Assembleia realizada na Câmara ocupada
Na manhã do dia 26 de maio, em uma assembléia aberta a todos os trabalhadores da rede municipal de ensino em Goiânia, foi decidida a retomada da greve suspensa em 2013. Os motivos são vários, desde o sucateamento da educação, as péssimas condições salariais e de trabalho e também o não cumprimento dos acordos firmados na greve de 2013.
— A greve se deve principalmente por conta do acordo não cumprido pelo prefeito de Goiânia no contexto da suspensão do movimento no ano de 2013. O prefeito assinou um acordo, em que atendia 19 dos 24 pontos de pauta, porém muito pouca coisa avançou naquilo que ele se comprometeu com os servidores da educação. E para piorar a situação, agora em maio de 2014, baixou o decreto 1248, no dia 15, em que retirou e suspendeu vários outros direitos conquistados pela categoria, que passam por todos os servidores, desde professores, como servidores administrativos, auxiliares de atividades administrativas. Então, são questões que dizem respeito tanto à carreira dos servidores como também a questões relacionadas às condições de trabalho mesmo, escolas em situações precárias, CMEIs feitos de placa, e que interferem diretamente na qualidade do ensino na rede municipal de Goiânia – declarou o professor Edson, representante do Sindicato Municipal da Educação — SIMSED.
— A situação das escolas e CMEIs da rede municipal de ensino de Goiânia é um retrato daquilo que acontece na própria cidade. Na rede municipal de ensino isso se reflete na situação caótica em que se encontram as unidades de ensino, tanto escolas, como CMEIs, onde nós temos condições realmente absurdas, escolas que não têm biblioteca, escolas que não têm laboratórios de informática, ou quando tem não existe o profissional que atua. Situação de quadras com estrutura sem realmente condições, para não dizer o que acontece nos CMEIs. Nós temos nos CMEIs uma situação ainda pior, com várias unidades, inclusive, ainda feitas de placa, o que provoca uma situação absurda, já que o calor nesses espaços é uma coisa insuportável. Crianças ali, 2, 3, 4 anos, tendo que suportar uma situação adversa, e também os trabalhadores que ali se encontram, instalações elétricas que comprometem inclusive a integridade física das crianças, alunos que ali estão. A greve que acontece nesse ano, ela serve também para denunciar e expor para toda a sociedade essa situação lastimável em que se encontra a rede municipal de ensino, que acaba sendo um retrato daquilo que acontece em todas as outras unidades federativas, municípios, e que evidencia a falta de comprometimento dos governos municipais e estaduais por uma educação que realmente preza pela qualidade — acrescentou Edson.
Os trabalhadores em educação também exigem gratificação de 30% retroativa a maio de 2014 para os auxiliares administrativos. Em relação aos professores existe a questão do pagamento retroativo do piso salarial. Mas a pauta de reivindicações imediatas também traz demandas de trabalhadores de toda rede municipal. O gerenciamento municipal de Paulo Garcia (PT) impôs uma série de medidas que representaram significativos cortes nos salários de vários profissionais.
A luta se espalha

Trabalhadores da saúde também estão em greve
Com a mobilização dos trabalhadores em educação, o clima de greve geral se instaurou na cidade. Guardas de trânsito, guardas municipais e também os trabalhadores da saúde decretaram greves, além da paralisação dos motoristas do transporte coletivo que ocasionou em várias revoltas populares espontâneas nos terminais.
Respondendo a intransigência da gerência Paulo Garcia, os servidores da educação em greve decidiram protocolar um pedido de impeachment pedindo a saída do prefeito. Importante ressaltar que a luta travada pelos educadores possui um caráter independente, sem qualquer relação com partidos eleitoreiros.
Na votação do impeachment, ocorrida no dia 10 de junho na Câmara Municipal, os servidores compareceram em grande número esperando qual seria resultado. Mas, por contar com maioria na Câmara, Paulo Garcia saiu vitorioso, com apenas 9 vereadores votando a favor do impeachment e 21 contra.
Indignados com o resultado e cada vez mais descrentes com a farsa de democracia, os trabalhadores em greve resolveram tomar o plenário da Câmara Municipal, repetindo o feito da greve passada, quando sustentaram 15 dias de ocupação desse prédio.
Após a ocupação, a exemplo do que os agentes do velho Estado fazem em casos de rebeliões nas prisões, ocupações de prédios públicos e contra famílias em luta pela moradia, o presidente da Câmara Municipal, Clécio Alves (PMDB), ordenou o corte da água e da luz. Esse ato foi legitimado em uma votação feita pelos vereadores e dessa vez apenas dois deles mostraram contrários a essa medida fascista.
Mas a tentativa de intimidar os grevistas e impossibilitar a ocupação fracassou. Os professores se mantiveram no plenário, improvisando como podiam a questão de luz e água, dentre outras questões como alimentação, algo que já estão acostumados a fazer em suas escolas, sucateadas pelo sistema público de ensino. Em assembléia no dia após a ocupação foi decidida a continuidade da greve e também da ocupação, mesmo com todos os ataques sofridos, demonstrando a combatividade que marca o movimento.
Com a Câmara ocupada, os grevistas seguiram tentando negociar as reivindicações. A prefeitura criou um “comitê de gerenciamento de crise”. Crise, diga-se de passagem, criada pelo próprio prefeito que continua se recusando a negociar com os grevistas.
A greve continua e conta com o apoio de vários setores da sociedade, profissionais de outras áreas também em greve, como o caso da saúde, ou até de profissionais de outras categorias que enfrentaram processos parecidos, além de setores da igreja católica, como o Frei Marcos Sassatelli. Movimentos estudantis independentes também estão apoiando os servidores em greve e participando ativamente da ocupação.
A persistência e firmeza dos professores fizeram com que o Ministério Público agisse e determinasse a volta do fornecimento de água e luz na Câmara ocupada.
Em assembleia realizada no dia 24 de junho, os trabalhadores em educação decidiram pela continuidade da greve até que a prefeitura negocie e cumpra os acordos com a categoria.
Na manhã de 25 de junho, em uma sessão da Câmara, os vereadores decidiram suspender a ordem de desocupação que era prevista para o dia 24.
Até o fechamento desta edição, a greve e a ocupação são mantidas e o movimento avança. Os profissionais da educação de Goiânia vêm avançando no caminho da luta classista e combativa com mais vigor a partir de 2010, quando, fartos do peleguismo da antiga direção do sindicato ligada ao PT, romperam com o oportunismo organizando um novo sindicato, o SIMSED, e construindo a resistência da categoria pela base, com assembleias abertas, dando voz e decisão aos trabalhadores. E pelo que se pode ver nas principais lutas dos trabalhadores levantadas no último período, esse fato tem ocorrido com cada vez mais intensidade. Os trabalhadores em luta atropelam as direções pelegas das centrais governistas e, através da luta combativa, conquistam seus direitos e constroem o caminho classista e combativo.