Galpão: 30 anos de teatro popular

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Galpão: 30 anos de teatro popular

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Romeu e Julieta, encenada há 20 anos e assistida por 40 mil pessoas, continua emocionando a plateia

Em 2012, o Grupo Galpão comemora 30 anos do teatro popular mais genuíno e político do Brasil. As comemorações começaram em maio, em Londres, com a apresentação de “Romeu e Julieta” no Shakespeare’s Globe. Depois, passaram por várias cidades do Brasil para encerrar a festa no Rio de Janeiro, onde AND conversou com Eduardo Moreira, um dos fundadores do Grupo Galpão.

Acho que tínhamos que celebrar nossos 30 anos porque é um grupo que conseguiu se consolidar, com uma proposta de trabalho, de pesquisa de linguagem, com um teatro de grupo, que é muito difícil de acontecer no Brasil. Nesse sentido, a trajetória do Galpão é uma trajetória vitoriosa, aponta pra muitas pessoas, principalmente as mais jovens, que esse é um caminho possível.

E quando o ator se refere à trajetória do Galpão, ele está falando de um grupo de atores que funda uma companhia de teatro em 1982, que encenou 20 espetáculos para mais de um milhão e meio de espectadores, ganhou mais de cem prêmios no Brasil, se apresentou 2.500 vezes em mais de 600 cidades, em 18 países diferentes e participou de 41 festivais internacionais e outros 70 nacionais. E o Galpão não é só isso. Além de todo o trabalho teatral realizado por seus 12 atores, eles também mantêm o Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte (MG), um centro cultural onde são oferecidos cursos, oficinas e promove-se um encontro do Grupo com o povo da cidade.

Segundo Eduardo, para o Galpão, o encontro com o público, comunicar-se da maneira mais direta possível com seu espectador, é um ponto central:

Eu acho que o Galpão se preocupa em sempre buscar uma comunicação direta com o público, de fazer um teatro que comunica, que tem algo a dizer para o público. Acho que um dos grandes problemas do teatro é a falta de clareza com o que você quer dizer, então essa comunhão, essa recepção do espetáculo através do público é muito importante para nós.

Acho que o nosso teatro mistura entretenimento com reflexão, questões importantes da contemporaneidade para as pessoas refletirem sobre os problemas do mundo. A gente espera que o público, primeiro, desenvolva um gosto pelo teatro. E depois que ele pense, que ele queira melhorar o mundo, ajudar a fazer com que o mundo seja melhor, mais educado, que as pessoas se respeitem mais, que exista um princípio de vivência mais humano e igualitário, e a gente reflete essas preocupações no teatro que fazemos – continua Eduardo Moreira.

E o Grupo consegue levar todas as reflexões sociais e políticas para o teatro através de uma veia cômica, que diverte sem embrutecer o espectador. Além disso, a linguagem utilizada pelo Grupo também é essencial. Eles conseguem unir o contemporâneo à tradição, o popular ao erudito, o palco e a rua, mostrando versatilidade e criatividade.

Acho que tem um pouco a ver com a formação do grupo. O Galpão é um grupo de atores que trabalha com diferentes diretores. Então acho que a nossa linguagem, de certa maneira, é uma soma das influências desses diretores, dessas linguagens, dessas maneiras distintas de ver o teatro, que nós trabalhamos nos últimos 30 anos. Então isso criou um grupo que é multifacetado, um grupo que tem muitas caras. Nossos trabalhos tocam em coisas estéticas e filosóficas muito distintas. Realmente tem isso do contemporâneo e do tradicional, do brasileiro e do universal, do popular e do erudito, da rua e do palco, são vários elementos distintos, mas que a gente tenta fazer uma fusão, uma síntese disso tudo numa coisa que é essencialmente muito brasileira porque o que caracteriza a nossa cultura é essa absorção, é um caldeirão cultural – explica Eduardo Moreira.

Romeu e Julieta

O Parque Madureira, no bairro de Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, ficou repleto de famílias, jovens, crianças, todos muito atentos àquela história antiga e ao mesmo tempo atual representada no centro da praça, no Palco do Samba. Todo mundo parou para ver, ficaram de pé, sentaram-se no chão e por uma hora e meia se deliciaram com o melhor teatro do Brasil. Era o povo na praça para ver o Grupo Galpão.

A história de Romeu e Julieta, mesclada com músicas regionais – encantou e fez cantar os presentes – que acompanhavam os atores, cantando baixinho.  A obra, que é encenada há 20 anos pelo Galpão e já foi vista por 40 mil pessoas, continua a emocionar. E Eduardo Moreira acredita que o sucesso do espetáculo se deve ao olhar brasileiro que o Grupo conseguiu imprimir na montagem:

– A obra tem um olhar sobre a história do Romeu e Julieta que é muito brasileira. É uma obra contada através da ingenuidade, focado na cultura popular, isso cativa muito as pessoas. O sucesso do espetáculo é uma consequência disso.

Próximos projetos

E mesmo com seus 30 anos, o Galpão não pensa em parar. O Grupo está montando um novo espetáculo para 2013. Com direção de Gabriel Vilela, mesmo diretor de Romeu e Julieta, estão montando a peça Os gigantes da montanha, último texto do dramaturgo italiano Luigi Pirandello.

– É uma fábula que coloca uma discussão sobre o lugar da arte, da poesia, no mundo de hoje dominado pelo pragmatismo, pelo capitalismo, pelo senso prático, então qual é o lugar possível da arte nesse mundo? Levar esse espetáculo para a rua vai ser muito interessante esse encontro com o público da rua, especialmente com um projeto dessa qualidade – explica Moreira.

E a ideia do Galpão é continuar ocupando todos os lugares, todas as praças possíveis, levando o teatro popular, o teatro que quer contribuir com as reflexões políticas e sociais para o povo brasileiro.

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