Greve nas federais chega ao segundo mês

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Greve nas federais chega ao segundo mês

A greve geral já abrange 58 das 59 instituições em todo o país e 22 institutos federais. O gerenciamento Roussef segue intransigente e se recusa a negociar com os professores, estudantes e técnico-administrativos em luta. A greve avança e se transforma em greve de ocupação em algumas universidades, com mobilizações e ações diárias. Em 13 de julho o governo apresentou sua proposta, que nem de perto atendia as reivindicações. Até o fechamento desta edição (18/07), oito universidades haviam rejeitado a proposta.

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Manifestantes ocuparam a reitoria UFRJ e simularam o enterro do Reuni

No dia 10 de julho, professores e técnicos-administrativos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) se reuniram em frente a guarita principal do campus de Cuiabá. Eles impediram a passagem dos carros e realizaram uma panfletagem.

Na Universidade Federal de Rondônia (Unir), o Comando de Greve está preparando uma programação especial para marcar os dois meses de greve. No próximo dia 17 de julho, os professores realizarão uma assembleia geral extraordinária. Os grevistas exigem novo plano de carreira com incorporação de gratificações, contratação de novos técnicos e melhorias na precária infraestrutura da universidade.

Em Curitiba, não só os profissionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), como demais servidores federais em greve, realizaram uma manifestação no centro da cidade. O protesto também reuniu funcionários do Ministério da Saúde, Escola Técnica da UFPR, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Também em 10 de julho, os professores filiados ao Sindicato dos Professores das Instituições Federais do Ensino Superior de Porto Alegre (Adufrgs) decretaram greve por tempo indeterminado. A paralisação acontece na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). 

Estudantes da UERJ realizam manifestação

Após assembleia realizada no dia 10 de julho, estudantes da UERJ realizaram uma manifestação exigindo o aumento do valor das bolsas, bandejão gratuito, ônibus intercampi, dedicação exclusiva para os professores, melhorias na precária estrutura da universidade e o cancelamento do calendário acadêmico. Os professores da universidade também estão em greve desde o dia 5 de junho e contam com o apoio do movimento estudantil.

Após a assembleia, os manifestantes realizaram um ato em frente à reitoria e, em seguida, realizaram uma manifestação que percorreu as ruas próximas à universidade.

Os estudantes da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da UERJ, em São Gonçalo, que iniciaram greve em 4 de junho, também participam ativamente das mobilizações e têm como reivindicações: a construção de um bandejão; creche universitária; reajuste e acúmulo de bolsas; melhorias na infraestrutura; xerox dos estudantes; retorno de atividades culturais na FFP; além das demais exigências da greve.

No dia 17, a mobilização estudantil conseguiu uma vitória importante ao forçar o reitor a cancelar o calendário acadêmico.

Reitoria da UFRJ ocupada

Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ocuparam a reitoria na noite de 11 de julho em apoio aos servidores federais em greve, contra o corte de ponto dos grevistas e exigindo que o gerenciamento Roussef abra as negociações. No mesmo dia, uma vigília foi realizada pelos estudantes e manifestações foram realizadas nos dias seguintes.

A greve de professores na UFRJ segue firme há quase dois meses. Na manhã de 12 de julho eles realizaram atividades como panfletagens por aumentos salariais, intervenções artísticas em monumentos e atividades culturais pela cidade.

Entre as exigências dos estudantes estão a destinação de 10% do PIB para a educação, o avanço na melhoria da estrutura física dos campi da UFRJ e de seus Hospitais Universitários.

Rousseff corta salário dos professores em greve

No dia 6 de julho, cumprindo determinação de Rousseff, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão cortou o salário dos professores grevistas das universidades federais.

Em 9 de julho o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Roberto Leher, publicou nota de protesto contra a medida arbitrária do gerenciamento oportunista. Publicamos aqui um trecho do manifesto:

“Com efeito, o atual governo reproduz os mesmos atos da dupla tucana [Fernando Henrique Cardoso e Paulo Renato, então ministro da educação] (2001) na atual greve das IFES: desmarcou todas as audiências que poderiam abrir o processo de negociação e mesmo após 53 dias de greve, finge ignorar que 58 das 59 universidades estão em greve, afetando um milhão de estudantes, bem como pesquisas e atividades de extensão. A força do movimento grevista, entretanto, logrou romper o silêncio cúmplice dos grandes meios de comunicação e não foram poucas as vozes de importantes setores que se solidarizaram com a greve. Surgiu, assim, a oportunidade de repetir a história (como farsa). Faltava a medida repressiva, a mesma de Cardoso e Souza: retirar o alimento dos professores, esperando, assim, a volta ao trabalho derrotados, humilhados e cabisbaixos e sem reclamar mais dos seus magros vencimentos até 2015. E mais: que ficariam silenciados diante da refuncionalização da universidade pública federal como “escolões” que ministram aguadas pinceladas de conhecimentos aos futuros trabalhadores, possibilitando manter os fundamentos do capitalismo dependente, entre os quais a hiperexploração do trabalho”.

Reuni: programa de destruição da universidade pública

Na edição nº 91 de AND publicamos entrevista com a Doutora Gelta Terezinha Ramos Xavier, professora Universidade Federal Fluminense (UFF) e integrante do comando de greve. Nesta edição, publicamos a segunda parte da entrevista, especificamente sobre o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais  (Reuni).

O Reuni é o programa de reestruturação que o governo impôs desde o ano de 2007. Fizemos longas discussões em todas as universidades, dissemos quais eram as questões centrais em relação à expansão da oferta de vagas nas instituições de ensino superior, apresentamos dados objetivos sobre a carência de espaços, professores e técnico-administrativos, acentuamos as dimensões educativa e profissional que as atividades indissociáveis de pesquisa, extensão e ensino implicam. O projeto de massificação que o governo impõe através do Reuni foi analisado e denunciado amplamente pelos três segmentos (professores, estudantes e técnico-administrativos). Em todas as Universidades a decisão a respeito do acordo de adesão ao Reuni foi garantida sob força, inclusive policial. A reunião do Conselho Universitário na UFF que aprovou a adesão foi realizada com a presença de forte aparato militar de modo a impedir que a comunidade participasse. O governo relacionava disponibilização de recursos à adesão ao programa.

Sempre afirmamos a necessidade de expansão de oferta de educação superior no país, do mesmo modo que sempre anunciamos e realizamos reformas, principalmente as curriculares, as revisões e instalações de novos cursos – o que nos cabe como servidores das universidades.

O que tem ocorrido é que as turmas estão cada vez mais lotadas, não há professores em número suficiente, os espaços são precários e bancam-se aluguéis de containers para realizar aulas ou como gabinetes coletivos de professores. Os preços dos aluguéis desses espaços são altos, implicando desvios de recursos públicos.

Há cursos completos desenvolvidos por apenas quinze professores. Componentes curriculares que exigem o acompanhamento direto dos professores a número reduzido de estudantes, como são as práticas de enfermagem em hospitais, ou de futuros médicos em ambulatórios, têm tido número excessivo de participantes porque os professores não são suficientes. Tais condições degradam a formação acadêmica, intelectual, profissional e implicam aumento de casos de doenças entre os professores.

Relacionamos estes dados ao número de profissionais já formados, disponíveis para integrar o mundo do trabalho e, quando inseridos, esta inclusão ocorrendo de modo precarizado, sem garantias de direitos conquistados pelos demais trabalhadores. São aspectos imbricados na relação trabalho-formação desprezados pelo modelo de gestão da universidade que se naturaliza.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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