Não apenas a ciência política, mas mesmo os economistas liberais concordam com o princípio de que a política é a expressão concentrada da economia.
Pois bem. Tem sido uma constante nas páginas dos monopólios de comunicação, tanto do Brasil como do exterior, a afirmação de que “a crise política não afetou a economia…”
“O ano passado foi marcante para o Brasil porque, pela primeira vez, o mercado financeiro separou a crise política do desempenho econômico do país”, disse descaradamente o economista Albert Fishlow, professor da Universidade de Columbia, no USA.
Brasilianista e ex-subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos do USA, ele concedeu entrevista à Folha de S. Paulo para falar sobre as perspectivas para 2006. Uma das maiores críticas de roubos infinitamente menores como o esquema mensalão, A Folha de S. Paulo se apressou em fazer coro com afirmações dubladas por Palocci e Luiz Inácio, de que a política não interferia na economia .
Moleques nada mais
Fmiboys, birdboys e ciolsboys, ou seja, moleques do FMI e da CIOLs, essa é a origem dos ocupantes da gerência do sistema de governo semicolonial brasileiro – cuja política econômica é traçada pela metrópole através de seus órgãos gestores da economia mundial, tais como FMI, Banco Mundial, OMC, etc. A veracidade de que a política é a expressão concentrada da economia torna-se mais profunda quando a política econômica aplicada no Brasil é visível e inegavelmente traçada pela Casa Branca e suas agências como porta vozes do imperialismo.
A política belicista e terrorista ianque, representada pela sua estratégia que cinicamente nomeia a si própria de “luta contra o terror“, neste caso, é a inequívoca expressão da crise econômica sem precedentes que o imperialismo exerce, impondo a rapina, a devastação, a repressão, a miséria sem precedentes sobre o conjunto dos países explorados. É aí que devemos buscar a explicação para a crise do capitalismo burocrático no Brasil e nos demais países coloniais e semicoloniais.
Usando de sofismas, a direção petista tenta anular uma lei da história: busca apresentar uma correlação entre fenômenos mutuamente excludentes, ou seja, o que eles chamam de crise política é, na verdade, a crise de uma sub-política, por tratar-se de uma disputa doméstica para dividir migalhas que caem da mesa nos banquetes do imperialismo. Neste sentido, ela não tem nenhuma interferência na política econômica traçada pelo imperialismo e fielmente executada pelos seus prepostos no Brasil.
O Fundo dos agiotas
Graças ao esforço heróico do Exército Vermelho, ao impingir uma série de derrotas à besta nazista, em 1944, a II Grande Guerra Mundial ia se definindo em favor dos aliados. A França e a Inglaterra, bastante debilitadas pelo esforço de guerra, buscavam uma composição por baixo, com o USA, para manutenção do campo imperialista.
Surge aí a reestruturação do sistema financeiro internacional, sob clara hegemonia ianque, que consegue emplacar o dólar como moeda de troca internacional, e cria o Banco Mundial, inicialmente chamado de Banco da Reconstrução e o Fundo Monetário Internacional – FMI, como instituições que ao mesmo tempo fariam o papel de saqueador e polícia – como, então, estabeleceu o Acordo de Bretton Woods.
A princípio, o padrão dólar era lastreado por depósitos em ouro. Mas, usando ao mesmo tempo as duas características, o imperialismo ianque elimina o lastro ouro e passa a fabricar o papel pintado de verde, sem nenhuma garantia. Coisas da máfia da agiotagem internacional.
Máfia é também esta organização chamada Clube de Paris, que para o próprio Tesouro Nacional do Brasil é “uma instituição informal – sem existência jurídica” como a camorra, diríamos.
Foi essa instituição informal que representou cerca de 16 países credores na negociação de parte da dívida brasileira na década de oitenta do século passado. Uma de suas características é que exige, para fechar qualquer acordo, que o país devedor se submeta aos ditames do FMI. Esta é, por sinal, a maior demonstração de que o FMI é o maior guardião da máfia financeira internacional.
Na edição 27 de AND o professor Adriano Benayon mostra que:
“Há mais de 25 anos que os Poderes Executivo e Legislativo raramente deixam de atender às exigências e solicitações do sistema financeiro governado pela oligarquia mundial, representada pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, instituições nas quais predominam as políticas prescritas pelo Tesouro dos Estados Unidos”.
Assim, por iniciativa do Executivo brasileiro (?), o Congresso Nacional (?) aprovou:
1a legislação das privatizações (desestatização);
2os acordos de entrada do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) e de sua Carta, que limita a autonomia do País para legislar em matéria econômica àquilo que não colida com as regras da OMC;
3a Lei de Propriedade Industrial;
4as emendas “constitucionais” que modificaram, em proveito das empresas transnacionais, todo o capítulo da ordem econômica da Constituição;
5a emenda à Constituição que abriu brecha para que a inconstitucional Lei 9.478/97 quebrasse, na prática, o monopólio da União sobre o petróleo;
6as reformas tributárias e da Previdência, todas em aumento dos privilégios do sistema financeiro, do capital estrangeiro, consequentemente em detrimento das empresas nacionais e dos trabalhadores brasileiros;
7a Lei de “Responsabilidade Fiscal”, que prioriza as despesas com juros;
8a Emenda à Constituição que criou a desvinculação das receitas da União, para que o Tesouro arrebate, a fim de pagar juros exorbitantes, receitas das contribuições sociais, como a COFINS, CPMF etc.;
9a liberação de sementes transgênicas;
10a Lei de Falências;
11a das parcerias público-privadas;
12a demarcação de imensas terras “indígenas”;
13a privatização de fato das florestas do País, sob a capa de arrendamento por 40 anos, prorrogáveis. Tudo tal como “recomendado” por aquelas instituições falsamente intituladas internacionais.
Oposição de vergonha
Desde o início do pós-guerra, no Brasil e em todos os países explorados pelo imperialismo, a oposição aos gerentes de turno denunciava o caráter espoliador, tanto do FMI quanto do Banco Mundial. As cláusulas draconianas dos “acordos” que dilapidavam o esforço produtivo do país vitimado, drenando o essencial dos seus recursos para a agiotagem internacional, sempre foram alvos de manifestações e proclamações dos que lutavam contra a exploração imperialista.
A submissão ao FMI e ao Banco Mundial jamais deixou de ser destacada pela verdadeira esquerda do mundo inteiro, como a marca maior da direita dentro de cada país. Slogans como Fora daqui FMI! estavam sempre presentes em atos públicos, passeatas e outras manifestações de protesto.
No Brasil, a demagogia da direção petista usou e abusou dos simulados ataques ao FMI e ao Banco Mundial para enganar os incautos e, depois, em acordo com eles, chegar à gerencia de seus interesses.
Os que continuam a fazer uma oposição honesta permanecem com o mesmo pensamento, enquanto que o oportunismo trotskysta/pelego/ clerical petista é massageado diariamente pelas “autoridades monetárias internacionais” e pelos monopólios de comunicação, da colônia e da metrópole.
Para o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato – quando num pronunciamento na sede do FMI, em Washington -, a administração petista “é um exemplo muito bom para as economias emergentes de que as reformas não apenas valem a pena, mas podem dar resultados positivos e rápidos”. E acrescentou: “Se observarmos não apenas os resultados da economia, mas os efeitos da redução da pobreza no Brasil, creio que é um exemplo muito bom de até onde as economias emergentes devem avançar no futuro”.
E a auditoria?
Para Maria Lucia Fatorelli Carneiro, do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal – Unafisco, “A dívida pública é o centro dos problemas nacionais. A maioria dos recursos públicos tem sido destinada ao pagamento dos juros escorchantes dessa absurda dívida, impossibilitando a realização de investimentos promotores de crescimento econômico ou o desenvolvimento das políticas sociais. As conseqüências são graves para toda a sociedade. A evidência mais recente é a falta de recursos para um salário mínimo digno, mas encontram-se comprometidos todos os serviços essenciais de saúde, educação, segurança, moradia, saneamento, reforma agrária, infra-estrutura e demais serviços públicos”.
Ela comenta que “A origem da dívida atual pode ser explicada a partir da década de 70. Contratos haviam sido assinados pelos governos militares da época admitindo-se juros flutuantes, o que permitiu aos credores aumentarem livremente as taxas de juros – que saltaram de patamares em torno de 5% ao ano para mais de 20% ao ano – provocando a multiplicação do valor da dívida externa”. Esse aumento unilateral das taxas de juros é considerado ilegal pelo Direito Internacional.
Assim, o Brasil enviou ao exterior, de 1979 a 2003, a título de juros e amortizações da “dívida” externa, US$ 170 bilhões a mais do que recebeu de empréstimos, e a dívida se multiplicou por quase cinco, tendo chegado a US$ 235 bilhões, em 2003. Caso os credores não tivessem aumentado abusivamente as taxas de juros, a quantia que enviamos para o exterior teria sido suficiente para quitarmos a dívida em 1989, e ainda seríamos credores de US$ 100 bilhões.
A auditoria da dívida foi um clamor nacional. Mas, ao chegar ao sistema de governo do imperialismo no Brasil, o PT silenciou de vez quanto a ela.
Uma mascara a outra
“Nos anos 90, a sustentação do plano Real se ancorou na atração de capitais estrangeiros para o financiamento das importações, mas o governo também se endividou em moeda brasileira, emitindo títulos da Dívida Interna que remuneravam investidores brasileiros e estrangeiros com as taxas de juros mais elevadas do planeta. Assim, a dívida interna também se multiplicou” – conclui a diretora da Unafisco.
Por sua vez, o ministro Palocci, no final de ano, fez todo o tipo de estrepolia para enaltecer as vantagens de seu gerenciamento à frente dos negócios da máfia financeira internacional. Ele aproveitou a divulgação do Relatório de Inflação do último trimestre para destacar uma série de dados “positivos” nas contas externas brasileiras. Entre eles, a redução da dívida para cerca de US$ 165 bilhões neste ano – incluindo a privada e a pública. Esse seria o menor valor desde 1995, quando a dívida externa fechou em US$ 164 bilhões. Para ele, o nível mais alto foi registrado em 1999 (US$ 225 bilhões) enquanto para a Unafisco foi o de 2003, correspondendo a 235 bilhões de dólares.
Nem Luiz Inácio, nem Palocci e nem Meireles receberam ordens para, ao menos, esclarecerem que a captação de “investimentos” via lançamentos de títulos do governo, pagando as taxas mais elevadas do mundo são, na verdade, o mascaramento da dívida externa, já que o grosso destes títulos ou são adquiridos por especuladores externos, do tipo fundos de pensão, ou pelos bancos estrangeiros que atuam no país sob os nomes fantasia de Itaú, Bradesco, Real e até Banespa, entre outros. Todos eles protegidos sob a bandeira do FMI.
Quanto mais o governo emite títulos, mais cresce sua dívida externa. Sob o argumento de que, ao trazer dólares do exterior para pagar sua dívida, o governo também protege as reservas internacionais do Banco Central – ou seja estabelece garantias aos “investidores” de que o país pagará sua dívida em momentos de turbulência econômica internacional —, cresce a dívida pública que, este ano, já chegou a quase um trilhão de dólares.
Republiqueta de bufões
O que seria a tão anunciada festa de comemoração da saída do Brasil da tutela do FMI acabou se transformando na reafirmação da submissão incondicional do país. Logo após as afirmações de Meireles, Palocci e Luiz Inácio de que o PIB brasileiro cresceria 5% no próximo ano, o gerente da matriz do Fundo enquadrou a todos, estipulando o limite de crescimento, isto é, enquanto os gerentes das colônias fazem “previsões”, a metrópole dá ordens.
Em seu discurso, Rodrigo Rato afirmou que “O crescimento brasileiro está acelerando e entrando numa fase de crescimento em torno de 4%, o que é importante. Mas o Brasil deve ter objetivos mais ambiciosos a médio prazo”, Ele proferiu o maior discurso da tarde, porque, na verdade, a “solenidade” foi montada para que a gerência FMI-PT recepcionasse as ordens emanadas da metrópole, o que foi cumprido metodicamente por mais de 20 minutos. De maneira obediente foi realizada a defesa da “melhoria do esforço fiscal para reduzir a dívida”, mais “liberdade orçamentária”, autonomia do Banco Central, “flexibilização das leis trabalhistas” e ampliação do mercado de crédito.
O oportunismo petista, transformado em subserviência, transita de forma acelerada para a completa desmoralização do país, marcando com tinta forte o caráter semicolonial desta republiqueta, agora gerenciada por bufões.
São vários os episódios mais recentes que reafirmam esta triste condição:
- Hugo Chavez fez negócios com a Embraer imaginando que a empresa era do Brasil. Enganou-se, ela é do USA e está no Brasil, portanto sob as ordens do Estado de magnatas ianques, e não de Luiz Inácio;
- Fez-se uma convocação extraordinária do Congresso para triplicar os vencimentos dos deputados e senadores;
- Aconteceu o festival de tapa buracos sem licitação, numa clara manifestação eleitoreira, depois de três anos de estradas esburacadas, pavimentando as verdadeiras cujo destino é o Caixa 2.
Oportunismo, esmolas, demagogia, propinas (por eles mesmos apelidadas de mensalão), subserviência, bufonices etc., etc., são, afinal, os principais ingredientes para se consolidar uma republiqueta. O povo sabe disso.
Também buscam dar explicações fajutas para o pífio crescimento do PIB brasileiro, o qual ficou atrás de quase todos os países da América Latina, ultrapassando apenas o Haiti.