Há não mais de uma década soavam avalassaradoramente por todo planeta os clarins da "Nova Ordem" imperialista — o fim da história; um mundo unipolar — onde a liberdade, a "democracia burguesa", os "direitos humanos" seriam norma e a paz se imporia sob a guarda da "pax americana".
Todo um conjunto de cientistas políticos, intelectuais que se pensavam marxistas e tenocratas liberais apregoavam suas falsas teorias da caducidade do marxismo e do triunfo do bolorento ideário liberal.
Mas tudo era aparência. A estabilidade da economia capitalista, apresentada como superação dos obstáculos da crise dos anos 70, para solucionar a estagnação da acumulação de capital, expressava tão somente a hegemonia total do capital financeiro monetário e a perda de poder do capital produtivo (industrial).
Os avanços do nível técnico de produção levaram à queda do trabalho que produz valor. Com isso agravaram-se as contradições e aumentou a crise, levando ao desemprego crescente. Milhares de trabalhadores são demitidos todos os dias, calculando-se a perda de 40 milhões de postos de trabalho. Nos países imperialistas, o nível de pobreza alcançou 60 milhões nos Estados Unidos e 50 milhões na União Européia.
A crise do capitalismo é verificada pela queda das taxas médias de crescimento do PIB dos principais países capitalistas nos períodos dos anos 70 em relação aos anos 90 e compõem um quadro de especulação com superprodução; diminuição do emprego, aumento dos estoques, enquanto as operações especulativas alcançaram níveis notáveis.
Em dez anos, tomando-se como base 1986/96, as transações diárias dos setores financeiros passaram de 290 bilhões diários para 326 trilhões de dólares. Isto significa cinqüenta vezes todo o comércio mundial.
Em um artigo de 1º de novembro de 2001, o New York Times, diante das dificuldades para se alcançar acordo entre os membros da OMC desde Seattle, afirma que "os principais países industriais estão padecendo de um raro decaimento econômico simultâneo. Pela primeira vez em duas décadas, o comércio mundial está reduzindo-se. Considerava-se vital um evento de comércio para abrir mercados e estimular o desenvolvimento".
Diante de tal situação e com o agravamento da situação econômica do capitalismo, principalmente nos Estados Unidos, conforme o Documento de Santa FÉ IV (diretivas que deverão ser seguidas pelo governo Bush, formuladas por um grupo de pensadores republicanos) ocorre o 11 de setembro. Tudo se modifica. E a estratégia, até então utilizada para subjugar os povos em luta nos países do terceiro mundo, não com a intervenção direta, mas com a utilização da "guerra de baixa intensidade", de luta contínua não declarada e que consiste basicamente em desaparecimento; execução extrajudicial por grupos paramilitares; uso da tortura e massacres contra populações é substituída pela intervenção direta — a luta contra o terrorismo.
Aqui chegamos: a única forma com que qualquer império, em seus estertores, tenta prolongar sua agonia é fazendo guerra imperialista, por uma nova partilha do mundo. E a potência imperialista hegemônica, compreendendo a situação interna de profunda crise, que ameaça o sistema do seu colapso geral. Por conseqüência, sua condição de hegemonia, o obriga a lançar-se pelo controle das regiões que adiem sua morte inexorável. E apontam, principalmente, para a Ásia Central, o Oriente Médio e a América Latina. Por outro lado, tentam encobrir, não só a contradição com outras potências imperialistas, especificada na União Européia e nas articulações da Rússia com a China, como também as contradições entre as potências imperialistas e os países do terceiro mundo, que são o alvo de seu botim, e as contradições entre o grupo de monopolistas ianques e o povo norte-americano.
Neste momento, em que se agudizam as contradições do mundo, o imperialismo norte-americano vai, através da "guerra contra o terrorismo", estabelecendo bases militares em áreas estratégicas como a Ásia Central, o subcontinente da Índia, em países da antiga URSS, desenvolvendo e ampliando novas bases na América Latina, principalmente no Equador, Colômbia, Bolívia e no Peru. Assim, vai ganhando posições, desenvolvendo com as demais potências imperialistas a relação de conluio e pugna, onde a conluio é principal e a pugna se expressa, no momento, nas áreas de comércio e do protecionismo. Assim, em sua mais profunda e terminal crise, o imperialismo norte-americano, qual um afogado, vai distribuindo golpes, que representam sofrimento, morte e destruição aos povos do mundo e vão clarificando que a "guerra contra o terrorismo" não é outra coisa senão a recolonização dos países do terceiro mundo, indicando a América Latina como principal objetivo, que irá definir nos próximos meses, anos, o aspecto principal da relação conluio e pugna, prevalecendo a pugna no desenvolvimento da crise mundial, indicando como somente os povos do mundo poderão conjurar a guerra mundial que está se engendrando.
Afanando-se em nova guerra mundial, os Estados Unidos, procurando resolver a crise, toma posição em diferentes partes do mundo, que trará modificações na atual divisão geopolítica das potências capitalistas.
Mas, como a guerra imperialista e o fascismo são duas faces da mesma moeda, essa estratégia se expressa no âmbito interno das potências imperialistas em reação brutal contra seu próprio povo e num chauvinismo desenfreado, como mostra a fascistização desses Estados, com o ascenso dos mais direitistas partidos e movimentos nas eleições na Europa e nas medidas do Estado norte-americano, como a suspensão das conquistas do povo e a repressão aos negros e imigrantes. Tudo revela que, apesar das demonstrações de poderio belicista, com facistização crescente, o que existe é a condição de extrema debilidade que a burguesia tem para governar, colocando a descoberto as possibilidades dos povos dos países do terceiro mundo, onde se agudiza a principal das três contradições que existem no mundo hoje — a que se estabelece entre povos e nações oprimidos e imperialismo — a varrer o causador de todos os males, o imperialismo, cruel e opressor, entrando de vez pelo caminho da paz e da concórdia entre os povos.