No dia 27 de julho, o povo Tapeba tomou as ruas de Caucaia (região metropolitana de Fortaleza) em protesto contra a impunidade de assassinatos de índios na região, o último dos quais vitimou o jovem trabalhador Tapeba Carlinhos, de 25 anos, que residia na área retomada em abril na aldeia do Trilho, onde era muito querido. Foi assassinado violentamente no dia 30 de junho à golpes de ferro cortante, chegando a ser degolado.
Como era de se esperar o assassinato de um filho do povo não enche as manchetes dos jornais (apenas pequenas notas em jornais locais, escritos e falados) e não se ouve a histeria fascista de fim da violência, aumentar presídios, isolamento, etc, etc, porque as classes dominantes só consideram violência o que as atinge. Se se tratasse de um jornalista famoso, um filho de deputado, um executivo assassinado pelo próprio filho, não se falaria de outra coisa. Mas, para as autoridades de Caucaia, a morte de um índio não pesa mais que a de um cão vira-lata; basta apenas removê-lo da estrada e deixar para lá.
Os Tapeba, no entanto, são um povo em luta por preservar seus costumes, se instruir e retomar suas terras, que foram usurpadas, e não deixa barato as agressões contra sua gente. Centenas de índios se juntaram em Capuan (distrito de Caucaia) e marcharam até a sede do município, distante cerca de 3Km. A manifestação contou com a participação de 10 comunidades (aldeias) Tapeba: Sobradinho, Ponte, Trimbé, Capoeira, Trilho, Capuan, Jardim, Coité, Lagoa I e Lagoa II. Muitos manifestantes estavam em seus trajes tradicionais e destacou-se um grupo de guerreiros dançando o Toré (dança típica) durante todo o percurso, cumprido quase que "no choto" (passo característico da dança). A passeata chamava a atenção por onde passava; a população saía às ruas para olhar aquela gente determinada. Era estimulante ver aqueles homens, mulheres, muitas grávidas e crianças, algumas bem pequenas, exigindo do Estado a apuração dos assassinatos e punição dos responsáveis.
Protestavam contra a irresponsabilidade e o descaso das ditas "autoridades competentes". Não faltou solidariedade: o Comitê Sindical de Apoio esteve presente com representantes de vários sindicatos e o carro de som foi providenciado pelo Sindicato dos Comerciários. Ao final, concentraram-se em frente à Câmara de Vereadores de Caucaia e protestaram contra os políticos, que em época de eleições dizem representar o povo, mas fechadas as urnas o que fazem é se locrupetarem. As falas dos tapeba sempre alertavam que destes políticos nada podemos ter, com as eleições nada podemos mudar e que o povo só pode garantir seus interesses com árdua luta. Antes de mais nada, o que se viu em Caucaia foi a força e a iniciativa de um povo que se levanta contra as injustiças, que sofre contra a impunidade dos que o oprime, mostrando ali que aprendeu a lutar com suas próprias forças, por seus interesses e que não mais será enganado por quem quer que seja.