A reforma para a Copa do Mundo do Maracanã está tirando o sono dos moradores da Favela do Metrô, na zona Norte do Rio de Janeiro, vizinha ao estádio. Desde o início de agosto, o gerenciamento Eduardo Paes (PMDB) ordenou a marcação das casas da favela com a sigla da secretaria municipal de habitação —condenado-as à demolição — ameaçando os moradores de expulsão com base em laudos genéricos da GeoRio. Corajosamente, moradores se organizam, certos de que só a resistência será capaz de barrar mais esse crime do Estado fascista contra o povo pobre.
Moradores da Favela do Metrô protestam contra a arbitrariedade de Eduardo Paes
A Favela do Metrô está situada na Avenida Radial Oeste, uma via arterial do Rio de Janeiro, e seus moradores enfrentam, desde o início de agosto, uma covarde investida da prefeitura, interessada em construir um estacionamento no local, como parte da obra de “revitalização” do estádio Maracanã. As medidas visam cumprir as exigências da Fifa para a Copa do Mundo de 2014, mas os moradores da Favela do Metrô prometem resistir.
Segundo Eduardo Paes, as cerca de 250 famílias que vivem no local estão em “área de risco” e seriam reassentadas no bairro de Cosmos, a nada mais, nada menos, que 70 quilômetros de onde vivem atualmente.
A lei orgânica do município, em seu artigo 429, prevê que os representantes da comunidade onde ficam os imóveis interditados devem ter acesso aos documentos que comprovam os riscos da permanência no local. A lei também obriga a prefeitura a apresentar uma proposta de reassentamento de acordo com as necessidades do morador, mas nenhuma dessas determinações está sendo cumprida e milhares de moradias estão sendo incluídas em um diagnóstico genérico de áreas de risco.
A reportagem de AND foi à Favela do Metrô e entrevistou a moradora Evalda Bezerra Alves, de 39 anos. A comerciante, que vive com o marido e os filhos de 2 e 11 anos, nos contou como tem sido a rotina de terror imposta por Eduardo Paes às famílias que vivem no local.
— O meu marido trabalha de carteira assinada, com salário fixo, a minha filha joga basquete e sonha em ser atleta. Todos nossos sonhos estão sendo todos jogados no lixo pelo Eduardo Paes. Não são apenas os nossos, os de todas essas famílias. Pessoas que estudam aqui, trabalham aqui, construíram as suas vidas aqui. Querem mandar a gente para Cosmos, que fica entre Campo Grande e Paciência. O problema não é só a nossa vontade de ficar aqui. O que nós vamos fazer em Cosmos? Um lugar onde não tem hospital, não tem escola, não tem trabalho. O patrão do meu marido já falou: ‘Se você for para Cosmos, eu não vou poder te dar duas passagens’. Se meu marido ficar desempregado o que será da nossa família? — desabafa a comerciante.
— O Eduardo Paes está preocupado com as Olimpíadas. Ele não gosta de pobre. Lugar de pobre para ele é lá no meio do mato de bico calado. Porque aqui, no centro de tudo, tem que estar tudo limpo e bonito para os gringos passearem. A gente está tranquilo aqui. Aqui não tem boca de fumo, tráfico, milícia, ladrão, nada disso. Estamos perto de tudo, do metrô, do trem, do ponto de ônibus. Não queremos sair daqui. Aqui, a única barbaridade que está acontecendo é da prefeitura contra nós. Eu tenho uma barraca de churrasco aqui do lado de casa e um dia desses, o choque de ordem veio aqui e levou o material de trabalho de vários comerciantes, mas o meu não levaram — acusa Evalda, lembrando que, além dos moradores, os comerciantes que têm estabelecimentos no local, também estão sob ameaça da prefeitura.
— O comércio aqui da comunidade também está sofrendo. Os lojistas, uns têm alvará, mas outros não têm. Esses que não têm já foram várias vezes à prefeitura, mas a prefeitura não quer dar. E porque deu alvará para uns e não quer dar para outros? E as lojas que possuem alvará estão em risco pois o Eduardo Paes está dizendo que são falsos. Como são falsos? Se a prefeitura deu, como pode ser falso? As pessoas querem ter um comércio direitinho e não conseguem. Você pensa que nós moramos na favela porque queremos? Nós queríamos morar num lugar direitinho, mas qual oportunidade nos dão? Em vez disso, eles nos tiram a única oportunidade que já tivemos na vida. Isso é justo? — pergunta.
— Mesmo assim, a moradia que ele quer nos dar em Cosmos não vai ser nossa não. Teremos que pagar 480 reais por mês para morar lá. Querem mandar a gente para um fim de mundo, onde ainda teremos que pagar condomínio e a taxa do programa da Caixa Econômica Federal, ‘Minha Casa, Minha Vida’. Ou seja, essa casa não vai ser dada, teremos que comprá-la. Você acha que são todos aqui que terão condições de pagar esse valor? E se não tiver como pagar, a Caixa leva para leilão e te colocam no olho da rua. E as 119 favelas que o prefeito quer remover, ele disse que vai mandar todas as famílias para lá. Você acha que cabem 119 favelas em Cosmos? — indaga a comerciante.
— Outro dia saiu na Globo que isso aqui era um lixão e não uma comunidade. Aqui não é lixão. Prova de que isso é uma comunidade é o fato de nós estarmos nos organizando, fazendo reuniões, indo na Defensoria Pública, nos unindo com pessoas de outras comunidades, ou seja, lutando pelos nossos direitos — garante Evalda, concluindo que a indiferença dos gerenciamentos de turno fez com que ela perdesse todas as suas esperanças nas eleições burguesas que estão por vir.
— Eu não acredito mais em eleição. Eu já estou falando para todo mundo aqui que eleição não muda nada, que a gente vai só eleger mais um, que vai massacrar o povo por mais quatro anos. Quando o Eduardo Paes estava fazendo campanha, ele disse que ia ‘reurbanizar’ as favelas com o projeto ‘Morar Carioca’. Disse que ia pintar as paredes, colocar esgoto nas favelas que não tivessem, áreas de lazer, e agora está aí, querendo remover todo mundo e mandar para Cosmos. O político que sempre pede voto aqui, outro dia chamou todo mundo para fazer uma reunião. Muitos acharam que ele queria nos ajudar a impedir a prefeitura de remover a comunidade. Mas não. Ele veio e disse que conhecia o Eduardo Paes, que nós tínhamos que ir embora mesmo e pegar esse apartamento no Cosmos, antes que ficássemos sem nada. Pode uma coisa dessas? Perdeu o voto de todo mundo. O meu voto, nenhum político mais vai ter — conclui.