O córrego Ypo`i, principal fonte de água de uma comunidade guarani-kaiowá de Paranhos, MS, teria sido propositalmente contaminado por um latifúndio vizinho. Essa é a suspeita dos índios, que filmaram a ocorrência e fizeram uma tentativa de investigação por conta própria.
“Nós seguimos a trilha do riacho até a fazenda, onde vimos dois tambores grandes. Não sabemos o que era. A gente foi pra tirar foto, mas fomos recebidos à bala. Começaram a atirar pra cima e saímos correndo”, contaram.
Para a comunidade, o problema foi causado deliberadamente pelos fazendeiros, para prejudicar os guaranis, que vêm lutando para obter suas terras tradicionais de volta: “Agora não é época de passar veneno. Veneno se usa na época de colheita. E do outro lado é gado, e com gado não se usa veneno. Isso não foi um acidente”, afirmaram os indígenas.
Essa não foi a primeira vez que o latifúndio contaminou aquelas águas, que passam a 200 metros do acampamento dos índios. “Logo no começo, quando estávamos isolados aqui, os fazendeiros jogaram gado morto no rio”, disseram.
E complementaram: “Esse córrego é a nossa principal fonte de água para beber, tomar banho, fazer comida, lavar roupa. Estamos muito assustados”.
Estupro
Também em novembro, dias após o caso da contaminação do rio em Paranhos, o povo guarani-kaiowá do MS foi atingido por outro ataque das classes dominantes. Desta vez no município de Dourados, e no âmbito da (in) justiça.
O inquérito policial contra Jorge Sanches, professor na Missão Evangélica Caiuá, por estupro de uma menor indígena, de 14 anos, foi arquivado. Sanches, um indígena cooptado por evangélicos, saiu impune embora já tenha se envolvido em casos semelhantes.
Uma nota divulgada pelos índios afirma que as diversas violências sofridas por seu povo na luta por reaver suas terras originárias, que hoje já somam 512 guaranis assassinados no MS, também são vivenciadas de forma penosa pelas mulheres.
Assim como a jovem de Dourados, outra indígena de Pyelito Kue, neta de líderes históricos da tribo, estuprada por homens em carro oficial do prefeito de Iguatemi, foram vítimas em meio a um contexto de guerra declarada contra os índios, diz a nota.
E prossegue: a omissão e conivência do governo e do judiciário expõem as mulheres guarani-kaiowá a uma situação de bárbara vulnerabilidade, que lhes fere profundamente a dignidade, e que pode ser usada para impedir que se lancem à continuidade de sua luta. O estupro costuma ser utilizado como arma de guerra para abater violentamente uma comunidade em situações de confronto.
O documento denuncia que os grupos guarani-kaiowá têm sido massacrados pelo Estado brasileiro, que está de mãos dadas com o agronegócio, este armado de jagunços assassinos. Tal aliança, que barra a demarcação e homologação dos territórios ancestrais, está a serviço do capital e tenta impedir a organização dos indígenas. Mas, assegura a nota, o povo guarani-kaiowá não se ajoelhará.
E finaliza: assim como na escravidão dos africanos os senhores cooptavam negros para usá-los para perseguir outros negros, infelizmente o professor Jorge, ao violentar mulheres de seu povo, se tornou um instrumento para massacrar ainda mais a comunidade indígena.
* Fontes: União Campo, Cidade e Floresta; Comitê Internacional de Solidariedade ao Povo Guarani Kaiowá; CIMI.