No último 6 de julho foi divulgada a identificação da ossada do militante do PCdoB e combatente da Guerrilha do Araguaia, Bergson Gurjão Farias.
A identificação de Bergson, 13 anos após a identificação da ossada de Maria Lúcia Petit, também guerrilheira do Araguaia, foi realizada graças ao empenho da pesquisadora Myrian Luiz Alves, com o auxílio de equipamentos modernos para análise de DNA.
No entanto, a própria pesquisadora, em entrevista ao Estado de S. Paulo de 12 de julho, nega que o reconhecimento das ossadas dos combatentes do Araguaia seja tão demorado por problemas tecnológicos.
— A partir do histórico de seu sepultamento e exumação, análise de seu esqueleto, suas características físicas, entre outras constatações, médicos legistas ou não legistas consultados ao longo dos anos por essa pesquisa ficavam admirados com a falta de procedimentos. Foram muitas as denúncias publicadas pela imprensa. A desculpa era sempre mais uma mentira. Como a de agora, que vem a público dizer que dependeu de renovação tecnológica. Uma irresponsabilidade e uma ofensa à história, à ciência e à sociedade brasileira (…) — protestou a pesquisadora. [Estado de S. Paulo, 12 de julho de 2009].
Bergson Gurjão nasceu em 17 de maio de 1947, em Fortaleza — CE. Ele cursou Química na Universidade Federal do Ceará e foi vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes, em 1967. Foi preso no Congresso da UNE, em lbiúna, 1968, e expulso da Faculdade com base no Decreto-lei 477. Indiciado no inquérito por participação no XXX Congresso da UNE, foi condenado em 1° de julho de 1969 pelo CPJ do Exército a 2 anos de reclusão.
Na clandestinidade, transferiu-se para Caianos — PA ingressando nas Forças Guerrilheiras do Araguaia.
Bergson foi o primeiro guerrilheiro do Araguaia morto em combate. Ele tombou aos 25 anos enquanto dava cobertura à retirada de seus companheiros que foram surpreendidos por um grupo de pára-quedistas do Exército.
Conta-gotas de Curió
O reconhecimento dos restos de Bergson se deu em meio a uma série de reportagens publicadas pelo Estado de S. Paulo a partir de entrevistas e arquivos pessoais de Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o Major Curió, que ficou marcado como o elemento mais conhecido do Exército na repressão à Guerrilha do Araguaia. Ele ainda comandou o garimpo de Serra Pelada, chegando a construir um pequeno vilarejo batizado Curionópolis. Enriqueceu sobre o rio de sangue dos pobres que correu no estado do Pará ao longo dos últimos anos.
Recentemente, Curió decidiu fazer "revelações" e abriu uma caixa dizendo ter decidido revelar informações do Araguaia, romper um "pacto de silêncio" dos militares envolvidos na repressão ao movimento guerrilheiro e aos camponeses.
Mas o fato é que o major Curió vem soltando, ao longo dos anos, informações já pisadas sobre os assassinatos e torturas dos militantes do PCdoB e dos camponeses da região. Uma forma de demonstrar às Forças Armadas e aos subsequentes gerentes de turno que ele tem com o que barganhar sua miserável e manchada vida.
Guerrilheiros foram executados
A série de reportagens serviu para dar expectativas às famílias dos guerrilheiros mortos, que foram inclusive impedidas de participar das expedições de "busca" às ossadas dos combatentes do Araguaia, iniciadas no último 8 de julho pelo ministro da Defesa Nelson Jobim sob a alegação de que os familiares "são parte interessada como outros autores contra a união". O ministro ainda declarou que é contrário à punição de torturadores e de militares envolvidos nas mortes de guerrilheiros, "que estariam amparados pela Lei de Anistia de 1979" (Estadão de 10 de julho). O curioso é que a outra parte interessada (em que os corpos não apareçam), o governo e o Exército, são quem estão realizando a "procura" pelos locais onde os corpos foram enterrados.
Em três expedições em anos anteriores foram recolhidas 12 ossadas, todas colocadas sob guarda do Ministério da Justiça. Bergson Gurjão foi apenas o segundo a ser identificado.
A mala de Curió tem servido apenas como pequenos indícios materiais dos crimes militares cometidos durante a repressão à Guerrilha. Os relatórios mostrados como "revelações" de Curió contam que 41 guerrilheiros foram executados pelo Exército, e não os 25 que antes eram contados.
Vitória Grabois, integrante do Grupo Tortura Nunca Mais — RJ, é filha de Maurício Grabois, o "Velho Mário", comandante da Guerrilha do Araguaia, irmã de André Grabois, combatente da Guerrilha, e à época era esposa de Gilberto Olímpio Maria, também combatente do Araguaia. Ela denunciou que a ocorrência de novas buscas e surgimento de novos elementos sobre o Araguaia nesse momento se deve apenas ao fato de o governo brasileiro ter sido posto como réu na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização de Estados Americanos) devido à repressão sanguinária do Exército ao movimento e aos camponeses da região.
As reportagens do Estado de S. Paulo são apenas a promoção de um livro "revelador" que Curió anunciou pretender publicar, onde devem figurar passagens tão reacionárias quanto suas declarações ao jornal, onde, assumindo a ação assassina do Exército, afirmou que "num arrozal, quando se capina, não se corta a erva daninha só pelo caule. É preciso arrancá-la pela raiz, para que não brote novamente".
E o revisionista PCdoB dos renegados João Amazonas e Renato Rabelo, o que diz a respeito disso? Conivente com toda a política do gerenciamento de turno do velho Estado, o PCdoB de hoje está mais empenhado em proteger o Estado criminoso do que em revelar e condenar seus crimes.