Com a economia em recesso e uma queda na produção como há muito tempo não se via, patrões insistem em depositar a culpa e a conta pelos prejuízos da crise nos salários e nas condições de trabalho do proletariado. Enquanto isso, o monopólio dos meios de comunicação e os institutos de pesquisa forjam índices no intuito de "acalmar o mercados" e estimular a população a continuar consumindo. Nesta situação acrescenta-se um novo elemento na chantagem à classe operária, que é a maior ameaça do desemprego. Mesmo assim as greves continuam ocorrendo pelo Brasil e o mundo.
Operários do Gasoduto Norte-Sudeste, BA
Segundo índices divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes à taxa de desemprego mensal, no mês de junho, como nos últimos quatro meses, nova redução foi verificada. Segundo os números, de março a junho de 2009, a diminuição total do índice foi de 1%, chegando a 8% ao final do primeiro semestre. Números forjados desde as fórmulas de cálculo utilizadas para deduzi-los até o objetivo do instituto ao mentir para a população com a cumplicidade do monopólio da imprensa.
A taxa de desemprego "constatada" pelo IBGE abrange apenas os trabalhadores que procuraram emprego nos últimos 30 dias e que elevariam o índice de 8% para 8,6%, se somados aos 120 mil desempregados que não buscaram o mercado de trabalho formal no mês de julho. Se esses trabalhadores fossem incluídos nos seis cálculos da taxa de desemprego mensal referentes ao primeiro semestre de 2009, o índice hoje alcançaria 11,6% ao invés dos 8,1% computados pelo instituto.
Ao contrário das mentiras divulgadas pelo IBGE e ratificadas pelo monopólio dos meios de comunicação indicando melhoras no mercado de trabalho, no mundo real, somente a indústria paulista — a maior do país — apresentou queda na produção de 14,1% no primeiro semestre de 2009 em comparação com o mesmo período do ano passado.
Greve operária
No dia 11 de agosto, em Manaus, mais de 17 mil metalúrgicos de onze empresas diferentes no chamado Pólo de Duas Rodas, deflagraram greve reivindicando 15% de reajuste salarial e denunciando os patrões por submeterem os operários a duras jornadas de trabalho sem pagar-lhes adicional. Vale lembrar que, no inicio de 2009, o governo do Estado concedeu isenção de 25% na alíquota de ICMS durante seis meses para as onze empresas denunciadas. Oito meses depois, nenhum centavo sequer do dinheiro poupado pelos patrões foi revertido em benefícios e reposições salariais para os trabalhadores.
Metalúrgicos de Manaus, AM
Na Bahia, mais de mil operários que trabalham na construção do Gasoduto Sudeste-Nordeste conhecido como Gasene, cruzaram os braços no dia 28 de agosto reivindicando um adicional de periculosidade, que elevaria em 30% seus salários, tendo a seu favor um laudo do Ministério Público do Trabalho confirmando a existência de risco nas atividades dos operários, documento rejeitado pela Petrobras, que não concedeu o adicional e nem ao menos enviou representantes às negociações com os trabalhadores.
Greve nos transportes
Em Águas Lindas de Goiás, no entorno do Distrito Federal, motoristas de ônibus entraram em greve no dia 12 de agosto reinvindicando18% de aumento para motoristas e 60% para cobradores, cesta básica e redução da carga horária diária de sete horas e 40 minutos para seis horas e 20 minutos. No primeiro dia de greve, os trabalhadores se uniram a passageiros, revoltados com as péssimas condições de transporte oferecidas pelas únicas três empresas que prestam o serviço, e realizaram manifestação que fechou o acesso à cidade com o bloqueio da BR-070. Na ocasião, houve confronto com a polícia. Um PM ficou ferido e cinco ônibus foram queimados pela massa como forma de protesto.
No mesmo dia, em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, trabalhadores do transporte rodoviário entraram em greve exigindo reposição salarial de 20%, vale-alimentação de R$ 200 e a presença de cobradores em todos os ônibus da frota municipal, monopolizada pela Viação Canarinho.
Em Belém do Pará, também no dia 12 agosto, rodoviários da empresa Beira Rio cruzaram os braços exigindo a recontratação de 50 motoristas demitidos injustamente e o pagamento de vale-refeição. Os trabalhadores também denunciam os patrões pela imposição de dupla jornada de trabalho sem pagamento de horas extras.
Ônibus queimado na greve de Águas Lindas, GO
— Os motoristas que ficam têm que trabalhar até 19 horas, sem receber nada de hora extra. O tíquete alimentação, que deveria ser pago no quinto dia útil do mês, até agora não foi repassado. Já comunicamos até a Delegacia Regional do Trabalho e o Ministério Público sobre isso e ninguém resolveu nada. Os rodoviários só voltam ao trabalho quando as reivindicações forem atendidas — afirmou o presidente do sindicato, ao jornal O Globo(12/08/2009).
Greve na saúde
No Pará, médicos do Hospital Regional de Santarém entraram em greve no dia 23 de agosto reivindicando o pagamento do salário do mês de abril e dos primeiros dias de maio do ano passado, que um ano depois, ainda não foram pagos, assim como o mês de julho deste ano.
Em Rondônia, técnicos de enfermagem da rede estadual entraram em greve no dia 21 de agosto, exigindo melhores condições de trabalho, revisão de cargos e salários com a inclusão do Certificado das Atividades Especiais.
— Um caminhão de som com cincos pessoas irá percorrer os quatro cantos da cidade, para informar a população sobre o motivo da greve, pois muitos meios de comunicação não estão divulgando os fatos. Tudo isto é para a melhoria do nosso trabalho para com os cidadãos de Porto Velho e estado de Rondônia — afirmou o presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem do Estado de Rondônia, Ângelo Florindo ao jornal eletrônico rondoniaovivo.com.
Greve na educação
Em Alagoas, professores da rede estadual entraram em greve no dia 15 de agosto reivindicando reajuste salarial de 15%, a contratação imediata dos aprovados no concurso público de 2005, melhores condições de trabalho e a recuperação do Centro de Pesquisas Aplicadas (Cepa), cujo parque olímpico está abandonado. Dez dias após o inicio da paralisação, a juíza Ester Manso, da Vara da Fazenda Estadual, criminalizou a greve e ordenou o retorno dos trabalhadores às atividades. Caso contrário, o sindicato da categoria estará sujeito a multa de R$ 20 mil por dia, assim como o desconto dos dias parados nos salários dos grevistas e a abertura de processo administrativo disciplinar por abandono de cargo.
Em Ilhéus, na Bahia, 1.200 professores da rede municipal paralisaram suas atividades no dia 26 de agosto exigindo a liberação dos processos de gratificação e mudança de nível.
Greve no serviço público
Em São Luís do Maranhão, servidores públicos federais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) entraram em greve no dia 25 de agosto, exigindo aumento no valor do ticket alimentação, aumento da contribuição da Fundação de Seguridade Social (Geap) e Plano de Cargos e Carreiras Específico, conforme foi combinado com o Ministério do Planejamento. Os servidores reivindicam plano de carreira desde 1988, e hoje são os trabalhadores com a pior remuneração do serviço público federal.
No EspíritoSanto, servidores da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego também entraram em greve nos municípios de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Aracruz e Colatina reivindicando a elaboração de um plano de carreira específico para a categoria. Posteriormente, trabalhadores do mesmo setor em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Distrito Federal e Rio Grande do Sul também cruzaram os braços.
Como se não bastasse o arrocho salarial imposto pelo patronato aos trabalhadores de todo Brasil, crescem cada vez mais os esforços dos gerenciamentos de turno e suas instituições jurídicas no sentido de criminalizar as greves e mobilizações proletárias, que mesmo assim, continuam se reproduzindo na medida em que cresce a opressão contra os trabalhadores e organizações que lutam pelos seus direitos.
Proletariado mundial de braços cruzados
No México, duas greves agitaram o país no mês de agosto. Dia 8, mais de 3.500 mineiros em Lázaro Cárdenas (Michoacán, sul do país) decretaram greve por tempo indeterminado depois da irredutibilidade da empresa Arcelor Mittal na negociação com os trabalhadores.
Já na cidade de Puebla, cerca de dez mil operários que trabalham na montadora da Volkswagen no México, cruzaram os braços exigindo reajuste salarial de, no mínimo, 8,25%, contra 1% oferecido pela direção da montadora no país.
Na Coréia do Sul, dia 24 de agosto, operários da indústria de pneus Kunho Tires entraram em greve depois que a direção da fábrica anunciou a demissão de 733 dos seus 3.960 trabalhadores, ou 18% do efetivo total. Vale lembrar que no ano passado patrões da Kunho Tires já haviam congelado os salários dos operários que na ocasião, também cruzaram os braços.
Em Portugal, cinco sindicatos de trabalhadores que operam os vôos comerciais no país, da conhecida TAP (Transportes Aéreos Portugueses), entraram em greve por tempo indeterminado no final de agosto. São eles, o sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA), dos Trabalhadores de Aviação e Aeroportos (SITAVA), das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC) e dos Quadros da Aviação Comercial (SQAC). O presidente-executivo da TAP é acusado pelos operários de pretender reduzir direitos trabalhistas, incrementando a precariedade e a insegurança no emprego.
Em Chicago, no USA, trabalhadores da indústria metalúrgica McCoock, uma das maiores do país, entraram em greve no dia 26 de agosto depois que a direção da empresa cancelou o auxílio de saúde dos trabalhadores sem dar-lhes nenhuma explicação.
— Nós operários construímos esta fábrica e achamos que não estão sendo justos conosco. Queremos o nosso seguro de saúde de volta. Depois que os patrões ganham estabilidade, nos chutam, como estão fazendo. Não nos importamos tanto com dinheiro, nós estamos aqui devido a práticas trabalhistas injustas — afirmou a operária Trinidad ao jornal People’s Weekly World.
Dia 28 de agosto, no Camboja, trabalhadores da Sky Factory — uma das maiores indústrias de roupas do mundo — decretaram greve por tempo indeterminado depois que a direção da empresa anunciou uma redução salarial de mil unidades monetárias (riél).
Demitir, assediar e arrochar: praxe patronal
De acordo com números divulgados pelo jornal Valor Econômico do dia 23 de agosto último, somente no primeiro semestre de 2009, cerca de 4,1 milhões de trabalhadores brasileiros perderam o emprego no rastro da crise do capitalismo.
E não é só isso, pois aqueles que continuam empregados sofrem com o assédio moral dos patrões, que inclui humilhações e constrangimentos de forma repetitiva, imposição de jornadas de trabalho abusivas e a flexibilização de diversos outros direitos.
Segundo a tese de doutorado da médica do trabalho Margarida Barreto, da USP1, de 2004 a 2008 o número de denúncias de assédio moral no Ministério Público do Trabalho, somente no Rio de Janeiro, teve um crescimento de 588,2%. Em 2004, 17 patrões foram denunciados; em 2008 o número subiu para 117, e esse ano, somente até o mês de julho, foram abertos 90 processos por assédio moral. Na Bahia, a Petrobras foi condenada a pagar multa de 100 milhões de reais por praticar assédio moral coletivo contra um grupo de trabalhadores.
Segundo o site Assédio moral no trabalho: chega de humilhação2 "a humilhação constitui um risco concreto nas relações de trabalho e na saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, revelando uma das formas mais poderosas de violência nas relações sociais. Sua reposição se realiza ‘invisivelmente’ nas práticas perversas e arrogantes das relações autoritárias na empresa e sociedade. A humilhação repetitiva e prolongada tornou-se prática costumeira no interior das empresas, onde predomina o menosprezo e indiferença pelo sofrimento dos trabalhadores/as, que mesmo adoecidos/as, continuam trabalhando".
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NOTAS:
1 — Assédio moral: a violência sutil — análise epidemiológica e psicossocial no trabalho no Brasil. De Margarida Maria Silveira Barreto. Tese apresentada como exigência parcial para qualificação ao grau de doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2 — Assédio moral no trabalho: chega de humilhação: www.assediomoral.org