Igreja quer manter as mulheres sob a violência da Idade Média

Igreja quer manter as mulheres sob a violência da Idade Média

O aborto legal realizado em uma criança de 9 anos que interrompeu uma gestação de gêmeos desatou uma verdadeira crise de histeria nas classes reacionárias, do alto clero e da semifeudalidade que fizeram dos veículos do monopólio de imprensa verdadeiras tribunas medievais.

O caso trata de uma criança, cuja primeira ovulação ocorrera há quatro meses, com apenas 1,33 metro, pesando 33 quilos, que era estuprada pelo padrasto desde os 6 anos de idade, bem como a sua irmã mais velha, de 14 anos.

O aborto foi realizado pela equipe médica do Centro Integrado Amaury de Medeiros — Cisam — da Universidade de Pernambuco, em Recife, e contou com o apoio dos representantes dos Conselhos Regionais e Sindicatos de Medicina do Nordeste que divulgaram uma nota de apoio à conduta dos médicos declarando que "tal procedimento caracteriza um aborto legal, correto e irrepreensível do ponto de vista técnico e ético".

Mas após esse acontecimento, que salvou a vida de uma criança, contando com o amparo de uma equipe especializada, o que deveria ser direito de todas as mulheres, veio o fato mais estapafúrdio: toda a equipe médica que participou do procedimento e a mãe da criança, que autorizou o aborto, foram excomungadas pelo arcebispo de Olinda e Recife, "Dom" José Cardoso Sobrinho, tudo isso com a ampla defesa da cúpula do Vaticano.

A atitude do bispo só pôde soar como os vapores do período da caça às bruxas e das fogueiras inquisitórias, já que a excomunhão não é coisa que interfira na vida das pessoas. Essa foi mais uma campanha reacionária da instituição religiosa na pretensão de que seus velhos dogmas se sobreponham a tudo, que além da criminalização do aborto, ainda lhe dão conotação de "pecado". O velho Estado reacionário e a igreja, com sua moral feudal e hipócrita, atiram impiedosamente contra as mulheres do povo que, sob esse sistema podre, são alvo de todo tipo de abusos, discriminação, assédio sexual, estupro, espancamentos e do feminicídio. Assim como atacam mulheres vítimas de estupro, como o caso dessa criança em Pernambuco e outros milhares de casos que ocorrem em todo o país, criminalizam também as mulheres que pretendem abortar gestações cujo feto apresenta graves anomalias como a anencefalia (ausência do cérebro). Vide a onda reacionária que varreu o Mato Grosso do Sul, onde o Ministério Público indiciou centenas de mulheres pobres por terem feito o aborto.

Mas esse episódio da excomunhão é outro daqueles que revelam de tempos em tempos o anacronismo da existência de instituições feudais e obscurantistas como a Igreja Católica. São impedimentos do desenvolvimento científico, como a pesquisa com células-tronco e outras, através do lobby religioso no Congresso, a condenação do uso de métodos contraceptivos, do aborto, das mães solteiras e do divórcio, que visam manter a mulher cada vez mais presa a dogmas reacionários, à escravidão e a opressão sexual. Ainda a pretensão de que "a lei de Deus está acima da lei dos homens", tentativa de fazer com que o direito canônico se sobreponha aos códigos dos diversos países. Sem falar que só em 1992 o Vaticano "perdoou" Galileu Galilei do "crime" de ter dito no século XVII que a terra girava em torno do Sol.

E o bispo José Cardoso excomunga os médicos e a mãe da criança. Para a cúpula do Vaticano "as crianças não tinham culpa", nem o "santo" estuprador, que mantém intacta sua integridade religiosa. Grande vantagem. E depois das declarações, ainda somos obrigados a assistir o disse-me-disse da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil — CNBB sobre o que de fato significa uma excomunhão, que "não é bem assim…" e etc. Ora vamos!

Ainda sobre a questão do aborto, que é parte da luta pela emancipação da mulher, há ainda muitas questões que devemos abordar em artigo mais extenso e completo que trate dos aspectos científicos e sobre a própria concepção do embrião humano e seu desenvolvimento até o nascimento do bebê, o direito da mulher sobre seu próprio corpo e a luta contra a criminalização do aborto.

Em pleno século XXI segue a luta contra o obscurantismo, pela desmistificação dos dogmas feudais e pela vitória da verdade científica em favor do povo.

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