Em protesto, manifestantes incendeiam condomínio Carpet Right
No dia 4 de agosto de 2011 o jovem Mark Duggan, 29, foi assassinado pela polícia de Londres na região de Tottenham. Mark estava em um táxi quando foi baleado e morto em uma situação sem muita explicação. Dois dias depois um protesto com 300 pessoas em frente a estação policial de Tottenham deu início à maior onda de protestos na Inglaterra desde o começo dos anos 80.
Os jogos olímpicos de Londres não foram suficientes para impedir a memória do protesto popular mais intenso das últimas décadas. No dia 6 de agosto os jornais de Londres estampavam fotos de carros, comércios e prédios em chamas, como lembrança dos ocorridos no verão de 2011. A população e também turistas das olimpíadas liam nos metrôs e relembravam como um protesto contra a morte de um jovem pela polícia adquiriu proporções gigantescas e deixou em alerta todo o país. As causas do protesto seguem vivas e com o aprofundamento da crise econômica, refletida em mais de 20% dos jovens entre 16 e 24 anos desempregados no país, é grande a apreensão e a sensação de que os motins podem voltar a qualquer momento, ainda mais avassaladores.
Como tudo aconteceu
A morte de Mark Duggan foi o estopim da efervescente revolta que se espalhou por vários bairros de Londres e cidades inglesas. Rapidamente a imprensa britânica tratou de disseminar versões confusas sobre as reais causas dessa revolta. Em meio aos protestos os jovens denunciavam condições de vida insuportáveis como consequência do crescente desemprego, corte de direitos e alta dos preços (ver box). Dia após dia, com o crescimento da revolta, os grandes jornais britânicos não se cansavam de apresentar números de pessoas presas, lojas saqueadas, carros e prédios incendiados, mas nenhuma profunda análise sobre as bases sociais que legitimaram essa incendiária revolta. As populações das cidades de Manchester, Liverpool, Bristol e Birmingham se juntaram à revolta que no dia 8 de agosto já apresentava dezenas de milhares de jovens nas ruas.
Com os rostos tapados, pedras, garrafas e molotovs, os jovens enfrentavam a polícia e deixavam um rastro de destruição, incendiando centenas de carros, lojas e prédios. O conflito forçou o primeiro ministro britânico David Cameron a encurtar sua viagem de férias na Itália, e em Londres anunciou um massivo reforço policial contra os protestos.
As cenas da violenta repressão policial contra os jovens ingleses, repercutiram em todo o mundo
Repressão
Neste período a Inglaterra foi palco da maior rebelião popular dos últimos 30 anos no país. Os protestos destamparam uma realidade de grandes contradições que após um ano seguem se agravando (ver box). Os monopólios de imprensa e representantes do Estado se comportavam assustados e diariamente mudavam de discurso. Culparam os imigrantes, a formação de “gangues” e até a educação dos jovens. David Cameron, no dia 11 de agosto, anunciou um pacote de medidas intensificando a repressão contra os protestos, caracterizados como “criminalidade pura e simples”. Naquele momento a Scotland Yard anunciou que já havia prendido 1.500 pessoas e tinha um efetivo extra de 16 mil policiais patrulhando as ruas da capital. Já no dia 12 de agosto os protestos cessaram após brutal repressão policial, mas o clima de revolta ainda circula no sangue da população. Cerca de 700 adolescentes de idade entre 10 e 17 anos foram processados por participarem dos protestos e mais de 200 foram condenados a prisão com pena média de oito meses cada.
A chama segue acesa
De lá pra cá as condições de vida dos europeus são ainda piores. A Grécia presencia fortíssima depressão econômica com milhões protestando contra os nocivos pacotes de austeridade. A Espanha tem sua recessão aprofundada, com desemprego ultrapassando 25% e mais um pacote de corte de direitos anunciado pelo gerenciamento Rajoy em julho. Na cidade francesa de Amien os jovens foram às ruas na noite do dia 18 de agosto em protesto contra o desemprego e a violência policial, onde a gerência “socialista” de Hollande mandou reforçar a repressão. No Reino Unido não é diferente, em meio ao clima de festa que ainda resta do momento pós-olimpíadas, começam a ficar mais aparentes os efeitos da crise. As lembranças das revoltas do verão passado são a referência viva de que o povo não vai ficar imóvel com o aprofundamento da crise do sistema.