As diferentes siglas da falsa “esquerda” não conhecem limites em sua desfaçatez. Para esta gente, a máxima “os fins justificam os meios”, que tão bem expressa o seu fisiologismo, vale mais do que qualquer bandeira. O senador Randolfe Rodrigues e o deputado Alessandro Molon, ambos da Rede, que o digam!1 Seus rostos não coram ao posarem de defensores dos “direitos sociais” e contra a “retirada de direitos”, enquanto se apresentam na pocilga parlamentar como os maiores entusiastas da hipócrita cruzada moralizante anticorrupção empreendida pelo Ministério Público e o judiciário. E o que dizer do ilustre trânsfuga Aldo Rebelo (ex-dirigente do revisionista Pecedobê), Ministro da Defesa no último mandato de Dilma Rousseff, que, ao ver o barco afundar, como um rato, mudou-se de mala e cuia para o PSB, partido que durante vários anos compôs a frente oportunista e eleitoreira encabeçada pelo PT, mas que votou em bloco pelo impeachment da ex-gerente Dilma Rousseff?2 Toda a “classe política”, da velha direita declarada e da falsa “esquerda” (quer dizer, nova direita), mesmo os atolados até o pescoço na lama, persegue um único e mesmo objetivo. Primeiro, apresentam-se a si mesmos como os verdadeiros paladinos da “ética” buscando se livrar da espada sobre as suas cabeças, para, logo, tentarem se cacifar eleitoralmente, apontando a corrupção dos outros.
Rebelião popular em Humaitá destrói prédios do velho Estado, 27/10. Crise atiça resposta das massas
Apesar de todo alarde do monopólio de imprensa, a tão louvada Operação “Lava Jato” está numa encruzilhada. Visivelmente, as contradições engendradas pela própria operação e o consequente e inevitável acirramento das disputas entre os diferentes grupos de poder incrustados no velho Estado, turbinados pelo “instituto da delação premiada”, têm imposto dificuldades gigantescas aos planos imperialistas de “grande faxina”. Isto porque, como temos afirmado, além de gerenciar os interesses dos monopólios nacionais e estrangeiros e do latifúndio, a chamada “classe política” – nas diferentes siglas e grupos representantes das frações destas classes dominantes, que com o aprofundamento da crise econômica do capitalismo burocrático do país agudizou suas pugnas – defende interesses fisiológicos próprios. Inclusive, a conta da operação “salvamento de Temer” ainda causará muitas dores de cabeça. Nestas circunstâncias e ambiente, no curto e médio prazos, falar em “estabilidade” nos meios palacianos só é possível como delírio. Não é justamente isto o que está sendo revelado no atual imbróglio envolvendo o judiciário e o legislativo com relação à cassação do mandato de Aécio Neves/PSDB?
Material inflamável
As consequências da Operação “Lava Jato” – escândalos, processos, prisões, “delações premiadas” e mais processos e prisões – bem como as manobras para salvamento de políticos no Congresso são a expressão do grau a que chegou a pugna entre as frações das classes dominantes, estas que, ao mesmo tempo, confabulam para desfechar os mais brutais e impiedosos golpes contra os direitos do povo, direitos tão duramente conquistados ao longo de um século de luta do proletariado.
Essa é a situação da luta de classes que desenvolvem os de cima, enquanto que, no mundo da luta de classes dos de baixo, apresenta-se o desafio de desenvolvê-la consciente e mais organizada, uma vez que as bases materiais (aumento da concentração das terras, carestia, desemprego, miséria, corte de direitos etc.) e a própria justificativa política para o crescimento da revolta popular (descrédito no sistema e falta de perspectiva de soluções dentro de seus marcos) avolumam-se exponencialmente, acumulando material inflamável em proporções superiores às que eclodiram nas grandes revoltas populares de junho/julho de 2013. A propósito, os recentes escândalos envolvendo Cabral/Pezão/quadrilha e os magnatas da Fifa não tornam ainda mais justos os protestos da juventude combatente, covardemente criminalizados, violentamente reprimidos e que culminaram em incontáveis prisões políticas e absurdos processos criminais ainda em curso?
Intervenção imperialista
Quando o general Antônio Hamilton Mourão declarou que “ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos ‘os ilícitos’, ou então nós teremos que impor isso”3, trouxe à tona o que, insistentemente, o AND tem denunciado sobre o caráter deliberadamente planificado e contrainsurgente da já declinante Operação “Lava Jato”, dirigida desde o USA no sentido de, como opção primeira do establishment imperialista, salvaguardar as instituições reacionárias do velho Estado apontando os “políticos” como os únicos responsáveis pela podridão de toda a velha ordem.
E não é por coincidência que esta declaração do general Mourão se dá em meio ao incremento desta intervenção – na forma de guerra civil reacionária contra o povo – no Rio de Janeiro (atual baluarte do caos social e da própria falência do sistema político e demais instituições do velho Estado em decomposição). E não é de se estranhar a recente aprovação, pelo Congresso Nacional, de projeto de Lei que desloca para o âmbito da Justiça Militar o julgamento de membros das Forças Armadas atuando em operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem)4, como as que, no atual momento, ocupam favelas no Rio de Janeiro ou as que foram, em larga escala, utilizadas pelo gerenciamento petista contra os protestos populares durante a farra da Fifa.
Em primeiro plano e como opção primeira, o objetivo central da intervenção imperialista ianque no país segue sendo a de conservar o decadente sistema político demoliberal, impondo a sua crescente reacionarização por meio do incremento da guerra civil reacionária em curso, movida pelo velho Estado contra o povo. Mas o establishment imperialista não hesitará em lançar mão dos seus gorilas vende-pátria no momento em que se faça necessário.
O crescimento de opinião pública favorável à nefastas figuras como Bolsonaro ou de movimentos abertamente direitistas como o MBL e de seu guru-mirim Kim Kataguiri são principalmente reflexos desta crescente polarização que emerge da sociedade entre o povo e o velho Estado genocida. Nesta polarização, campanhas como “Diretas Já!” e “Lula 2018” compõem o campo da reação.
Por outro lado, estes personagens da direita, com as suas papagaiadas, não passam de marionetes de forças mais poderosas, dos verdadeiros detentores do poder econômico que, em última instância, são quem comandam todo o sistema político da farsa eleitoral.
Sobre isto, as recentes revelações da troca de mensagens eletrônicas entre lideranças do MBL e executivos do “mercado financeiro” são esclarecedoras5. Aí, mais uma vez, convém seguir os sábios conselhos do grande timoneiro: taticamente, não os subestimemos, enquanto, estrategicamente, saibamos que todos eles não passam de “tigres de papel”!
De fato, no país, fermenta-se e desenvolve-se uma situação revolucionária.
1 – http://justificando.cartacapital.com.br/2017/10/07/esquerda-fashion-punitiva/
2 – www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1759915-psb-e-rede-se-posicionam-a-favor-do-impeachment-de-dilma-rousseff.shtml
3 – www1.folha.uol.com.br/poder/2017/09/1919322-general-do-exercito-ameaca-impor-solucao-para-crise-politica-no-pais.shtml
4 – http://justificando.cartacapital.com.br/2017/10/12/na-mesa-do-presidente-licenca-para-matar/
5 – http://racismoambiental.net.br/2017/10/04/o-grupo-da-mao-invisivel-dois-meses-no-whatsapp-do-mbl/