Greve nas IFES escancara peleguismo

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Greve nas IFES escancara peleguismo

A atual greve nas instituições federais de ensino superior — que já dura mais de 90 dias — tem escancarado a postura antipovo do gerenciamento Rousseff e o peleguismo de vários sindicatos docentes, principalmente. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), apesar das várias tentativas de desmobilização por parte do sindicato, os professores, técnico-administrativos e estudantes aprovaram a continuidade da greve e agora propõem a radicalização dos protestos.

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Faixa no Hospital Universitário do Fundão, UFRJ

No último dia 14 de agosto, 741 docentes, reunidos em assembleia, decidiram pela continuidade da paralisação na UFG. Na semana que antecedeu a assembleia, os docentes foram extremamente pressionados para retornar às atividades. A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Goiás – ADUFG solicitou aos diretores de unidades acadêmicas que promovessem reuniões entre o sindicato e os professores para apresentar a proposta do governo que havia sido acordada com a Proifes — Federação de Sindicato de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior.

Está havendo uma pressão dos diretores para que a greve seja encerrada. Eu participei de uma dessas reuniões na Faculdade de História e disse: “eu vim convidá-los para a greve porque ela só pode ser decidida e encerrada por uma decisão soberana da Assembleia, a lei de greve diz isso, os estatutos dizem isso”. Os diretores não podem colocar na pauta que vão deliberar sobre a greve, é inacreditável — conta a professora aposentada da Faculdade de História e membro do Comando Local de Greve da UFG, Ana Lúcia da Silva.

Mas, apesar das pressões, a greve continua a todo vapor na UFG e nas outras IFES. 57 delas, em assembleias realizadas na última quinzena de agosto, já decidiram pela continuidade da paralisação.

Separados pela história

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Protesto dos sevidores da UFMT diante das obras para a copa

Na recente paralisação das IFES, a luta contra o peleguismo tem sido uma das principais tônicas da greve. A governista Proifes foi contra a greve desde sua deflagração e desde então tem trabalhado para desmobilizar e despolitizar a categoria. Segundo Ana Lúcia Silva, está claro que existem duas concepções sindicais:

O que a história separou, a vida não une. São duas visões de sindicato que se expressam na ADUFG. Quando o sindicato começa a ter uma arrecadação forte, ele começa a pensar que pode se transformar num prestador de serviços e o trabalho sindical verdadeiro desaparece.

A ADUFG — que é base da Proifes — foi contra a deflagração e até mesmo tentou impedir que a greve fosse iniciada na UFG. Numa assembleia realizada no dia 6 de junho, chegou a se retirar do auditório e depois passou a negar a deflagração da greve. No dia 11 de junho, uma massiva assembleia docente confirmou a greve e a organização do Comando Local. Depois, o sindicato acabou aceitando a paralisação e passou a fazer parte do Comando Local de Greve, mas, de acordo com Ana Lúcia Silva, as ações desmobilizadoras continuaram:

Eles fazem parte do Comando de Greve, mas não participam das reuniões e depois chamam essas reuniões nas unidades para que eles possam ir enquanto diretoria da ADUFG e apresentar a proposta do Proifes. O acordo deles com o governo foi feito sem a base porque todas as assembleias de greve rejeitaram o acordo: GO, BA, SC, PI, CE e RS.

Então é uma visão que não aceita as deliberações de assembléia. Eles partem da ideia de que é a direção sindical que decide e não uma assembleia soberana — indigna-se a professora.

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Ocupação da reitoria da UFPel

Apesar de fazer parte do Comando Local de Greve desde o dia 18 de junho, a ADUFG atuou várias vezes contra as deliberações da assembleia.

No dia 18 de julho, a Proifes enviou uma proposta de 15 pontos ao governo, sem ouvir nenhuma das oito assembleias de greve das universidades que fazem parte de sua base sindical e muito menos do universo de 57 IFES em greve. Em 24 de julho, o governo apresentou uma contra-proposta, aceita pela Proifes e que passou a ser defendida com veemência pela ADUFG. A partir dessa posição tomada pelo sindicato local, a assembleia de greve da UFG decidiu que a ADUFG deveria se retirar das mesas de negociação junto a Proifes , reafirmou que essa Federação não representava a categoria e que o pagamento do imposto sindical que era repassado a Proifes deveria ser enviado ao Comando Nacional de Greve, enquanto durasse a paralisação. Nenhuma das decisões da assembleia foi cumprida pela ADUFG até o momento.

Mas a gota d’água ainda estava por vir. No dia 28 de julho, a ADUFG adere, contrariando mais uma vez a assembleia, ao plebiscito organizado pela Proifes sobre a continuidade da greve. Em todo o país, o plebiscito organizado pela Proifes foi votado por 5.222 professores, 3% da categoria que é de 164.650 docentes nas universidades federais.

Mas, até o momento, as tentativas de desmobilização da greve na UFG têm sido frustradas pela atuação firme dos docentes, técnico-administrativos e estudantes. As três categorias tem levado a greve adiante e proposto sua radicalização.

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Reitoria da UnB ocupada

No último dia 13, os servidores da CAPES — Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior — entraram em greve. No dia 14 foi a vez dos servidores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) aderirem à paralisação. Com a paralisação dos dois órgãos, vários programas de Pós-graduação também pararam as atividades e agora ela se alastra até pelos cursos à distância.

No dia 13 de agosto, os técnicos impediram o funcionamento da reitoria da universidade e, nas unidades acadêmicas, docentes e estudantes estão convocando uma greve de ocupação, como já ocorre em algumas universidades do país. Apesar do cansaço, os grevistas estão otimistas e acreditam que as negociações devem avançar nos próximos dias.

Resistência em defesa da universidade pública

Apenas a Proifes aceitou proposta do gerenciamento Rousseff de achatamento salarial [para entender as propostas do governo federal ver AND nº 93 — 1ª quinzena de agosto de 2012].

Apesar da ação desagregadora dessa federação, que representa apenas sete instituições, cinco dessas universidades “representadas” por ela decidiram pela continuidade da greve. A greve nacional é mantida através de assembleias, mobilizações e ações em 57 das 59 universidades federais de todo o país e em 34 dos 38 institutos federais de educação tecnológica.

No dia 1º de agosto, cerca de cem estudantes do Colégio Pedro II, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, ocuparam o hall do prédio da direção geral da instituição exigindo a suspensão do calendário acadêmico. Os estudantes compõem o comando de greve unificado, do qual também participam professores e funcionários.

No dia 2 de agosto, o Ministério da Educação reafirmou a postura intransigente do gerenciamento Rousseff de não negociar com os grevistas e revelou o golpe tramado entre governo e sua “federação de sindicatos” contra a universidade. O secretário de Educação Superior, Amaro Lins, declarou que o “acordo foi fechado com a Proifes e será enviado ao Congresso Nacional”.

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Reitoria bloqueada na UFBA

“Os termos do acordo estão dados, e vamos sustentar isso no Congresso. O governo não vai mais abrir a negociação” — declarou arrogantemente o Secretário de Educação Profissional e Tecnológica Marco Antônio de Oliveira [fonte: globo.com em 2 de agosto de 2012].

No dia 6, servidores técnico-administrativos da Universidade de Brasília — UnB ocuparam o prédio da reitoria da instituição e bloquearam a entrada de veículos na universidade. Na Universidade Federal do Ceará — UFC , servidores, técnico-administrativos e estudantes fecharam o acesso à reitoria na manhã de 7 de agosto. Os servidores exigem melhoria salarial, revisão do plano de carreiras, reajuste no vale-alimentação e melhorias das condições de trabalho.

No dia seguinte, 8 de agosto, cerca de 150 servidores da UFC também ocuparam a reitoria da universidade. Eles lutam pelo aumento do piso salarial em 22,8% e a correção das pendências da carreira desde 2007. No mesmo dia, professores, estudantes e funcionários ocuparam, durante meia hora, a reitoria da Universidade Federal de Pelotas — UFPel, no Rio Grande do Sul. Um documento com as reivindicações dos grevistas foi entregue antes deles desocuparem o prédio.

Também no dia 8, professores e estudantes em greve da Universidade Federal de Mato Grosso — UFMT e do Instituto Federal de Mato Grosso — IFMT protestaram em frente às obras da Arena Pantanal. “Tem dinheiro para a Copa e não tem para a educação?” — eram os dizeres de uma faixa dos grevistas.

Em 10 de agosto, professores da Universidade Federal da Bahia — UFBA ocuparam a reitoria da instituição. Nesse dia, ocorreram ocupações simultâneas de reitorias em universidades federais de diferentes regiões do país orientadas pelo Comando Nacional de Greve. Durante a ocupação, ocorreram diversas atividades políticas e culturais reunindo estudantes e professores de diversos campi da universidade.

Também no dia 10, dezenas de professores e estudantes ocuparam o saguão do prédio da reitoria do campus da Ilha do Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro — UFRJ. Os técnico-administrativos da universidade cobriram as paredes e pilastras do local com lonas pretas. Antes da ocupação, uma manifestação de estudantes, professores e funcionários bloqueou o trânsito na Linha Vermelha.

Diante de todos essas ações, no dia 10 de agosto, o Advogado Geral da União, Luís Inácio Adams, afirmou que os reitores que não informarem o nome dos grevistas serão responsabilizados por improbidade administrativa. O reitor da Universidade Federal do Piauí já afirmou que irá cumprir o corte do ponto dos grevistas, mas o advogado do sindicato docente do Piauí afirma que o corte não se sustentará legalmente.

Mas os protestos não cessaram e servidores técnico-administrativos da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC bloquearam o acesso à reitoria da universidade no dia 13 de agosto. No dia seguinte, uma faixa de 34 metros foi colocada no Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro com a frase “SOS Greve UFRJ”. É maior faixa de greve do mundo. No dia 6, eles já haviam bloqueado as entradas da universidade. Na ocasião, pneus foram queimados na pista pelos manifestantes.

No dia 15 de agosto, os professores realizaram uma massiva marcha em Brasília, exigindo a reabertura das negociações com a categoria e a apresentação de uma proposta séria por parte do governo.

Até o fechamento dessa edição, as assembleias de greve realizadas nas universidades federais de vários estados haviam rejeitado a proposta do governo e votado a favor da continuidade da greve.

UFBA: a greve continua e sem sindicato pelego

Em 15 de agosto, 217 professores da Universidade Federal da Bahia decidiram em assembleia destituir a diretoria do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia – APUB, ligada à Proifes/CUT.

O sindicato entrou na justiça pedindo que qualquer votação referente à destituição fosse impedida. A liminar foi deferida pela justiça contra os membros do comando de greve, punidos com multa de R$ 5 mil caso procedessem a votação.

Porém, os demais professores tomaram a direção e deram seguimento à assembleia sem a participação dos membros do comando de greve.

A destituição foi aprovada por ampla maioria e em seguida foi eleita uma comissão para dirigir e organizar a eleição para a entidade. Essa foi a resposta ao peleguismo do sindicato durante a greve. Os dirigentes não só se recusavam a cumprir as decisões UFBA: a greve continua e sem sindicato pelego das assembleias como impediam, desde 13 de agosto, a filiação dos docentes ao sindicato.

Agora, o sindicato está movendo uma petição pública contra a destituição de sua diretoria pelega e chama de “golpismo” à decisão soberana da Assembleia. Mas golpismo é o que o sindicato vinha tentando fazer, ao defender as posições governistas em detrimento de sua base sindical e da própria educação. Na UFBA, a greve continua, e agora sem sindicato pelego.

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