O povo grego enfrenta as forças de repressão
No dia 8 de julho, o FMI liberou o desembolso de 3,2 bilhões de euros com que o fundo, a exemplo do que já fizera a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, compareceu com a sua parte no acerto para colocar a Grécia sob a ditadura financeira deste consórcio de instituições supranacionais do capitalismo em agonia, agravando a situação do povo do país.
Não obstante, esta verdadeira penhora de toda uma nação no balcão de negócio dos maiores inimigos é chamada de “ajuda” ao país pela mídia burguesa. Pois em troca da “ajuda” o FMI requisitou aos seus entrepostos da gerência grega que as medidas antipovo e pró-capital sejam implementadas de forma “rápida e enérgica”.
A nova manda-chuva do FMI, a ex-ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, já assumiu o posto de “diretora-gerente” do fundo prometendo mais arrocho para a Grécia. De Washington, no USA, Lagarde disse o seguinte a jornalistas do monopólio internacional dos meios de comunicação sobre as medidas de sacrifício de direitos trabalhistas, salários e empregos impostas à Grécia pela União Europeia e pelo próprio FMI: “não é suficiente”.
No dia 12 de julho surgiu a notícia de que a Grécia poderia decretar uma moratória parcial da sua dívida como derradeiro estratagema para evitar a bancarrota total. Nem sequer os vultosos montantes disponibilizados pelo FMI e pela Europa do capital para “socorrer” a Grécia – dinheiro que sequer passa perto da gerência de Atenas e muito menos o povo grego, indo direto para os credores – foram capazes de acalmar os ânimos do mercado.
Depois, a administração títere da Grécia fez saber ao Parlamento do país que não haverá tempo hábil para privatizar tudo o que os interventores ordenaram vender até 2015, tamanha é a dimensão das alienações do patrimônio público requisitadas pelo FMI e pela União Europeia em contrapartida ao pagamento das dívidas do Estado grego junto aos banqueiros alemães.
A Alemanha, por sua vez, convocou os próprios credores privados da Grécia a voluntariamente se apresentarem para participar do pacote de “ajuda”, devido “ao volume muito, muito alto de dívida”, nas palavras de Angela Merkel.
Por fim, jogando a pá de cal em qualquer esperança de recuperação das finanças estatais da Grécia, a agência de “classificação de risco” Finch rebaixou a nota da Grécia para “situação de quebra”. No dia 17 de julho a secretária de Estado ianque, Hillary Clinton, foi a Atenas para hipocritamente manifestar o apoio do USA “ao povo e governo da Grécia”, como se fosse possível estar ao lado de um e de outro ao mesmo tempo. Na verdade, Hillary foi à Grécia assinar um memorando de cooperação para combater o contrabando de relíquias arqueológicas e aproveitou para avalizar as reformas antipovo implementadas pela gerência Papandreou.
Consciente da situação, o povo grego não dá tréguas aos vende-pátria sob as ordens das potências da Europa do capital. As massas insurretas vêm enfrentando as forças de repressão do Estado grego nas ruas, com altivez, em defesa dos seus direitos e da sua nação contra a ofensiva que os poderosos ora lançam para sugar-lhes até a última gota de sangue, como um animal faminto em agonia – estado que afinal é aquele no qual o capitalismo ora se encontra.
Aviso à Troika, ao bancos e aos futuros investidores
“Advertência à troika, bancos e potenciais investidores locais e estrangeiros que sonhem com o patrimônio público da Grécia
Um governo decadente e ditatorial, que não representa o povo grego, acaba de votar em um projeto de lei que tem como objetivo a venda de território e de patrimônio público gregos, contra a vontade da maioria dos cidadãos.
Informamos a todos os que veem nisso uma oportunidade de investimento que não tardaremos em derrubar este governo, que em breve terá que prestar contas por seus crimes contra o povo e o país. Suas canetadas e seus projetos de lei são inúteis. O povo grego não os aprovou, e portanto não os reconhece.
Advertimos a cada potencial investidor que não lhes passe pela cabeça se interessar pelas vendas e pelos leilões do nosso solo e da nossa propriedade pública, muito menos comprá-los. Assim que o povo reconquistar a soberania do país, não só perderão tudo o que tiverem adquirido, como também o dinheiro que terá sido envolvido na transação ilegal não será reembolsado.
Além disso, advertimos que até recuperarmos o controle do país, no âmbito de defesa de nossos direitos, como previsto pela Constituição grega e também pelos direitos internacionalmente reconhecidos dos povos e dos seres humanos, faremos o que for necessário através de nossa auto-organização para cancelarmos estas ações, e sabotarmos seus eventuais investimentos.
Que nenhum aspirante a investidor se atreva a participar das vendas do solo e da propriedade pública da Grécia sem ter consciência do alto risco para seus investimentos. Caso o investimento seja levado a cabo, receberá as “boas-vindas” em um país que, quando privado da sua liberdade, sabe evocar Canaris e reduzir a escombros pontes sobre Gorgopótamo*.”
Assembleia da Praça Syntagma, 3/7/2011
_____________________
*Canaris foi um almirante da guerra de independência (1821-1830) que conseguiu destruir a frota turca em 1822. A destruição da ponte sobre o Gorgopótamo (25/11/1942) foi uma das façanhas heroicas dos partisans gregos contra a ocupação nazista alemã na II Guerra Mundial.