Nos países imperialistas, os imigrantes têm sido duramente castigados pela crise geral de superprodução que ora acomete o capitalismo. Castigados não pela crise em si, mas sim pelos ataques especialmente ferozes contra o mundo do trabalho desferidos pelo capital e pelos Estados burgueses no momento em que seus bancos e os monopólios vivem a agonia prolongada de um sistema em franca decomposição.
Neste cenário, os imigrantes, sobretudo os despossuídos da documentação que lhes é cobrada, sofrem de forma especialmente dramática com o trabalho precário e o desemprego.
No USA, o Departamento de Segurança Interior (DHS) anunciou no final do último mês de fevereiro que em janeiro de 2010 nada menos do que 10,8 milhões de estrangeiros viviam ilegalmente em território ianque, a maioria deles mexicanos, salvadorenhos, guatemaltecos e hondurenhos.
Trata-se de um imenso contingente de trabalhadores convenientemente — para os industriais locais — sujeitos ao trabalho ainda mais precário do que aquele regido pelo que resta de direitos e garantias dos chamados trabalhadores formais. Precariedade que se agrava para qualquer trabalhador do planeta, nativo ou estrangeiro, com a exploração sendo incrementada a passos mais ou menos largos neste ou naquele país.
E a questão migratória obedece sempre à mesma lógica no sistema de exploração do homem pelo homem: agora, com o desemprego gerido por Obama à beira de bater nos dois dígitos, arquiteta-se políticas cada vez mais draconianas contra os trabalhadores latino-americanos sem os documentos necessários para o trabalho formal, vide o estado ianque do Arizona, laboratório de legislações xenófobas do USA.
E as leis xenófobas que vão pipocando em várias partes do USA não são feitas para mandar todos os imigrantes ilegais para casa ou para o xadrez, mas sim para ajustar melhor, em tempos de abundância de desempregados nativos com direitos cada vez mais reduzidos, o número de estrangeiros à disposição das empresas ávidas por mão de obra semiescrava.
Uma corajosa greve de fome na Grécia
As difíceis condições para a organização e a luta dos imigrantes, entretanto, não impedem que eles levem a cabo corajosas ações em defesa dos seus direitos ou exigindo novas garantias, mesmo ante toda a xenofobia que encontram pela frente.
Na Grécia, 286 imigrantes ditos “ilegais” encerraram no último dia 9 de março uma greve de fome que durou 44 dias depois de o ministro grego do interior, Yannis Ragoussis, ter se comprometido a satisfazer a maior parte das suas reivindicações. A maioria destes imigrantes é proveniente do Magreb. Eles trabalhavam há vários anos no campo, na ilha de Creta, e recentemente haviam sido despedidos por conta da agudização na Grécia da crise geral do capitalismo.
Os imigrantes conquistaram a redução de doze para oito anos do tempo necessário para a aquisição do título de residência e a extensão do chamado “estado de tolerância”, período no qual o imigrante pode viajar do seu país de origem para a Grécia, e da Grécia para casa, sem correr o risco de ser deportado. Durante a greve, mais de cem imigrantes foram internados, com alguns deles chegando a ficar à beira da morte. A greve de fome dos imigrantes africanos recebeu a solidariedade de diversas organizações, da Grécia e de outros países da Europa, comprometidas com as lutas das classes populares.
O futuro próximo é de grandes dificuldades para os imigrantes africanos na Europa. Nas últimas semanas eles vão chegando em maior número na costa mediterrânea europeia, fugindo da repressão desencadeada nas nações africanas em rebelião, e muitos chefes políticos europeus — dentre os quais alguns que enchem a boca para falar da “espírito hospitaleiro” europeu — já acenam com políticas fascistas para responder à nova situação. Políticas ainda mais fascistas, melhor dizendo, tendo em vista que a União Europeia reserva aos “indocumentados” até mesmo campos de concentração, apelidados de Centros de Permanência Temporária, onde muçulmanos, negros e latinos são duramente castigados pelo “crime” de sair pelo mundo em busca de uma vida melhor.