Greves e resistência popular todo o país: Sem direitos, sem trégua

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Greves e resistência popular todo o país: Sem direitos, sem trégua

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Vendedores ambulantes protestam em São Paulo

Desde as revoltas operárias nas obras do PAC de março/abril temos um novo auge de lutas de massas em nosso país. Operários da construção, metalúrgicos, bombeiros, trabalhadores em educação das redes estaduais, municipais e privada, docentes, técnicos administrativos e estudantes nas universidades federais e estaduais e nos institutos técnicos federais, efervescência nos canteiros de obras da copa e das olimpíadas, metalúrgicos, bancários, funcionários dos correios. Os trabalhadores em luta não dão trégua aos patrões e aos gerenciamentos de turno, exigem direitos já! A luta de classes se acirra enquanto as greves e lutas por direitos econômicos tem erguido, cada vez mais, palavras de ordem de cunho político, destacadamente nas recentes lutas contra a privatização dos correios e dos aeroportos e na admirável greve dos estudantes e professores da Universidade Federal de Rondônia.

Trabalhadores dos correios enfrentam oportunismo

Os trabalhadores dos correios mantiveram um mês de greve com mobilizações e lutas em diversos pontos do país. Eles lutavam por reajuste e reposição das perdas salariais, por melhores condições de trabalho e também erguiam a palavra de ordem da luta contra a privatização da Empresa Brasileirade Correios e Telégrafos.

A greve se desenvolveu de maneira desigual. Em diversos momentos surgiram denúncias de trabalhadores que acusavam o comando nacional de greve eaFederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares – Fentect, ligada a CUT e a CTB, de tentar vender os interesses da categoria nas rodadas de negociação (o que por fim ficou comprovado).

No dia 5 de outubro, após uma rodada de negociação em que a Fentect anunciou um acordo lesivo aos trabalhadores e o monopólio das comunicações chegou a noticiar o fim da greve, ocorreu uma verdadeira rebelião nas bases da categoria. A proposta de acordo firmada entre o comando de greve e os patrões, além de não atender as principais reivindicações dos grevistas, previa o desconto dos dias parados e impunha jornada extra de trabalho para a compensação dos dias de greve.

Os principais sindicatos dos trabalhadores dos correios em todo o país rechaçaram o acordo e decidiram manter a greve em diversos estados, mas, por fim, ela foi encerrada em 13 de outubro.

Em julgamento, os ministros do Tribunal Superior do Trabalho determinaram um reajuste salarial real de R$ 80 para os trabalhadores a partir de outubro de 2011 e a reposição da inflação de 6,87%, mantendo a imposição da compensação de 21 dias de paralisação que deverão ser cumpridos aos sábados e domingos, além do desconto de sete dias parados no pagamento dos grevistas. Como se pode perceber, o TST determinou justamente o que a Fentect e os patrões já haviam acordado dias antes.

O fim da greve e o retorno ao trabalho não foram decididos pelos trabalhadores e seus sindicatos, mas por manobras dos oportunistas e patrões. As reivindicações dos trabalhadores dos correios permanecem pendentes, e seguem sendo debatidas nas bases, que tem avaliado a necessidade de elevar sua organização e capacidade de luta para as próximas mobilizações.

Aeroportuários contra privatizações

À meia noite do dia 19 de outubro, foi deflagrada a greve dos trabalhadores da Infraero – Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária. Cerca de três mil trabalhadores paralisaram total ou parcialmente o trabalho nos aeroportos de Cumbica (Guarulhos – SP), Viracopos (Campinas-SP) e JK (Brasília).

O protesto de 48 horas foi deflagrado contra a privatização desses aeroportos, prevista para dezembro desse ano.

No primeiro dia de paralisações no aeroporto de Viarcopos, 800 toneladas de cargas deixaram de ser transportadas. De acordo com o Sindicato Nacional dos Aeroportuários, 23 aeronaves de transporte de carga ficaram paradas em Viracopos por volta das 7 horas da manhã sem o serviço de embarque e desembarque.

Em Cumbica, Guarulhos, cerca de 1.500 trabalhadores das áreas de operações, segurança aeroportuária, terminais de cargas e passageiros e programação de voos de Cumbica aderiram à greve. Durante a madrugada em que a greve foi deflagrada, estima-se que 80% dos funcionários aderiram ao movimento.

O balanço anunciado pelo sindicato da categoria foi de que cerca de 80% dos aeroportuários dos terminais de Cumbica, 100% em Viracopos, e 60% do JK aderiram à greve.

O movimento prosseguiu nas 24 horas seguintes e as atividades nos aeroportos foram retomadas pouco a pouco, primeiro em Brasília, depois em Guarulhos. Em Viracopos, o movimento se estendeu até completar as 48 horas.

Desde o anúncio da privatização desses três aeroportos pelo gerenciamento Roussef em maio último, várias medidas já foram adotadas, sem grande alarde, para a sua efetivação.

Em 13 de outubro, a Secretaria de Aviação Civil divulgou os lances mínimos para leilão dos aeroportos. Os valores mínimos anunciados para que os grandes grupos da burguesia desembolsem para a aquisição dos aeroportos, que ainda contarão com possível financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, são de: R$ 2,29 bilhões para o Aeroporto de Guarulhos; R$ 521 milhões para o Aeroporto de Viracopos; e R$ 75 milhões para o Aeroporto de Brasília.

Tomando o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, o maior do País, como exemplo, os R$ 2,29 bilhões do lance mínimo são inferiores aos R$ 3 bilhões estipulados para sua reforma completa para a copa do mundo. Desse modo, um grande grupo capitalista terá o direito de explorar o aeroporto, durante 20 anos, por um valor abaixo daquele gasto pelo gerenciamento de turno do velho Estado.

Em agosto, o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em construção na região metropolitana de Natal, foi privatizado. O gerenciamento Roussef já estuda a privatização dos aeroportos internacionais Galeão-Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e Confins, em Minas Gerais.

Metalúrgicos da Mercedes-Benz em greve

Cerca de 1.500 operários metalúrgicos da Mercedes-Benz, localizada em Juiz de Fora – MG, decidiram, em assembleia realizada no dia 21 de outubro, entrar em greve por tempo indeterminado. Os operários reivindicam reajuste de 10% (7,4 % de inflação acumulada e 2,6 % real) e abono de R$ 2,5 mil, além do piso salarial de R$ 1.441,00.

Rebelião de camelôs em São Paulo

Vendedores ambulantes entraram em confronto com a polícia durante a madrugada e início da manhã de 25 de outubro, no Brás, região central de São Paulo.

A manifestação teve início quando os vendedores foram impedidos pela Polícia Militar de montar suas barracas na Feira da Madrugada. A ordem partiu da subprefeitura da região.

Durante o enfrentamento, para responder as bombas e as balas de borracha da repressão policial, os vendedores atiraram rojões e incendiaram um carro. Centenas de camelôs bloquearam a Rua Oriente com a Rua Barão de Ladário e o acesso da Avenida do Estado para a Rua São Caetano.

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Carro incendiado por camelôs durante protesto no Brás

O mesmo grupo de trabalhadores que ocupou a Rua Oriente iniciou uma passeata pelas ruas do centro de São Paulo em direção à sede da prefeitura. Os vendedores criticam duramente a política de repressão levada a cabo pelo gerente municipal Gilberto Kassab. Pelo menos um vendedor ambulante foi detido e levado ao 12º DP.

No dia 26 as lojas da região da Feira da Madrugada amanheceram fechadas no segundo dia consecutivo de protestos. Os vendedores ambulantes realizavam uma passeata pela Rua Oriente e fizeram com que o comércio baixasse as portas.

A Tropa de Choque e a cavalaria da PM reprimiram os trabalhadores em luta com bombas de gás lacrimogêneo e disparos de armas de fogo.

Os camelôs declararam que irão continuar com os protestos em defesa do seu direito de trabalhar.

Paralisação dos médicos do SUS

No dia 25 de outubro os médicos do Sistema Único de Saúde – SUS realizaram paralisações em todo o país. O movimento atingiu 21 estados, onde os profissionais mobilizados pelo Conselho Federal de Medicina, pela Associação Médica Brasileira e pela Federação Nacional dos Médicos, realizaram protestos.

Estima-se que cerca de 100 mil profissionais participaram das mobilizações. Em alguns estados a paralisação foi total, havendo atendimento apenas das emergências.

Os médicos reivindicam melhores condições de trabalho, a correção das tabelas de consultas do SUS, e reajuste salarial.

Greves nas obras da copa

Operários paralisam canteiro na Arena Pernambuco

Uma greve de 24 horas foi deflagrada no dia 19 de outubro na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, a 16 Km da capital Recife.

Os 1.500 trabalhadores, entre pedreiros, carpinteiros, armadores e operadores de máquinas, reivindicam melhorias nas condições de trabalho na obra sob responsabilidade da empreiteira Odebrecht. Os operários ainda reivindicam aumento na cesta básica, de R$ 80 para R$ 200, hora extra de 70% de segunda a sexta (hoje é de 60%) e de 100% aos sábados, assim como ocorre aos domingos e feriados, além de plano de saúde. Os armadores de andaimes lutam por equiparação salarial com os profissionais da mesma função que trabalham no complexo petroquímico de Suape, que recebem cerca de R$ 1.200, enquanto os da Arena recebem R$ 897,40.

Revolta na Arena do Grêmio

No dia 3 de outubro, o operário José Elias Machado, de 40 anos, foi atropelado no km 94 da BR 290, bem em frente à Arena do Grêmio, em Porto Alegre. A morte do operário, que trabalhava na obra da Arena sob responsabilidade da empreiteira OAS, causou grande revolta entre seus colegas. No momento do atropelamento, ele atravessava a movimentada rodovia que separa a obra do alojamento dos operários e não possui passarela. Sabendo de sua morte, vários operários protestaram no local e foram reprimidos pela Polícia Rodoviária Federal e pela Brigada Militar. Em meio aos protestos, deu-se início a um incêndio no alojamento dos operários, a cerca de 200 metros do local do atropelamento. As forças de repressão vincularam o incêndio com a manifestação dos operários e se apressaram em incriminar um dos trabalhadores.

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Alojamento pega fogo durante protesto de operários

Esses acontecimentos trouxeram a tona uma série de graves problemas nas obras da Arena do Grêmio, que apesar de não ser relacionada como estádio para a disputa de jogos da copa, servirá como local de treinamentos, concentração e também para os jogos da copa das confederações, que antecedem a copa do mundo.

Os operários denunciam más condições de trabalho e falta de segurança para atravessarem a pista para se dirigirem ao alojamento.

Segundo matéria veiculada em correiodopovo.com.br em 5 de outubro, um policial teria declarado que na Arena foram criados dois alojamentos separados, um para trabalhadores vindos da Bahia e outro para trabalhadores de Pernambuco. Ele ainda teria dito que essa é uma prática “comum” da construtora OAS para “evitar brigas”.

AND já noticiou inúmeras matérias sobre o tratamento dado pelas empreiteiras aos operários, particularmente àqueles que são ‘contratados’ por gatos em seus estados de origem, muitos do Norte e Nordeste do país, todos submetidos a condições de trabalho degradantes e até mesmo a trabalho escravo. Nesse caso da Arena do Grêmio, agora há guetos de baianos e pernambucanos e, a trágica morte de um operário é utilizada como mais um elemento para dividir ainda mais a classe operária.

Em resposta a essa grave situação, no dia 5 de outubro, foi noticiado que 150 trabalhadores da empreiteira OAS pediram demissão.

Maracanã: demissões após greves

Após as greves nas obras do Maracanã, os operários sofrem retaliações da patronal. Panfletos distribuídos no canteiro de obras denunciavam demissões de trabalhadores que estariam sendo chamados individualmente até o departamento pessoal e, de lá, já saíam demitidos e escoltados por brutamontes contratados pela empreiteira para impedir protestos.

As reivindicações dos operários levantadas nas greves seguem pendentes e a insatisfação é grande no canteiro de obras. Em seu último boletim, os operários se dirigem à direção do sindicato e cobram que uma atitude seja tomada contra as demissões, caso contrário, uma nova greve poderá ser deflagrada independentemente.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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