Marginalizada no passado e depois de anos difíceis, quando quase acabou, a gafieira volta a ocupar um lugar de destaque nas noites do Rio, com cariocas de todas as idades descobrindo a dança de salão.
Disposto a ensinar o samba de gafieira e outras ritmos, o dançarino Caio Monatte divide o trabalho de professor em sua escola com as apresentações de sua companhia, formada por jovens, em festivais de dança pelo estado.
– A gafieira teve uma certa rejeição ao longo da sua história, principalmente porque, no seu princípio, era frequentada pelos considerados malandros, boêmios, e as mulheres da vida. Eram os operários, empregadas domésticas, pessoas de baixa renda. O samba já havia sido criado nos morros e favelas da cidade, por esse povo pobre, e acabou vindo para as gafieiras, surgindo assim o samba de gafieira – diz Caio.
– A escola Caio Monatte está situada aqui no tradicional bairro do Estácio, onde nasceu o samba. Por esse motivo damos bastante ênfase ao samba de gafieira, em ensinar essa dança tão brasileira. Mas é importante dizer que o trivial da dança de salão é o bolero, o soltinho e o samba, e tudo isso ensinamos aqui também. E tem mais coisas nesse universo, como forró, salsa, tango, e outros, igualmente importantes – afirma.
Caio fala que o samba de gafieira é algo muito específico, criado e dançado somente nas gafieiras.
– O samba é muito rico, existindo vários estilos dentro dele. É o samba sincopado, o samba-canção, o samba de roda, o partido alto, o samba enredo, samba-choro, e mais, de acordo com as influências que ele teve em determinado local, em determinado momento. O samba de gafieira faz parte da história da cidade do Rio de Janeiro – expõe.
– Não é o conhecido samba no pé, como muitos podem pensar. É uma dança a dois, uma dança de salão, o samba dançado abraçadinho, que é a maneira que se dança em uma gafieira autêntica. E é impressionante como muitos cariocas não sabem que se trata de uma dança a dois. Isso acontece até mesmo com alguém apreciador do samba. Falam: ‘ué, mas não é samba no pé?’ – comenta.
– Ele é uma mistura de outros ritmos tocados nas gafieiras, que o povo mesmo inventou e começou a dançar. As pessoas apreciavam aqueles gêneros tocados, mas, ao mesmo tempo começavam a dançar um pouco diferente, faziam algo novo, e disso surgia uma nova dança. Além do samba de gafieira, esse foi o caso do soltinho também – fala.
Segundo Caio, soltinho é o nome que o brasileiro deu para o swing americano, modificado e incorporado à cultura da tradicional gafieira.
– O swing veio através dos marinheiros americanos que aportavam e procuravam um lugar para se divertir, e iam parar nas gafieiras. Assim trouxeram a dança que conheciam, as influências deles, que é o dançar afastado, girar a dama. E como era proibido se afastar da dama no salão, o pessoal ficou observando e acabou mudando o nome da dança para soltinho, porque diziam ‘vamos dançar aquele soltinho’. Depois de fazer algumas modificações, ela foi incorporada à nossa dança de salão – conta Caio.
Dança para todas as idades
Apresentação de Caio na festa popular em celebração dos 10 anos de A Nova Democracia
Segundo Caio Monatte, a dança de salão foi rotulada durante muito tempo como algo voltado exclusivamente para a terceira idade somente.
– Isso ainda existe um pouco, porque algumas reportagens a mostram assim. Isso foi uma imagem criada, porém, não é verdadeira. O cenário para a dança de salão no momento é bem diferente dessa ideia, é claro que ainda tem coisas para melhorar, mas quando se entra uma escola de dança de salão se pode ver pessoas de 30, 40, 10, 15, 20, 60, 70 e outras idades. Tenho pessoas de todas as idades fazendo dança na minha escola. São crianças, homens e mulheres – relata.
Caio começou a se interessar por dança com 22 anos de idade, como uma diversão, não imaginando que se transformaria em profissão.
– Tinha saído do exército e estava trabalhando em emprego formal, e fui influenciado por minha irmã, que gerenciava um salão de cabeleireiro, cujo dono era envolvido com dança. Ela me levou para fazer dança em uma academia que ele tinha e gostei do negócio. Depois entrei em outra academia, mas tudo por brincadeira – recorda.
– Mesmo assim fui convidado para dar aulas de dança, e depois de quase três anos dando aulas e trabalhando em outra área, resolvi me profissionalizar. Montei minha própria escola e a companhia de dança, e hoje participamos de festivais de dança aqui no estado do Rio e também fora. Este ano já vencemos os três nos quais estivemos. Também participamos de eventos de vários tipos – fala.
– Temos quatro casais, inclusive participo dançando além de coreografar, e mais dois casais para entrar caso seja necessário. A Cia Caio Monatte é formada somente por jovens, bolsistas daqui da escola. São todos meus alunos, pessoas que chegaram aqui sem saber dançar nada e hoje tem essa opção de trabalho. Inclusive já formei dois professores e estou a caminho de formar mais dois – Finaliza Caio.
O Espaço de Dança Caio Monatte fica na Rua Haddock Lobo, 79, no popular bairro do Estácio, Rio de Janeiro, onde AND realizou sua festa de 10 anos de atividades, em julho deste ano. Para Contatar a escola ou a Cia de Dança Caio Monatte: www.caiomonatte.net, (21) 2273-4346 e 7869-6874.