“… A ganância, a arrogância, a prepotência foi dominando e, em certas partes do mundo, acharam que era possível criar uma só ideologia e dominar tudo. Mas não vingou muito tempo. O nazismo foi derrotado. E assim, na história, o Homem foi acreditando que é possível construir justiça e dignidade, que é a essência da nossa luta.
“Se a gente não acreditasse que era possível ter isso, não acreditava na história. E a história da Humanidade faz com que a gente acredite na mudança. Agente acredita que o homem, o cidadão pode mudar. Se os negros não acreditassem que era possível um dia ser livres, certamente continuariam escravos. É importante destacar, nesta luta pela libertação dos escravos, um homem chamado Espártaco, que, na Antigüidade, enfrentou o império romano e que, morrendo depois em uma cruz, viu sua família passar fugindo e disse: — Eu morro feliz, porque meu filho nunca mais será escravo.
“E nós, se morrermos amanhã, morreremos felizes, porque nossos filhos estão na terra. Nunca mais baterão na porta de um cidadão para pedir esmola e não vão engraxar sapato na rua. Se nós não acreditássemos que esse país seria um dia independente, certamente ainda seríamos uma colônia de Portugal.
“…. E assim se passa, sucessivamente, na história da humanidade. Com luta, com batalhas, com enfrentamentos. E houve quem pensasse diferente… Nós, os homens, somos os construtores da história, porque a gente nasce hoje e morre amanhã produzindo. Mas, um sabido disse que a morte é igual para todo mundo, para o rico e para o pobre. Porém, a morte de um justo tem o peso de uma montanha e a do covarde, de um assassino, pesa menos que uma pena. A nossa luta tem peso, é pesada, e os dias encarcerados que a gente passou, para muitos é vergonha, mas para nós é orgulho, porque a gente está aqui de novo dizendo: a luta continua!
“Mas, certamente, os covardes desta história terão seu destino gravado na memória do povo, que jamais vai esquecer. A história dos que nos perseguem será contada de maneira diferente, nesta cidade e em outros lugares. E já está sendo contada, porque, na medida em que o movimento ganha extensão, que a luta é reconhecida num plenário como esse, e que a liderança do movimento recebe esta homenagem, certamente tocará no coração ou no ouvido daqueles que nos perseguem. E gostaria de dizer: Esse povo não é bandido. Essa gente não é à toa. Essa gente do movimento está aqui em Teodoro Sampaio conduzindo um movimento de trabalhadores com diferenças, com dificuldades, mexendo com povo, mexendo com cabeças diferentes. Mas, o que nós queremos construir para essa sociedade, para o nosso município, é a dignidade. Nós queremos construir o progresso dessa cidade…
"Quero que esta região, que é conhecida como a mais conflituosa, seja conhecida como a mais produtiva em lotes da reforma agrária."
Esse é um trecho do pronunciamento de José Rainha Júnior na entrega do título de Cidadão Honorário de Teodoro Sampaio. Rainha já havia recebido títulos semelhantes em São Paulo, Juiz de Fora e no Estado do Rio, além de outros internacionais. Antes do início das solenidades na Câmara, José Rainha desculpou-se pela frustrada entrevista que deveria ter concedido à AND. O líder camponês necessitava retomar, imediatamente, seus trabalhos junto aos camponeses e atualizar suas informações sobre o movimento. Rainha ainda corre o risco de ser preso novamente, por ordem dos latifundiários. Ou algo pior pode lhe acontecer. Como ser novamente alvejado, enquanto o criminoso sequer é incomodado pela justiça.