Haiti: Uma rebelião da pobreza

Haiti: Uma rebelião da pobreza

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Manifestação em frente a embaixada ianque no Haiti

A luta popular que se desenvolve no Haiti mostra mais uma vez que a América Latina é uma região em plena explosão social onde as massas pobres engendram respostas violentas contra a injustiça, a fome e a corrupção. Pelo menos 68 mortos e uma centena de feridos: este é o resultado da violência que já dura uma semana neste país1. A situação é de “insurreição popular armada”, qualificam alguns observadores políticos. Uma dúzia de pessoas está em poder dos rebelados.

A rebelião se iniciou no dia 5 de fevereiro, quinta-feira, e em seu caminho caíram incendiados quartéis policiais e instituições do Estado. O detonante desta revolta popular tem sido a mistura explosiva da fome, da pobreza extrema, a corrupção e a repressão policial imposta por um odiado governo nas mãos de um títere do imperialismo norte-americano. A maioria da população vive com menos de um dólar por dia.

Os fatos que ocorrem no Haiti não podem ser analisados à margem da situação social e política do conjunto dos países latino-americanos. Os famintos do Haiti têm as mesmas características e a mesma decisão de lutar que os famintos da Argentina, Brasil, Equador, Peru, Bolívia, onde outros Aristide (Lula, Kirchner, Gutierrez, Mesa, Toledo etc.) atiçam a caldeira e o fôlego de futuras explosões sociais. Agora é o Haiti, amanhã será qualquer outro país, onde através do enfrentamento violento as massas expressarão seu ódio contra uma classe política degenerada e mafiosa.

Enterro simbólido do Fanmi Lavalas, partido do ex-presidente Aristide

No Haiti se mostra dramaticamente a co-participação da esquerda latino-americana para enganar as massas e contribuir para a ascensão ao poder de indivíduos como o atual presidente haitiano2. Este feito, que representa atualmente uma prática nefasta de partidos e organizações políticas que desde uma suposta posição de esquerda induzem as massas a colaborar com mercenários e testas de ferro do imperialismo e dos grupos de poder, não deve passar despercebido. Jean Bertrand Aristide, quando ganhou as eleições presidenciais, em 1990, foi aclamado como o homem da liberdade, da justiça e da democracia. O fórum de São Paulo, que reúne o creme e a nata da esquerda oficial latino-americana, se vestiu de gala para aclamar a vitória de um de seus participantes. Aristide, junto com Frei Betto (atual assessor de Lula) e Leonardo Boff, foram os expositores oficiais da Teologia da Libertação na reunião do Fórum de São Paulo realizada em 1993. Aristide se tornou presidente em 7 de fevereiro de 1991. Esteve no poder por apenas oito meses. Foi tirado por um golpe militar dirigido por Raul Cedras, chefe das forças armadas deste país. Aristide fugiu para a Venezuela e depois foi residir em Washington. O governo norte-americano o autorizou usar os fundos do Estado haitiano, depositados nos bancos dos Estados Unidos. Em três anos Aristide usou de forma ilegal 50 milhões destes fundos. Foi restituído à presidência em 1994, graças à intervenção dos Estados Unidos. Aristides foi re-eleito em novembro de 2000 e começou seu segundo mandato em 2001. Fome, miséria, corrupção e crime são os sinônimos do governo deste ex-sacerdote e militante da Teologia da Libertação.

O Haiti, desde o ponto de vista da análise social, é uma repetição de acontecimentos que se desenvolvem na América Latina há pelo menos 50 anos. Os ingredientes políticos contidos na rebelião haitiana são os mesmos que configuraram as rebeliões em outros países deste subcontinente (Peru, Argentina, Equador, Bolívia, Paraguai e outros). A semelhança nos fatos são como cópias saídas de um laboratório e têm que ver como os planos de dominação dos Estados Unidos e com uma classe política decadente (…). É inútil dizer que o processo de luta social no Haiti tem os mesmos ingredientes de outras rebeliões populares da América Latina, e que no fundamental têm que ver com a espontaneidade das lutas populares (a maior debilidade desta rebelião), e com a bancarrota dos partidos de direita ou de esquerda oficial.

A luta no Haiti, como se deu anteriormente em outros países da América Latina, tem o mesmo selo maléfico da falta de uma organização revolucionária e, por conseguinte, uma carência de estratégia de poder político independente dos partidos oficiais. Em termos gerais, e sem restar méritos políticos à atual rebelião dos pobres haitianos, essa luta será mais uma vez canalizada, não para mudar a situação dos pobres, somente para arrumar as contas internas dos grupos de poder e seus partidos políticos. O campo proletário e o dos oprimidos no Haiti têm que cultivar a tarefa urgente de se organizar em seu próprio partido da classe. Entretanto não se completa esta tarefa própria de revolucionários, o período revolucionário (situação revolucionária em desenvolvimento) que vive este país, assim como toda América Latina, será uma onda passageira que não afetará os interesses fundamentais (o Estado e as riquezas) dos grupos de poder e do imperialismo.


1 13 de Fevereiro de 2004.
2 Jean Bertrand Aristide foi deposto no dia 29 de fevereiro.
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