A primeira greve de 2012 do povo grego em luta contra a dilapidação dos seus direitos e contra o corte dos seus empregos e salários foi a dos médicos e funcionários de empresas farmacêuticas. As duas categorias profissionais paralisaram nos dois primeiros dias úteis do ano em protesto contra a redução de salários de todo o funcionalismo público, contra as mudanças no sistema de saúde estatal e contra a previsão de corte orçamentário na área. A gerência grega pretende reduzir a despesa com a saúde pública de 10,6 bilhões de euros (referência de 2009) para sete bilhões de euros em 2012.
No dia 7 de janeiro, informações divulgadas pelo jornal To Vima deram conta de que o Fundo Helênico de Desenvolvimento de Ativos, uma agência estatal criada pela gerência grega no ano passado para gerenciar a liquidação do patrimônio público do povo, o que foi requisitado pelos interventores do país, irá criar um “título de privatização” para oferecer bens públicos como garantia para a rolagem da dívida grega.
Na Grécia, bem como na Espanha e em outras nações europeias transformadas cada vez mais em verdadeiras semicolônias espoliadas pela Alemanha, França e Reino Unido, os interventores do FMI e da União Europeia estão requisitando a vigência do regime de “minijobs” (mini-emprego), no qual as empresas ficam autorizadas a pagar salários menores do que o salário mínimo local, com contratos de remuneração máxima de 400 euros mensais. Nesse tipo de exploração, o trabalhador recebe menos e não paga impostos, mas também não conta tempo de contribuição para a seguridade social, tendo que fazê-lo “de forma voluntária”.
E apesar de tanto arrocho dirigido ao proletariado da Grécia, o Estado grego, sob as ordens do FMI e a União Europeia – a ponto de se ter dispensado até mesmo a farsa eleitoral para que um tecnocrata de carreira fosse alçado à condição de “primeiro-ministro” –, mostra-se absolutamente incapaz de reduzir o peso da dívida sobre o PIB e garantir a tão procurada “solvência”, o que os economistas do capitalismo dizem ser a salvação, mas que na verdade não é capaz de salvar a Grécia do castigo da crise geral.
Trabalhadores não podem alimentar seus filhos
Uma reportagem publicada pela rede britânica BBC no último dia 10 de janeiro causou grande comoção e deu conta de até que ponto vão as consequências humanas dos draconianos “pacotes de austeridade” que o FMI e as potências da Europa do capital monopolista vêm impondo às nações europeias em crises mais agudas, em geral, e à Grécia, em particular.
A BBC mostrou como as medidas antipovo que estão sendo implementadas na Grécia a título de “ajuda” ao país – medidas como cortes de salários e aumentos dos impostos que incidem sobre o dia a dia do trabalhador –, estão fazendo multiplicar os casos de pais que, absolutamente incapazes de alimentar os próprios filhos, entregam-nos, de bebês a crianças em idade escolar, aos cuidados de instituições sociais e religiosas, como último recurso para garantir-lhes a sobrevivência.
Há casos de mães desnutridas que não conseguem amamentar e de pais desempregados e sem direito a qualquer assistência por parte do Estado que deixaram seus filhos nas escolas com um bilhete dizendo que não vão voltar para pegá-los por absoluta falta de recursos para mantê-las sob seus cuidados.
Também organizações não-governamentais especializadas em cuidar de crianças afastadas de seus pais quando estes têm problemas com álcool e drogas, ou de menores de idade vítimas de abusos ou negligência, agora se vêem sob o imperativo de acolherem crianças vítimas dos sucessivos “planos de ajuste” ditados pela gerência grega apalavrada com os maiores inimigos do povo do seu país.
E a situação tende a piorar ainda mais. Nos primeiros dias de 2012 surgiu a notícia de que as mais novas requisições da chamada “troika” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) à gerência títere da Grécia são o congelamento dos salários do setor privado pelos próximos três anos, um corte de 30% no salário mínimo grego (que é de 751 euros, mas a “troika” quer que baixe para o nível de Portugal, onde o salário mínimo é de 485 euros) e a eliminação do 13º salário.