Quatro meses de greve nas universidades federais
Como prosseguirá a luta em defesa da universidade pública?
A greve dos professores, estudantes e funcionários das universidades federais ultrapassa os quatro meses. A greve é histórica não só pela sua duração, mas, como já destacamos em edições anteriores de AND, pela grande adesão da categoria e número de instituições paralisadas.
Os grevistas enfrentaram o corte do ponto, chantagens e todo tipo de ataque do gerenciamento Rousseff, que se recusou a negociar, e enfrentaram os golpes do oportunismo encastelado em associações de docentes, que a todo tempo sabotou e tentou acabar com a greve. Esses oportunistas foram desmascarados ao longo da luta, destituídos pelas assembleias e derrotados em várias unidades.
No dia 23 de agosto, o Andes protocolou uma contraproposta ao governo federal sobre a reestruturação da carreira docente. No documento, o sindicato manifestou que aceitaria o piso salarial proposto pelo governo de R$ 2.018,77 para professores em início de carreira e regime de trabalho de 20 horas semanais e redução de 5% para 4% os degraus entre níveis remuneratórios, mas reforçava que não abria mão da discussão sobre o plano de carreira. Mas as negociações não avançaram.
No dia 4 de setembro, a assembleia geral dos docentes da Universidade Federal Fluminense – UFF, uma das mais atuantes na greve nacional, já havia aprovado a continuidade da greve.
Antes do fechamento dessa edição de AND, em 9 de setembro, ocorreu mais uma assembleia do Comando Nacional de Greve e foi decidida a sua continuidade. Ainda que parte das universidades tenha decidido pela retomada das aulas, a maioria das representações regionais do Andes-SN e das assembleias locais mantinham-se firmes na defesa da pauta de reivindicações. Em seus comunicados, o Andes apontava a necessidade de, mesmo que a categoria decidisse pelo encerramento da greve, que o fizesse de forma unificada, nacionalmente.
As reivindicações dos estudantes, professores e funcionários seguem pendentes. A greve nacional, apesar da combatividade e resistência de vários setores que sustentaram o caminho das ocupações de reitorias e de prédios das instituições, dos protestos radicalizados, se chocou com um governo intransigente e truculento que se recusou a negociar com os grevistas.
A luta prossegue regionalmente, em cada unidade. Vários núcleos combativos se conformaram a partir da resistência e luta nos campi. Esses núcleos têm feito seus balanços parciais e vários deles apontam para a necessidade de uma luta ainda maior, mais radicalizada, para quebrar a intransigência do governo, derrotar as posições capituladoras e traidoras e enfrentar a grave crise atravessada pela universidade pública brasileira.
Servidores federais em greve
Após impor arrocho, governo pagará dias parados
A greve dos servidores públicos federais ainda tem seus desdobramentos. A maioria das categorias já voltou ao trabalho, mas ainda há os que resistem e lutam por direitos.
O ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, declarou, em 31 de agosto, que o governo seria rigoroso no controle de ponto dos servidores públicos que não aceitassem a proposta do Executivo de reajuste salarial e decidissem manter a greve.
“Quem aceitou, aceitou. Quem não aceitou, é legítimo não aceitar, é legítimo reivindicar, agora não é legítimo incorrer em abusos. Nós continuaremos sendo rigorosos no controle do ponto dos servidores que, declarando-se em greve, não compareçam porque acham que a greve é legítima”, ameaçou mais uma vez.
Fazendo frente aos ataques do governo, os servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra decidiram, em assembleia realizada no dia 4 de setembro, manter a greve que já caminha para os três meses. Os funcionários do instituto exigem a reabertura das negociações e uma nova proposta do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão que atenda às reivindicações da categoria. Os trabalhadores do Incra denunciam a insustentabilidade de prosseguirem trabalhando sob tão precárias condições.
Segundo Reginaldo Marcos Aguiar, diretor nacional da Confederação Nacional das Associações dos Servidores do Incra, até o final da gerência Dilma Rousseff, dos 5,5 mil funcionários na ativa, mais de 2 mil estarão em condições de se aposentar. “Com o orçamento que temos hoje, não conseguimos fazer várias ações, como assentar famílias e regularizar terras como a de quilombolas. Temos péssimas condições de trabalho, salário ruim e orçamento insuficiente” [fonte: noticias.terra.com.br em 4 de setembro de 2012].
Servidores do judiciário do Mato Grosso, Bahia, Alagoas e Ceará também permaneciam em greve até o fechamento dessa edição do jornal.
No dia 11 de setembro, após muito ameaçar, mas já com grande parte das categorias de volta ao trabalho, o gerenciamento Rousseff anunciou que efetuaria, no dia 12 de setembro, os depósitos referentes a 50% dos dias parados nas contas de 8.932 servidores do Executivo que fizeram greve. Os outros 50% serão creditados na conta dos servidores tão logo as entidades sindicais apresentem o cronograma de reposição.
O pagamento dos dias parados é fruto da luta dos servidores, foi uma das exigências das categorias para que retornassem ao trabalho terminada a paralisação. Nesse momento, a suposta “volta atrás” do governo sobre o pagamento dos dias parados cheira mais a chantagem sobre os que ainda não retornaram para que todos se curvem às suas imposições do que um arroubo de benevolência.
Pará
12 mil operários da construção em greve
Assembleia dos operários da construção civil que decidiu pela greve
Em 3 de setembro, em assembleia geral da categoria, os operários da construção civil de Belém, Ananindeua, Marituba e Barcarena, municípios do estado do Pará, entraram em greve por tempo indeterminado. Nesse dia, a capital Belém foi movimentada por protestos e mobilizações nos canteiros de obras. Cerca de 400 trabalhadores interditaram nesse mesmo dia a rodovia Augusto Montenegro.
Os trabalhadores exigem reajuste salarial de 16% e aumentos específicos nos pisos salariais da categoria. Hoje o salário dos oficiais é R$ 900 e o dos serventes R$ 650. Os operários também reivindicam cesta básica, melhores condições de trabalho e o direito a eleição de delegados sindicais de base.
A categoria também sustenta reivindicações específicas para as mulheres, entre as quais: qualificação e classificação profissional (hoje as mulheres são contratadas como serventes mesmo tendo qualificação de eletricista, serralheira, oficial, etc.). As operárias também lutam por licença maternidade de seis meses e creches.
Entre os dias 4 e 7 de setembro, ocorreram grandes protestos de trabalhadores em diversos pontos da cidade. A categoria segue mobilizada exigindo que sua pauta de reivindicações seja atendida.
Lagoa Santa – MG
Mais dois operários vítimas da exploração
Nos últimos dias 28 de agosto e 2 de setembro, mais dois operários foram vítimas das péssimas condições de trabalho e pressões psicológicas que sofrem nas obras das novas instalações do Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (CIAAR), executadas pela Shahin Engenharia, em Lagoa Santa (MG), uma obra do governo federal.
O pedreiro Roberto Gomes da Silva faleceu na noite do dia 28 de agosto após cair da escada e sofrer traumatismo craniano. Roberto chegou a ser levado ao pronto socorro, mas não resistiu. Ele teria chegado embriagado no alojamento. Era dependente alcoólico, assim como muitos outros companheiros de profissão, devido às condições de vida que levava: trabalho pesado, exploração, cumprimento das metas da obra, excesso de produção e falta de pagamento das horas extras.
Já no dia 2 de setembro, o pedreiro pernambucano Josival José de Carvalho, 32, se enforcou em um quarto de hotel no centro de Lagoa Santa. Ele teria solicitado demissão e foi para São Paulo sem o acerto rescisório. Voltou a Lagoa Santa para tentar fazer o seu acerto e a empresa Schahin não permitiu que ele ficasse mais no alojamento da empresa.
Revolta e greve na obra do CIAAR
As mortes de Roberto e Josival mostram bem a que nível chega a exploração contra os operários, os levando à doenças e, em alguns casos, ao suicídio.
Revoltados com as péssimas condições de trabalho, no dia 10 de setembro os cerca de 700 operários das obras da CIAAR entraram em greve. Nos dias 7, 8 e 9 de setembro, os trabalhadores se recusaram a comer a alimentação oferecida, que, segundo denúncias deles próprios, estava intragável.
Entre as reivindicações da categoria estão: melhores condições de trabalho, alimentação de qualidade, equiparação salarial, pagamento correto de horas extras, água potável nos alojamentos, entre outras.