Conquista da Unidade, Varzelândia, Norte de Minas
Incentivados pela debilidade do atual governo em resolver a questão agrária no Brasil, os latifundiários estão empregando o terror como forma de manter seu secular privilégio. Vários acontecimentos registrados país afora comprovam isso.
No Paraná, grandes proprietários de terra criaram o Primeiro Comando Rural (PCR); em Goiás buscam ressuscitar a tristemente célebre UDR (União Democrática Ruralista); em Minas Gerais anunciam a criação do Movimento de Defesa da Propriedade (MDP). Todas estas organizações criminosas contam com centenas de jagunços e estão implantando um regime de terror no campo, visando intimidar e desmobilizar o movimento camponês que luta cada dia mais pela terra.
No Triângulo Mineiro, 17 pistoleiros encapuzados expulsaram 30 famílias da fazenda Inhumas (19 de março).
No Norte de Minas, cerca de 40 pistoleiros atacaram um acampamento de camponeses na fazenda Rio Verde (3 de março).
Em Rondônia, o pequeno sitiante Ozéias Martins de Souza, 19 anos, foi assassinado no Projeto Jascinópolis, em Nova Mamoré, por pistoleiros – a mando do madeireiro Carlos Schumamm, conforme denúncia da Liga dos Camponeses Pobres daquele estado (27 de novembro de 2002).
Em Pernambuco, no município de Tamandaré, o camponês José Cândido da Silva, presidente da Associação dos Assentados de Mascatinho, foi também assassinado a mando de madeireiros.
Policiais envolvidos
Um aspecto revelador do caráter de tais ações realizadas pelos latifundiários: em quase todos os ataques a camponeses, é comum a parceria de jagunços e policiais nas ações. A Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas (LCP) denunciou que no ataque aos camponeses acampados na fazenda Rio Verde, o policial civil "Maurição" e o ex-cabo da PM "Geraldinho" estavam juntos com os jagunços.
No estado de Goiás, município de Nova Crixás, a polícia feriu cinco pessoas e prendeu duas na "desocupação" da fazenda Bandeirantes, dia 11 de março.
Também em Rondônia existem relatos de participação de PMs em ataques a acampamentos de camponeses nas cidades de Theobroma, Corumbiara, Ariquemes, Cujubim e Buritis.
Ministro toma conhecimento
Em audiência com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, acompanhados pelo senador Amir Lando e o deputado federal Eduardo Valverde, de Rondônia, lideranças da Liga dos Camponeses Pobres e Rondônia (LCP), denunciaram os sequestros, torturas, esquartejamento e outros bárbaros assassinatos de camponeses, assim como a presença de policiais à serviço dos latifundiários e madeireiros do estado nesses crimes. Conforme denúncias, mais de 25 pessoas foram torturadas e mortas, e cerca de 40 desapareceram de 1999 até agora.
Justiça compactua com latifúndio
Uma audiência pública no dia 6 de fevereiro, realizada em Colorado d'Oeste-RO (para apurar denúncias contra policiais de Vilhena, Colorado e Corumbiara, onde invadiram uma escola) foi transformada pelo juiz Johny Gustavo, daquela comarca, em uma sessão de acusação aos camponeses da região. Ele impediu o pronunciamento do advogado das vítimas, Dr. João Bressant Filho, apresentou um álbum com centenas de fotografias de lideranças do movimento, presenteando com cópias do mesmo, os latifundiários Maércio Sartor e Alceu Feldmam, mandantes das perseguições aos camponeses da região.
Ainda em Rondônia, o advogado da LCP, Ermógenes Jacinto de Souza foi preso na Procuradoria Geral da República, no estado. Ermógenes acompanhava Ailton Martins, o camponês que cedeu parte de suas terras para abrigar cerca de 1.500 famílias camponesas expulsas de propriedades que lhes pertenciam, no Município de Buritis. Por isso, foi intimado a prestar esclarecimentos na procuradoria. As famílias produziam nessas terras já há 20 anos e possuem os títulos de propriedade das mesmas. O advogado também foi impedido de defender o camponês e, posteriormente,de forma leviana, acusado de desacato à autoridade e preso.
Acampamento Bandeira Vermelha, em Montes Claros
Movimento camponês avança
Todas essas ações perpetradas pelo latifúndio refletem uma clara percepção de que a luta pela terra no Brasil está tomando dimensões perigosas para seu domínio. Em várias regiões do país surgem organizações com programas consequentes para a luta no campo, como a destruição do latifúndio, a libertação e desenvolvimento das forças produtivas.
Mesmo com a traição de parte das lideranças do movimento camponês, que hoje se engalfinham na luta por cargos no governo de Luís Inácio, na ilusão de conseguir gerenciar a apodrecida burocracia a serviço do latifúndio, o movimento camponês avança para tomar toda terra ao latifúndio.
Segundo o jornal O Estado de Minas, de 11 de dezembro de 2002, somente no Norte de Minas havia, na época, 25 fazendas ocupadas por movimentos de luta pela terra. Dessas, 15 estariam sendo coordenadas pela Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas, sete pelo MST e três pela Associação dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (AST). AND, em sua edição de março, publicou matéria intitulada Norte de Minas: Um novo Pontal do Paranapanema?, em que mostrou o receio dos latifundiários quanto ao aumento no número de tomadas de terra na região.
Em 27 de março, aproximadamente 500 membros do MST bloquearam a estrada que liga as cidades de Delmiro Gouveia e Olho D'água do Casado, em Alagoas. Eles exigiam a entrega de 3.500 cestas básicas prometidas aos cerca de 42 acampamentos coordenados pelo MST no estado e a prestação de contas sobre o destino de um milhão de reais, destinados a um projeto de irrigação na região, além de maior rapidez no processo de desapropriação das áreas ocupadas. A quantia foi desviada, acusam. Durante a ação, os camponeses detiveram o secretário de Agricultura do Estado – Reinaldo Falcão -, liberado logo depois.
No Pará, a sede do Incra de Marabá foi ocupada por cerca de 2.500 camponeses, liderados pelo MST, que não concordavam com a nomeação da ex-vereadora do PT, Bernadete Ten Caten para superintendente do órgão. Eles queriam que o superintendente fosse outro petista, um membro da Comissão Pastoral de Terra (CPT), José Batista Gonçalves.
Depois de 16 dias de ocupação, os dirigentes do MST concordaram em desistir da indicação à Superintendência em troca de cargos de gerência e outros favores no próprio Incra. Hoje, somente no sul do Pará, existem 70 latifúndios ocupados por aproximadamente sete mil camponeses.
No Pontal do Paranapanema, os camponeses continuam produzindo e movimentando a economia das cidades da região, tirando-as do atraso da estagnação em que o latifúndio as submeteu. Os latifundiários que ainda restam no pontal seguem intensificando a formação de milícias armadas para combater os camponeses. Apesar disso, José Rainha, líder do povo da região, promete nova onda de ocupações.