Guerra civil reacionária amplia morte de camponeses, atesta CPT

Camponeses da Liga dos Camponeses Pobres ocupam prédio da Prefeitura Municipal de Ariquemes (RO), 10/07/2014 (foto: Lenir)

Guerra civil reacionária amplia morte de camponeses, atesta CPT

O relatório anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre violência no campo indicou que 2017 foi ano em que o latifúndio mais assassinou camponeses e defensores da luta pela terra desde 2003. Se no relatório constasse o massacre de cerca de dez indígenas isolados do povo Flecheiro, no Vale do Javari, seria ultrapassado o número de 2003. Isso mostra mais uma vez como a guerra civil reacionária movida pelas classes dominantes atinge profundamente também o campo brasileiro.

Lenir
Camponeses da Liga dos Camponeses Pobres ocupam prédio da Prefeitura Municipal de Ariquemes (RO), 10/07/2014 (foto: Lenir)
Camponeses da Liga dos Camponeses Pobres ocupam prédio da Prefeitura Municipal de Ariquemes (RO), 10/07/2014

A divulgação do relatório vem em meio à ofensiva política e publicitária do latifúndio. Outrora tímido em sua publicidade no monopólio dos meios de comunicação, a semifeudalidade e o atraso agora são expostos como “ pop e tech’’. O discurso pomposo do “agronegócio como o maior setor produtor brasileiro’’ que “escapou da crise’’ é vomitado por quase todo parlamentar e candidato a cargo público quando possível em frente às câmeras. Os promotores de massacres são também desonestos em seu discurso, afinal, a pequena produção camponesa, chamada institucionalmente de agricultura familiar, foi a 8ª maior do mundo no ano passado, de acordo com números levantados pelo Portal “Governo do Brasil”.

Massacres

O relatório da CPT destaca as cinco chacinas ocorridas no ano de 2017: Colniza (MT), Vilhena (RO), Pau D’Arco (PA), Lençóis (BA) e Canutama (AM).

Colniza e Canutama demonstram sobre que bases ocorreu a chamada “modernização do campo’’ que certos setores oportunistas alardeavam durante o gerenciamento de 2003-2016. Ambos ocorridos na chamada “Nova Fronteira Agrícola’’, o primeiro no seio do novo latifúndio contra pequenos proprietários e o outro, segundo suspeitas, efetuado a mando de uma madeireira controlada por uma holding.

O estado do Mato Grosso se destaca pelo crescente número de conflitos. De acordo com a CPT,  cerca de 5,5 mil famílias vivem em áreas de conflito e, pela primeira vez, o estado foi o 4º em número de assassinatos no relatório da organização.

O assassinato de seis camponeses remanescentes de quilombolas em Lençóis, na Bahia, também expõe a violência do latifúndio contra as comunidades tradicionais.

Enquanto isso, em Rondônia, estado da federação que em 2015 e 2016 foi o foco da guerra civil reacionária no campo, ficou em segundo lugar. Lá, a pistolagem atacou apoiadores da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) em Vilhena, sul do estado.

Esse ano o Pará foi o estado com mais assassinatos. O sudoeste do estado foi palco da Chacina de Pau D’Arco, em 24 de maio de 2017, na qual dez camponeses foram assassinados por policiais civis e militares com a cobertura de pistoleiros pagos por latifundiários.

O caminho da luta

“Enganam-se aqueles que acreditam forçar, à bala, os camponeses ao silêncio: a vida demonstrou-nos que isso incita e exacerba ainda mais o movimento revolucionário dos camponeses”, disse o camarada Stalin, em 1906. Nada mais correto hoje! Enquanto em Rondônia a Liga dos Camponeses Pobres segue ocupando terras e em firme luta contra o latifúndio, mesmo sob cruento ataque, o movimento camponês do Pará encarnou ainda mais o espírito revolucionário do campesinato que Stalin mencionou.

Com os companheiros tombados em Pau D’Arco em maio, o campesinato do Pará insurgiu em combativa investida contra o latifúndio e o velho Estado, retomando a fazenda de Santa Lúcia em junho com apoio da LCP, organizando dois congressos camponeses, o primeiro em outubro de 2017 e o segundo em abril de 2018, além de continuar exigindo a punição dos criminosos responsáveis pela chacina e organizando manifestações, debates, etc., que uniram o povo da região na luta pela terra. Destaca-se a LCP, que desempenhou importante papel nesta luta pela terra no Brasil em 2017, com ocupações em Alagoas, Pará, Rondônia e Minas Gerais. Muitos grupos indígenas e quilombolas também seguem o caminho da combatividade apesar dos ataques do velho Estado e do latifúndio. O campesinato brasileiro segue combativo, rompendo sempre que possível com suas direções oportunistas.

O fracasso do latifúndio

O ano de 2017 foi no campo, politicamente, o ano que combinou esgotamento político das direções oportunistas do movimento camponês com a investida reacionária do latifúndio, aproveitando-se do frágil gerenciamento Temer/PMDB para promover os seus interesses de todas as formas, inclusive, com tais massacres.

Porém, a ampla campanha do velho Estado e do latifúndio falhou justamente no palco do seu maior massacre de 2017. Logo ela irá falhar em todo o Brasil. O campesinato, indígenas e remanescentes de quilombolas logo se unirão pela Revolução Agrária e farão tremer os verdadeiros terroristas, ladrões de terra e bandidos desse país.


Bancarrota do oportunismo

Importante também é notar que o relatório da CPT coloca 2017 como o ano com menos ocupações de terra desde o início do levantamento. É preciso louvar aqueles bravos camponeses, homens e mulheres, que não abaixaram a cabeça diante do incremento da guerra civil contra o povo. Além disso, que seja feita a dura e firme crítica aos dirigentes que, durante o gerenciamento do oportunismo, fizeram tudo para desarmar o campesinato de sua combatividade. Lembremos as declarações do oportunista João Pedro Stédile que em 2010, disse que a ocupação de terras “não interessava mais’’ e  considerou “erro político’’ quaisquer manifestações contra a farra da Fifa no Brasil em 2014.

Com o fim ciclo eleitoreiro do PT na gerência do velho Estado em 2016, algumas poucas vozes dentro das direções oportunistas ensaiaram discursos combativos que provaram ser palavras vazias dois anos após o impeachment de Rousseff. Afinal, como o próprio Stédile disse, “ocupação de terras não ganha apoio político [eleitoreiro]”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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