Haiti: Exército reacionário brasileiro é atacado

Exército brasileiro lacaio atua na repressão contra o povo haitiano, 2007

Haiti: Exército reacionário brasileiro é atacado

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Tropas do Exército reacionário brasileiro foram cercadas e atacadas por três dias consecutivos em Port-de-Paix, noroeste do Haiti, entre os dias 21 e 23/08. Os confrontos com grupos de haitianos ocorreram ao redor de uma base que está sendo desativada pelas tropas de ocupação da ONU (Minustah) a serviço dos ianques.

Exército brasileiro lacaio atua na repressão contra o povo haitiano, 2007
Exército brasileiro lacaio atua na repressão contra o povo haitiano, 2007

O grupo de haitianos, pelo menos 15 pessoas, tentou tomar a base e expulsar as tropas invasoras. Os ataques ocorreram por três dias seguidos e deixaram isoladas as tropas brasileiras.

Segundo pronunciamento do comandante da ocupação reacionária, o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, os haitianos chegaram a incendiar o entorno da base. “Eles deram pedradas no sentinela e nos militares”, afirmou.

A Minustah encerrará suas atividades no dia 15 de outubro de 2017, no entanto, as tropas brasileiras já encerraram suas operações poucos dias após o ataque, em 31/08.

Com a retirada dos militares, a ONU já anunciou que lançará mão de outra “missão”, denominada Minujusth (“Missão das Nações Unidas para o Apoio à Justiça no Haiti”, na sigla em francês). Essa nova investida contará com um contingente de 1.200 policiais e civis que cuidarão de “treinar a polícia local” e “reforçar o sistema judiciário do país”, disse a ONU em nota.

O Exército brasileiro foi “convidado” para integrar mais 10 ocupações promovidas sob a chancela da ONU. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, apontou como tendência participar da ocupação criminosa que ocorre na República Centro-Africana.

13 anos de ocupação pró-ianque

O Haiti foi o primeiro país a declarar-se independente e a abolir a escravidão de negros na América, resultado de uma revolução democrático-burguesa que contou com a imensa participação das massas escravizadas e que depois não se concluiu. A vitória e a independência ocorreram em 1804, quando as massas expulsaram o poderoso Exército francês. Desde então, a nação é historicamente massacrada pelas potências coloniais e depois imperialistas, que sufocaram o país e passaram a dominá-lo.

A ocupação militar da ONU no Haiti iniciou-se em 1º de junho de 2004, por proposta do USA, aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU. A decisão foi emitida em 30 de abril do mesmo ano.

As tropas de ocupação cumpriram nesses 13 anos o papel de lacaios do USA, comandando todo o operativo militar e cumprindo o plano ianque de “estabilizar” o país para a exploração imperialista. As tropas brasileiras foram enviadas pelo gerenciamento oportunista de Luiz Inácio/PT, que viu no Haiti um laboratório para treinar suas tropas reacionárias que interviriam nas favelas do Rio de Janeiro.

Toda essa mostra de submissão iniciada pelo serviçal Luiz Inácio/PT, mantida por Dilma/PT e pelo bandido Temer/PMDB custou até setembro de 2016 mais de R$ 2,5 bilhões ao Brasil, segundo dados oficiais.

Pelo menos 37,5 mil militares estrangeiros atuaram na ocupação do Haiti.

A “missão” foi estabelecida sob a frágil retórica de “pacificar” o país. À época, tal como hoje, o Haiti padecia de gravíssima crise econômica, política e era terreno fértil para uma guerra civil. Isto, somado à luta das massas que protagonizam violentos protestos para sobreviver em meio ao caos, impunham prejuízo ao pleno funcionamento das empresas e corporações transnacionais, principalmente as ianques, que exploram a nação e o povo haitianos.

O papel de repressão às massas das tropas estrangeiras no Haiti fica patente em muitos episódios.

Em abril de 2008, por exemplo, milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra o aumento galopante dos preços dos alimentos básicos como arroz, e contra a ocupação do país. Na ocasião, os invasores mataram cinco trabalhadores haitianos e feriram outras dezenas.

Em setembro de 2011, centenas de trabalhadores e jovens haitianos protagonizaram histórico protesto contra as tropas estrangeiras, em Porto Príncipe. Na ocasião, acabara de vazar um vídeo onde fuzileiros navais uruguaios torturavam um jovem e o violentavam sexualmente, enquanto gargalhavam da situação. Gritando “Fora estupradores!” e com cartazes denunciando os militares como “força de ocupação”, os haitianos entraram em violento confronto com a polícia local. “Eles precisam ir embora, ou declararemos guerra contra eles”, disparou à época o manifestante Simon Mourin, 30 anos, em entrevista à Reuters.

Hoje, ao fim da missão, o Haiti está afundado numa crise ainda mais profunda. A “missão humanitária”, além de agravar todos os problemas do país, ainda criou novos problemas humanitários. Hoje o Haiti está devastado e sofreu com uma epidemia de cólera trazida pelas tropas de ocupação provenientes do Nepal, que espalhou-se pelo país em 2010 e matou 200 mil pessoas.

Haitianos exigem retirada das tropas invasoras após epidemia de cólera em 2010
Haitianos exigem retirada das tropas invasoras após epidemia de cólera em 2010

Abusos, humilhação, violência

Nesses 13 anos, as tropas do Exército reacionário brasileiro foram acusadas de praticarem todo tipo de crimes, como estupros contra mulheres e crianças. Segundo denúncias, os militares brasileiros chegaram a chantagear mulheres, oferecendo comida em troca de sexo. As denúncias foram reveladas por investigações da própria ONU, divulgadas pela agência AP em abril deste ano.

A jovem haitiana Janila Jean foi uma das vítimas. Ela denuncia que em 2014, então com 16 anos e virgem, foi coagida pela conduta criminosa dos militares brasileiros a trocar sexo por comida. Ela foi brutalmente estuprada sob a mira das armas. Ela conta que ficou grávida e, evidentemente, desenvolveu problemas para se relacionar com a criança. Segundo investigações, outras três jovens teriam sido estupradas naquele mesmo local e dia.

Uma outra jovem, em depoimento aos investigadores da ONU, afirmou que entre os seus 12 e 15 anos foi estuprada por mais de 50 militares da “missão”, entre eles um comandante. Ela relatou que recebeu US$ 0,70 após o crime. Entre 2004 e 2016, a ONU registrou no Haiti 150 denúncias de estupro e coação contras soldados estrangeiros, incluindo do Exército brasileiro.

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