Grã-Bretanha persegue cidadãos paquistaneses

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Grã-Bretanha persegue cidadãos paquistaneses

Assolados pela crise e descambando para políticas cada vez mais fascistas, USA e Europa, especialmente a Grã-Bretanha, ingressam em uma nova vaga de perseguição aos imigrantes de países pobres, a fim de atender aos clamores dos setores mais reacionários e xenófobos, ou até para colocar a política migratória a serviço da agenda imperialista.

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Polícia inglesa dá "dura" em imigrante

Em todo caso, mais uma vez os países ricos em decadência tentam manobrar as massas de trabalhadores imigrantes conforme as conveniências da hora. Agora, com o desemprego galopando os dois dígitos, tentam se livrar deles, seja pagando para que vão embora, seja impondo-lhes dificuldades cada vez maiores, como um sem número de empecilhos para a renovação dos vistos de trabalho, o que tende a jogar um grande contingente de imigrantes em dia com a papelada na condição de ilegais, tornando-os presas fáceis para as políticas e os políticos reacionários.

No USA, na pequena cidade de Valley Park, no estado do Missouri, uma lei municipal proibindo a contratação de trabalhadores latino-americanos com documentação irregular, bem como o aluguel de imóveis para estrangeiros sem autorização para residir em território ianque, está inspirando a reação racista e abrindo as portas para iniciativas semelhantes por parte dos fascistas de vários outros municípios, em uma corrida de prefeitos xenófobos pela primazia de transformar suas respectivas jurisdições no "lugar mais duro nos Estados Unidos" para os imigrantes ilegais, nas palavras de um deles.

Na Grã-Bretanha, surgiram denúncias de que a lei britânica "antiterror" vem sendo usada pelo "Metropolitan Police Service", ou Met, como é conhecida a polícia de Londres, para mascarar o racismo que orienta a vigilância e o controle da população imigrante, como se quem chega de fora para trabalhar estivesse diuturnamente enquadrado em uma espécie de liberdade condicional. O artigo 44 da referida lei, o que permite a abordagem e revista de pessoas ao bel-prazer dos policiais, e a título de evitar atos terroristas, vem servindo na verdade para manipular as estatísticas raciais referentes às ações da maior força policial do Reino Unido, cuja perseguição principalmente à gente do Oriente Médio e da Ásia Central — mas também a africanos e latino-americanos — vem deixando à mostra a verdadeira cara da tal lei "antiterror".

Para driblar os números que escancaram a violência e a intimidação a que pessoas de determinados estereótipos raciais são rotineiramente submetidas pela Met, os policiais "compensam" as duras nos imigrantes com abordagens, revistas e detenções de pessoas brancas, trabalhadores britânicos que, se não pagam pela sua nacionalidade, pagam por pertencerem às classes populares. A polícia londrina vem abordando por mês, em média, de oito mil a 10 mil imigrantes e operários britânicos. No entanto, como prova definitiva de que se trata de um instrumento que serve a outros propósitos, até hoje nenhuma dessas pessoas foi condenada por crime de terrorismo, sendo que a lei está em vigor desde 2001, no esteio dos acontecimentos de 11 de setembro daquele ano.

Não entram nessas estatísticas os dez estudantes paquistaneses (que o braço britânico do monopólio dos meios de comunicação internacional chamou de "paquistaneses com vistos de estudante") presos no dia oito de abril deste ano em outra cidade britânica, Manchester, sob a acusação de que participavam de uma "grande conspiração terrorista", ainda que até agora, meses depois, nenhuma prova neste sentido tenha sido apresentada.

A criminalização da nacionalidade paquistanesa se tornou uma obsessão da administração do primeiro-ministro Gordon Brown, tendo em vista que apresentar os paquistaneses como terroristas em potencial virou parte integrante da mentirada que compõe as justificativas da "guerra contra o terror", agora que a dobradinha Grã-Bretanha/USA elegeu o Paquistão (que tem poderio atômico) a prioridade estratégica das ocupações imperialistas na Ásia Central. Depois de Obama ter dito que o Paquistão seria "o lugar mais perigoso do mundo", Brown jogou ao vento que 75% dos planos para ataques terroristas monitorados pelo serviço de inteligência britânico passam pela "conexão-paquistanesa". Após as prisões dos 10 "paquistaneses com visto de estudante", o primeiro-ministro britânico não tardou em convocar a imprensa para apontar o dedo e dizer que ali estava a prova de que "o combate ao terrorismo no Paquistão precisa ser intensificado".

É algo grave. O fluxo migratório entre o Paquistão e a Grã-Bretanha se estabeleceu com intensidade já há 50 anos. Atualmente, 250 mil paquistaneses desembarcam anualmente em Londres, Manchester, Birmingham e Liverpool pra visitar parentes e amigos, a trabalho, para estudar ou se casar. São dez mil estudantes paquistaneses admitidos nas universidades britânicas todos os anos, e mil trabalhadores que chegam para suprir as lacunas do mercado de trabalho da ilha. Toda essa gente que atravessa o mundo em busca de maior dignidade e melhores condições de vida para sua famílias se vê agora colocada sob a pecha de párias, gente perigosa até que provem o contrário — e mesmo que provem o contrário —, difamados e humilhados em nome da tal política antiterror.

E o fascismo dá as caras por toda parte, com maior ou menor desfaçatez. Na Itália, Silvio Berlusconi conseguiu aprovar uma lei que transforma a imigração ilegal em crime, ratificando a criminalização de fato à qual muitos imigrantes, ilegais ou não, vêm sendo submetidos em toda a Europa. Na Irlanda, milícias de direita vêm perseguindo e expulsando imigrantes romenos do país. Na Grécia, país historicamente acolhedor, hoje em dia quem for pego na ilegalidade fica três meses em cana antes de ser deportado, em uma espécie de pedagogia do "não volte nunca mais". Só em 2008 o governo grego emitiu ordens de expulsão para 88 mil estrangeiros.

Mas o fato, e a urgência, é que os migrantes radicados nos países ricos precisam ir além da reivindicação do seu direito de trabalhar, o que na maioria dos casos significa o direito ao subemprego e a remunerações abaixo da média. Não devem mendigar aceitação, nem devem se ater demasiadamente à pauta burguesa das liberdades civis, tendo em vista que elas constituem uma panacéia em um mundo marcado pela semi-escravidão. Seu grito não pode ser meramente por tolerância, mas deve refletir a autoridade das massas das quais fazem parte.

A Europa, por exemplo, vem sendo assombrada pela perspectiva de o envelhecimento de sua população resultar em uma carência de força de trabalho de tal envergadura que os fluxos migratórios teriam que triplicar de tamanho para suprir a demanda de países como Alemanha e a própria Grã-Bretanha. Isto demonstra que nem mesmo o mais poderoso dos poderosos de plantão é capaz de medir forças com massas trabalhadoras, força-motriz do processo revolucionário em curso.

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