Quase tão grande como o vazamento de petróleo que está literalmente inundando o Golfo do México e cercanias é o vazamento diário de novas notícias (apesar de escassas e censuradas), que a cada momento esclarecem e comprovam que a British Petroleum vem agindo criminosamente no caso, fornecendo informações mentirosas e procurando atenuar ou mesmo fugir da responsabilidade pela tragédia.
Enquanto milhões de litros de óleo continuam contaminando as águas do Golfo do México, chegam informações da chegada da mancha ao Texas, que agora soma-se aos estados de New Orleans, Lousiana, Mississipi e Flórida, onde o lençol de óleo já cobre toda a orla marítima.
Também toda a costa mexicana do Golfo, com vários estados, estará comprometida irremediavelmente com a chegada da maré negra. As previsões levam a crer que na sequência deverão ser atingidas as águas do Caribe, com os pequenos países da América Central e as Antilhas, incluindo Cuba. Se o problema continuar sem solução, o óleo poderá também seguir seu trágico roteiro pelas águas e atingir a costa atlântica do Brasil.
O que se observa é o silêncio quase total do monopólio da imprensa, que não informa ou omite informações da verdadeira medida do desastre com o objetivo de evitar que a opinião pública tome conhecimento das proporções gigantescas deste que está sendo considerado a maior tragédia ecológica ocorrida em nosso planeta até hoje.
Por outro lado não fica descartada a probabilidade da BP ir à falência. Segundo previsão de analistas financeiros, a empresa não tem como evitar a vertiginosa queda de suas ações. Isto sem contar com o custo da limpeza que tem um cálculo inicial de 23 bilhões de dólares. Se for condenada judicialmente por ações até agora impetradas pela indústria da pesca, organismos de turismo e outros prejudicados, atingirá uma cifra de mais ou menos 14 bilhões, num total que poderá atingir (ou ultrapassar) os 40 bilhões, caso o vazamento não seja contido. Para se ter uma ideia do montante destas cifras, basta dizer que no exercício do ano passado o lucro total da BP chegou a 17 bilhões e foi considerado como excelente pelos analistas financeiros e corretoras de Wall Street. No exercício atual, com medo da rápida descapitalização da empresa, já se ouve falar até em corte dos dividendos dos acionistas.
Enquanto isso, o principal executivo da BP, Tony Hayward, desfilava nas praias da Inglaterra com seu luxuosíssimo iate de 800 mil dólares, dias depois de ter quase chorado diante da imprensa declarando-se "chocado" com o desastre ocasionado pela sua empresa.
Símbolo da canalhice capitalista
Poucos são os lugares do mundo que podem dizer estar a salvo dos tentáculos da BP. Por onde ela passa fica o sinal de destruição causada pela exploração desordenada e criminosa do "ouro negro", como aconteceu na Colômbia, onde a BP construiu um oleoduto de 730 quilômetros. Numa manobra altamente duvidosa a BP fechou um contrato com o Ministério da Defesa da Colômbia, segundo o qual o governo recebeu da BP 2,2 milhões de dólares que foram na maior parte utilizados pela Brigada XVI do exército colombiano para proteger as instalações da petroleira. Esta negociação ficou disfarçada por um contrato com a empresa inglesa Defense Systems Co., que na verdade era instrutora de estratégias militares e de contrainsurgência, criando uma zona de exceção no próprio território colombiano. O departamento de segurança da Defense Systems pagava delatores e compartilhava informações com o Ministério da Defesa da Colômbia e a brigada local do exército.
A BP é um poderoso membro do consórcio Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC), que controla o oleoduto que passa pelo Azerbaijão, Georgia e Turquia, na Ásia Central. Este consórcio foi inaugurado em 2005. O governo turco concedeu à BTC poderes sobre o corredor do oleoduto que anulam as leis do país, além de dar ao consórcio acesso ilimitado às águas territoriais e isenção de responsabilidade no caso de um derramamento de petróleo como esse que ocorre no Golfo do México.
O oleoduto da BTC requer um corredor militarizado. Mesmo antes de ser concluído, o oleoduto já influía na política regional, já que tem uma enorme importância estratégica na Transcaucasiana, e gracas a BTC os ianques e outras potências podem interferir na zona de influência russa.
A interrupção do colossal fluxo de óleo que já infesta todo o Golfo de México desde abril é considerada uma medida provisória e, infelizmente, com garantia mínima de sucesso. Tanto que se seguirão realizando provas para determinar se a pressão é suficientemente alta para manter o bloqueio ou se será necessário voltar a abrir o poço e colocar outro dispositivo para tapá-lo. Até o momento do bloqueio foram espalhados em todo o Golfo da México 184 milhões de galões de óleo, o equivalente a 736 milhões de litros.
O próprio diretor de operações da BP, Doug Suttles, foi taxativo ao dizer que recebeu a notícia do bloqueio com discreto entusiasmo, dizendo que "apenas é um sinal alentador e não podemos celebrar. Celebração no caso é uma má palavra. Não creio que este seja um momento para celebrar…”.