O consórcio Conest é composto pela OAS e a Odebrecht, que são responsáveis pela construção das unidades UHDT e UDA da refinaria Abreu e Lima no Complexo Industrial e Petroquímico de Suape. Ali também se instalaram, operando dentro dos mais de 13 mil hectares, outras empresas do ramo da construção pesada, como a gigante Queiroz Galvão e outras terceirizadas, um conjunto variado de transnacionais que abrangem vários ramos de indústrias, além do estaleiro e do complexo portuário.
Neste mosaico de exploração, a concentração de operários é massiva, os salários são miseráveis e os trabalhadores têm seus diretos mais básicos pisoteados.
Um operário da OAS que não quis se identificar relatou: “Nos trazem comida que nem um porco come, é estragada, podre mesmo, até tapurú (larvas) e as moscas ficam rondando e somos obrigados a comer… Além do mais as marmitas vêm com pouca comida e não podemos repetir, é uma pra cada um. Já os encarregados, gerentes, engenheiros e pessoal técnico, comem bem, comem em lugar separado, e a comida deles é sadia, além de poderem comer o quanto quiserem”.
Outro operário da Pampulha Engenharia, terceirizada da Odebrecht, nos conta que enfrentam “uma fila quilométrica com mais ou menos 9 mil companheiros pra almoçar” e que só tem uma hora para comer. Um outro funcionário alega que foi demitido por reclamar da comida, do salário e do pagamento das horas extras. Ao procurar o sindicato: nova decepção.
“Um pedreiro aqui ganha 917,00 R$ e um auxiliar ganha 630,00. Falei pro chefe ontem e por esse motivo fui demitido”. Outro operário denuncia: “sou carpinteiro e recebo R$ 792,00… na mesma OAS, na obra de duplicação da BR 101, ganham mais de 900,00 R$ e é pertinho daqui …trabalhamos 9 horas ou mais e não recebemos hora extra”.
O aspecto que mais nos chamou atenção é o da militarização do trabalho, lei do silêncio e as revistas humilhantes. Tudo é controlado e vigiado. Há polícia privada e PMs por todos os lados. Existe também um “Dialogo Diário de Segurança”. “O governo na televisão fala que Suape é uma maravilha”, nos conta outro trabalhador.
A expropriação e expulsão dos camponeses pobres
Ao longo dos 13 mil hectares do complexo industrial e petroquímico de Suape, existiam famílias de posseiros que foram expulsas de suas terras e centenas de camponeses pobres que ainda estão dispersos nos vilarejos e arruados dos antigos engenhos. Moradores dos engenhos Mercês e Pueirinha, assim como as 48 famílias de camponeses, pescadores e catadores da ilha de Itatuoca sofrem constantes ameaças de expulsão.
A política de indenizações de Suape é a mais desumana imaginável. Quando pagam as indenizações das terras, benfeitorias e casas dos sitiantes pobres, pagam tão pouco que não se garante sua sobrevivência e eles são forçados a migrar para as periferias de Ipojuca, Cabo ou Recife.
“Somos daqui, nascemos e vivemos sempre aqui, eles nos tomaram tudo”, denunciou um morador. Outro acrescentou: “devoraram o mangue, aterraram e tomaram conta da praia e hoje não temos como sobreviver, pescar, etc”.
A Greve no Conest
Os ingredientes que fermentaram a rebelião operária foram a super exploração e a ganância patronal, as condições perversas de trabalho, jornadas prolongadas e alojamentos que mais parecem senzalas.
Os trabalhadores denunciam que o Sindicato dos Trabalhadores na Construção de Estradas, Pavimentação e Terraplenagem em Geral do Estado de Pernambuco – Sintepav, pelego e controlado pelos patrões, agiu como verdadeiro capitão do mato a serviço dos exploradores.
O movimento grevista eclodiu espontaneamente, muito tímido no início, porém sinalizava muita combatividade. Tudo sugeria que ele não iria muito longe, mas foi ganhando força, e rapidamente encurralando os patrões, que tiveram que colocar sua tropa de choque em ação. O Sintepav interviu com caminhão de som em favor dos patrões, intimidando os grevistas e repercutindo as ameaças da classe patronal e os trabalhadores denunciam que provocador ligado ao sindicato pró-patronal teria se infiltrado no protesto disparando contra os grevistas, ferindo um gravemente e matando outro.
“O SINTEPAV (apoiado pela Força Sindical e que não é reconhecido pelos trabalhadores) compareceu na mobilização com o objetivo de acabar com a greve ao invés de defender os trabalhadores. Fazendo o jogo da patronal de forma covarde, um dos capangas de Aldo Amaral, presidente do sindicato, atirou contra os operários que se negaram à volta ao trabalho. Este fato levou um dos operários à morte por infarto, por causa do susto, e dois outros feridos, um no braço e outro na boca. Este último foi removido para o Hospital Português e está sem contato com os companheiros de trabalho.” [fonte: conlutas.org.br]
Os operários impuseram tenaz resistência e a greve se prolongou por dez dias conquistando vitórias políticas, embora parciais, como estabilidade da comissão e dos operários que participaram da greve e um mês para negociar os pontos contidos na pauta de reivindicação.
O exemplo do movimento grevista contagiou trabalhadores de outras empresas e, no dia dia 16 de fevereiro, os operários do estaleiro Atlântico Sul tomaram a iniciativa e organizaram-se, paralisando as operações do estaleiro, motivados por salários atrasados dentre outras reivindicações. Uma só faísca é capaz de incendiar a campina.