Jean Charles é o filme que narra o assassinato de um jovem brasileiro residente em Londres pela famosa Scotland Yard. O eletricista é confundido com um agente muçulmano que teria feito uma ação guerrilheira e prepararia outra. Jean Charles é morto com tiros a queima-roupa no metrô. O filme centra em mostrar a vida do jovem e outros imigrantes ilegais na capital britânica e em mostrar que Jean era inocente do que se convencionou chamar de terrorismo. No entanto, é clara a mensagem de que se fosse culpado, poderia ser morto. Vale ressaltar uma cena, já próxima ao final do filme, quando é erguida uma placa, dessas verdes com informações de trânsito, onde se lê
Sabe-se muito bem que a vida de imigrante, particularmente ilegal não é fácil, nem na Europa nem no USA. Trabalho semi-escravo, condições extremamente precárias são apenas exemplos tímidos do que existe. O filme peca em não mostrar isso. Passa, uma visão romântica da imigração numa Londres cheia de brasileiros relativamente bem sucedidos e felizes, com emprego farto.
Pela definição da moda, o que caracteriza o terrorismo é o meio de transporte da bomba. Se ela é entregue às toneladas, de avião, sob um país dominado, trata-se de um ato de guerra, mas se for entregue a pé ou de carro, uns poucos quilos, em países imperialistas, ou em seus interesses nas semicolônias, trata-se de um ato selvagem de terrorismo. No entanto, quem matou Jean foi a polícia e não nenhuma organização em luta contra o imperialismo.
Apesar dos protestos e do pesar da família, nada ocorreu com os policiais responsáveis pela operação. Se o fato ocorresse no Brasil falaria-se de despreparo da polícia, mas como falar tal coisa de uma das "melhores" e mais famosas polícias do mundo? Aliás, é aquela famosa por seus guardas desarmados e pela não violência. Como no Brasil, não se trata de despreparo, mas de política de Estado, onde matar um imigrante ilegal, pobre, no lugar de um agente inimigo não é lá um erro tão grave assim. Vale a pena frisar que para uma equipe bem treinada, matar um jovem desarmado a queima-roupa no lugar de imobiliza-lo e prendê-lo revela duas coisas: o profundo descaso pela vida de imigrantes em geral (racismo) e o apavoramento de quem sabe que o que acontece em seus países é apenas resposta contra as atrocidades cometidas pelos imperialistas ao redor do mundo.
Outro aspecto importante deve ser ressaltado. Suponhamos por um instante que Jean Charles pertencesse a uma das organizações do Iraque ou do Afeganistão, só para citar países onde o imperialismo britânico participou diretamente da ocupação. Caso este agente fosse preso ele seria tratado como prisioneiro de guerra? A resposta é simples, de forma nenhuma. Os britânicos são muito experientes em oprimir outros povos e são pioneiros em implementação de uma política de criminalização da luta contra essa opressão. Já no início do Século XX, na luta para manter a ocupação da Irlanda, o Estado britânico passou a tratar os combatentes do IRA como criminosos comuns, negando-lhes o tratamento de prisioneiros de guerra. Eram processados por assassinato, formação de quadrilha, vandalismo entre outros.
Se Jean Charles era inocente do "crime" de colocar bombas não era inocente do "crime" de não ser inglês bem nascido, de ser pobre, enfim, de não ser um "legítimo" cidadão britânico.