Favela do Moinho, SP: mais de 50 barracos destruídos pelas chamas
Não é de hoje que as favelas nas grandes cidades são um incômodo para o capital monopolista. O acelerado crescimento da especulação imobiliária no Brasil após a eleição do país como sede da copa do mundo e das olimpíadas tem “coincidido” com uma onda de incêndios justamente nas favelas que ocupam os locais mais cobiçados pela especulação, como o Centro e a zona sul da Cidade de São Paulo. Somente este ano, a defesa civil já registrou 34 incêndios em favelas; todos nessas regiões. Desde 2008, já são 600 incêndios.
Instalada pela câmara de vereadores de São Paulo há mais de seis meses, a CPI dos incêndios em favelas teve a sua primeira reunião apenas no final de agosto. Até agora, das oito reuniões marcadas, cinco foram adiadas por falta de quórum.
No mais novo e polêmico episódio, o fogo destruiu a favela do Moinho, erguida sob o Viaduto Orlando Murgel, na região Central da capital. Na ocasião, um homem morreu e 300 pessoas ficaram desabrigadas. Nossa reportagem conversou por telefone com o líder comunitário da Favela do Moinho, Milton Sales. Ele disse que, quatro dias após o incêndio, o terreno ao lado já estava sendo limpo por uma empresa privada.
— O incêndio foi na segunda. Na sexta, já tinham caminhões derrubando árvores do terreno vizinho e tirando o entulho do incêndio. Vão construir um estacionamento no lugar. E o pior é que isso foi publicado no Diário Oficial faz tempo. A Ceagesp [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo] que fez uma licitação e cedeu o terreno para essa empresa fazer o estacionamento. Eu só sei que a Ceagesp vai ganhar mais de 40 milhões por mês. A gente não vale nada perto dessa quantidade de dinheiro. No mesmo dia, a gente estava tomando porrada, bomba e tiro de bala de borracha da GCM aqui dentro. Isso tudo está muito estranho. E a CPI que criaram não está nem aí para o problema. Eles sempre falam que os incêndios nas favelas são causados por baixa umidade e tempo seco, mas isso tem em tudo quanto é lugar; em Guarulhos, Carapicuíba; porque só em São Paulo favela pega fogo? — pergunta.
— Mesmo que esses incêndios não tenham sido criminosos, a população de São Paulo tem direito a uma moradia digna. Não faz o menor sentido a prefeitura oferecer para as pessoas que ficaram sem casa uma bolsa-aluguel de 300 reais. Isso é um desrespeito. Essa especulação imobiliária está deixando um pouquinho de gente bilionária e destruindo a vida de milhares de pessoas que trabalham duro no dia-a-dia para levar o pão para casa. Eu não acredito mais nesses governos. Essa é a hora do povo fazer um levante e ir para a rua — afirma com convicção.
E não foi a primeira vez que um incêndio suspeito atingiu a favela do Moinho. No dia 22 de dezembro do ano passado, as chamas também atingiram a favela deixando 368 barracos destruídos e 1,5 mil moradores desabrigados.
Na cidade de São Paulo, 3,5 milhões de pessoas vivem em condições miseráveis espalhadas por cerca 1,5 mil favelas. Contudo, dos 574 milhões de reais previstos no orçamento dos gerenciamentos municipal e estadual deste ano para urbanização de favelas, até o dia 31 de agosto foram empenhados apenas 131 milhões e liquidados somente 82 milhões. O equivalente a meros 14,2% do total previsto.