência do que essência, esta é apenas mais uma impressão.
Na Suíça, o partido xenófobo Centro da União Democrática (UDC) passou a ser conhecido do povo brasileiro após a repercussão do caso da advogada Paula Oliveira, que no início deste ano apareceu com o corpo mutilado, marcado à faca com siglas fascistas, alegando ter sido atacada em uma estação de trem na cidade suíça de Dubendorf. Depois ficou provado que a moça mutilara a si própria a fim de conseguir dinheiro, mas uma das siglas que ela desenhou na própria pele foi a do UDC, que tem o hábito de espalhar outdoors com uma ilustração mostrando ovelhas brancas expulsando uma ovelha negra do território suíço. A imagem virou ícone dos fascistas que ladram alto da Península Ibérica ao Cáucaso.
O povo europeu precisa estar atento a toda esta movimentação, porque a escalada eleitoreira e paramilitar da dita "extrema-direita" — cujas características principais são a xenofobia e o anticomunismo — é uma tendência sintomática também de que a reação está intensificando esforços contra-revolucionários, exatamente no momento em que os levantes populares mais ou menos organizados se agigantam mundo afora, colocando os algozes do povo contra a parede, mostrando ânimo revolucionário e muita disposição para a luta contra o fascismo, mascarado ou de cara limpa.