Belo Monte: demissões e repressão
Belo Monte: policiais prontos para reprimir os operários em greve
O Consórcio Construtor Belo Monte — CCBM, responsável pelas obras da terceira maior usina hidrelétrica do planeta, na região de Altamira — PA, demitiu cerca de 60 operários que participaram da última greve ocorrida entre 5 e 12 de abril.
Uma das lideranças da greve foi demitida e agredida por um segurança privado do consórcio. Operários que participaram das mobilizações foram perseguidos a partir das imagens de gravações das câmeras de segurança da obra e um deles, além de ser demitido por aparecer nas imagens registradas, foi preso “sem explicação pela Polícia Militar – segundo os trabalhadores, chamada pelo consórcio, enquanto dormia em um dos alojamentos do CCBM” [fonte: xingu-vivo.blogspot.com].
Segundo depoimento dos operários ao blog Xingu Vivo, outros cinco trabalhadores teriam sido demitidos porque assinaram ata de fundação de uma Associação de Operários, seis outros por participarem da comissão da greve e os demais por aparecerem em filmagens realizadas por encarregados do consórcio.
Francenildo Teixeira Farias, carpinteiro e membro da comissão da greve, foi agredido ao pedir explicações sobre sua injusta demissão no escritório do RH da empresa.
— Um segurança tentou tirar meu crachá de todo jeito, querendo me obrigar a assinar a quita [demissão]. Eu disse que não, que não aceitava porque não era uma demissão justa. Aí ele veio pra cima e me deu um soco na nuca – relatou Francenildo ao Xingu Vivo.
Várias outras denúncias de perseguições e agressões têm sido divulgadas, principalmente através de blogs e veículos ligados a ONGs atuantes na região Amazônica. O blog Xingu Vivo tem dado ampla cobertura aos acontecimentos. Nele, além de outras notícias sobre os recentes acontecimentos em Belo Monte, pode ser lido o relato intitulado “Três dias na vida de Marabazinho”, que conta o calvário de Raimundo Nonato Diniz, 29 anos, soldador, um dos 60 demitidos pelo CCBM.
A greve continua
Apesar de toda a perseguição e repressão, em assembléia realizada no dia 23 de abril, os operários decidiram manter a greve exigindo melhores condições de trabalho, reajuste salarial, aumento no valor da cesta básica, a redução do intervalo entre os períodos de visita à família de seis para três meses, entre outras reivindicações.
Obras da copa paradas
Bahia
Fonte Nova, assembleia mantém paralisação
Em 12 de abril as obras da Arena Fonte Nova, em Salvador – BA, foram paralisadas. Os cerca de 2.900 operários da obra aderiram à greve dos trabalhadores da construção pesada do estado da Bahia. Além da Fonte Nova, as principais obras do estado, como Via Expressa, Via Bahia, Ferrovia Oeste-Leste, Parque Naval, Linha I do Metrô, entre outras, foram paralisadas.
Entre as principais reivindicações dos operários estão o reajuste salarial, o fornecimento de cesta básica pela empresa contratante, plano de saúde e o devido pagamento das horas-extras.
A greve se estendeu durante duas semanas e foi encerrada com conquistas parciais como: reajuste salarial de 10%, o pagamento das horas-extras a 80% aos sábados e o fornecimento de cesta básica no valor de R$180. No dia 26 de abril os trabalhadores retornaram ao trabalho após as assembléias nos canteiros de obras. Os planos de saúde serão negociados com os representantes de cada uma das empresas.
Rio Grande do Norte
No dia 2 de abril os operários da Arena das Dunas, em Natal, deflagraram uma greve que durou 11 dias. Durante a paralisação, eles ainda tiveram de enfrentar uma liminar do Tribunal Regional do Trabalho que determinava o retorno aos canteiros de obras, mas a ordem judicial não foi cumprida.
Os cerca de 600 operários denunciaram as péssimas condições de trabalho e reivindicaram reajuste salarial, entre outras demandas. Os trabalhadores da construção de Natal têm os mais baixos salários entre as 11 cidades-sedes dos jogos de 2014.
Ceará
No dia 16 de abril, após 13 dias de paralisação, os operários do estádio Castelão, em Fortaleza, voltaram ao trabalho.
Com a greve os operários arrancaram reajuste de 150% na cesta básica, passando de R$ 60,00 para R$ 150,00, e reajustes salariais que variaram de 21% para servente, 18% para salário de meio oficial, 14% para oficial, qualificado I e II, além de 11% para as demais funções. As horas extras foram fixadas em 60% para dias úteis e 100% nos fins de semana e feriados, sobre a hora paga normalmente.
Canteiros de obras em revolta
Mais de 150 mil trabalhadores da construção já participaram de greves desde o início do ano. Os números foram tabulados pela Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada – Fenatracop.
O setor da construção concentra 80% das greves ocorridas no Brasil este ano. 75% das mobilizações ocorreram nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde estão localizadas as maiores obras do PAC como as grandes hidrelétricas e refinarias.
Desde fevereiro de 2011 ocorreram 20 paralisações nas obras da copa do mundo.
Greve no comperj continua
Cerca de 15 mil operários paralisam as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro — Comperj desde o dia 9 de abril. Os operários reivindicam melhores condições de trabalho e um reajuste de 12% do piso salarial da categoria, hoje em R$ 860. Os 24 consórcios que constroem o complexo petroquímico oferecem apenas 9% de aumento e reajustes maiores para algumas funções.
Em 25 de abril os operários em greve realizaram uma manifestação em frente à sede da Petrobras, no Largo da Carioca, Centro do Rio de Janeiro.
O contrato dos operários não é diretamente com a Petrobras, e sim com empresas terceirizadas. Nos últimos seis meses os trabalhadores do Comperj já realizaram cinco paralisações.